Do Blog do Décio
Por José Inácio*
(…) Mas a alguns é reservado o direito de ter o pragmatismo como a arte da sobrevivência política e ainda serem elogiados por isso.
Faço este preâmbulo para adentrar numa breve análise política do discurso de posse do ex-deputado Flávio Dino na Embratur. Que sabendo da iminência de sua nomeação, utilizou-se de blogs e jornais oposicionistas, para ar a ideia que estava em disputa contra um veto de Sarney a seu nome. Para oportunamente afirmarem: “Flávio Dino derrota Sarney em disputa nacional!”. Camuflando o fato de tornar-se subordinado de um aliado do Sarney e continuar ando a imagem aos “sarneyfóbios” de que não mantém relação com o atual presidente do Senado.
Mas, na verdade, o que motivara o veto foi o fato, que todos sabem, de Dino ter se omitido na campanha presidencial do segundo turno, por melindre, por empolgação com a onda tucana da primeira semana e por seguir orientação do discurso reinaldista que bradava “que derrotar Dilma e Lula era derrotar Sarney”.
Entra em cena a imprensa nacional, que imaginava o dileto deputado, não chegar aos incautos, aos pobres e analfabetos dos rincões maranhenses. Assim pode afirmar com desenvoltura, logo após sua posse, em entrevista concedida ao site da Veja: “No plano nacional, nós integramos o mesmo campo político, que apoia o governo da presidente Dilma. Essa aliança nacional é determinante para que eu transmita a certeza de que nós teremos uma relação cordial, produtiva, eficiente e alinhada com os grandes objetivos estabelecidos pela presidente”. O articulista da Veja sintetiza a entrevista da seguinte forma: Dino falava em “herança maldita” na política estadual. Agora, já ite a relevância de Sarney frente ao Senado.
Vejamos que não há contradição com a afirmativa do articulador político do governo Roseana, o cauteloso secretário Hildo Rocha, em sua página do Facebook, logo após a nomeação do ex-deputado. “Por que esconder o sol com a peneira? É lógico que ele teve o aval político do presidente do Congresso Nacional, José Sarney, para ser nomeado pela presidenta Dilma”.
Será que está se estabelecendo, na contramão do que diria o poeta, o “Consenso de Washington & Cia”, ou realmente Uns Podem e Outros Não? Ou seria tudo isso apenas rumor?
O gesto de Flavio Dino faz soar a “flauta” em todo o Maranhão. Sopram especulações sobre seu futuro político. E em meio às dúvidas, a “flauta” começou a entoar no timbre das eleições de 2012 e 2014.
(…) Retornemos à análise da conjuntura política que definiu a aliança PT-PMDB em 2010. Diante do reconhecimento público, ainda que tardio, da importância da aliança nacional pelo então deputado Flávio Dino, reafirmamos que a CNB-MA (corrente interna do PT) estava correta em sua tática eleitoral. Primeiro porque a prioridade era eleger a presidenta Dilma, segundo porque conseguimos indicar o candidato a vice-governador e ocupamos espaços importantes na esfera de governo que nunca tínhamos tido (Secretarias do Trabalho, Desenvolvimento Social e Educação).
A Vice-Governadoria é um fato, representa poder real, tem uma importância estratégica no jogo sucessório em 2014. Foi nisso que apostamos.
(…) Outro ponto que merece lembrança, é que a eleição da Dilma era prioridade, também, para a Direção Nacional do PCdoB, assim como a recomendação era eleger Flávio Dino senador na chapa com o PCdoB-PT-PMDB. Quem dera pudéssemos retroagir a exatos um ano, ou seja, a junho de 2010, período das convenções. Quem sabe o deputado, com essa nova postura, não teria coragem para acatar a orientação nacional do seu partido, assim como os “questionáveis” petistas locais o fizeram. Digo isso não por mera especulação, mas por informação de uma fonte fidedigna do Território dos Cocais que, no início de março de 2010, em conversa com um coronel da região, o deputado disse não aceitar concorrer ao Senado, não por fidelidade a Zé Reinaldo, mas sim por temor de ser abandonado no meio do caminho, não se eleger, ficar desmoralizado e acabar com sua carreira política.
(…) Já o deputado Bira do Pindaré (PT), talvez com a empolgação da votação (mais de meio milhão de votos) nas eleições de 2006, ou por conta da dúvida em relação às eleições proporcionais, foi mais corajoso e nos minutos finais da prorrogação (digo das convenções) se ofereceu para ser senador na aliança PT-PMDB. Infelizmente as coisas já haviam sido definidas, ficando o gesto nobre do jovem e competente deputado petista.
A incerteza da eleição para o Senado, diferentemente da certeza da nomeação para a Embratur, fez com que Flávio Dino tivesse uma postura diferente da que tem hoje.
(…) Nesse momento vale aqui relembrar a máxima: em política ninguém é o que parece. Sobretudo quando parece o que é.
José Inácio é advogado e membro da Executiva Estadual do PT-MA.