Maranhão Andando Prá Trás*

José Lemos

O IBGE acaba de divulgar os resultados do PIB dos municípios brasileiros para o ano de 2009. Segundo os resultados divulgados, o estado tem o segundo menor PIB médio do Brasil, apenas ficando na frente do Piauí. Em 2009 o PIB per capita anual do estado ficou em R$6.259,43, que equivale a 1,3 salários mínimos daquele ano. O Piauí teve PIB per capita anual de R$6.051,10. Como o que é ruim sempre pode ficar pior, a informação mais dramática que se depreende das estatísticas divulgadas pelo IBGE é que o Maranhao teve a segunda menor taxa de crescimento do PIB médio no período de 2008 a 2009 (2,6%). Apenas Sergipe, no Nordeste, cujo PIB médio em 2009 foi de R$9.795,55 teve taxa de crescimento menor do que o Maranhão naquele lapso de tempo (0,1%). O Piauí teve a maior taxa de aceleração do PIB per capita de todos os estados brasileiros, entre 2008 e 2009. Com base nos dados do IBGE a estimativa que fiz para este estado foi  uma taxa de aceleração de incríveis 12,6%. Com base nessas taxas projeta-se que, quando o IBGE divulgar, no final do próximo ano, o PIB de 2010,  o Maranhão voltará a ser o estado brasileiro com o menor PIB per capita do Brasil.  Em 2010 o valor projetado do PIB per capita maranhense é de apenas R$6.419,18 (equivalente a apenas um salário mínimo anual daquele ano)  e o do Piauí deve ter atingido  R$6.815,34.

Contudo, o rol de informações ruins, retiradas dos dados divulgado pelo IBGE, não param por ai.  Dos cem (100) municípios com menores PIB médios em 2009, vinte e três (23) estavam no Maranhão. Para completar, o município brasileiro com menor PIB per capita é maranhense: São Vicente de Ferrer, cujo valor anual foi de ridículos R$1.929,97, o que equivalia a 39% do salário mínimo anual daquele ano.

Outra informação ruim que se retira dos dados do IBGE é que o PIB maranhense, além de ser baixo, é um dos mais concentrados do Brasil. Com efeito,  em 2009 apenas dezessete (17) municípios tinham PIB per capita  superior a média do estado.

Eu e doze pesquisadores da Ásia e Oceania tivemos o privilegio de conhecer a Coréia do Sul, convidados pelo Governo daquele País, no inicio dos anos noventa. Um País com área de 99,2 mil quilômetros quadrados, portanto, ligeiramente maior que o estado de Pernambuco (98.311 km2) e bem menor,  que os 332 mil Km2  do nosso Maranhão. A população coreana estimada para 2009 era de 48,3 milhões. A Coréia tem menos de um terço da sua área agricultável. Quando lá estivemos, o País ainda não era auto-suficiente na produção de arroz, o principal item da dieta coreana. Era questão de honra para o País virar o milênio atingindo aquele objetivo.  Não mediram esforços. Treinaram jovens coreanos nas melhores universidades do mundo. Desenvolveram um programa arrojado de reforma agrária, em que as famílias rurais não podiam ter menos do que meio hectare e mais do que  três (3) hectares. Adicionalmente, criaram um sofisticado programa de pesquisa agropecuária integrada  aos serviços de assistência técnica, fomento e extensão rural.

Tudo isso, ancorado num dos mais ambiciosos programas educacionais do mundo. Com isso a Coréia tornou-se auto-suficiente na produção do arroz que consome atualmente, eliminou o analfabetismo, elevou a escolaridade média, e hoje está entre os países com os melhores indicadores de desenvolvimento do mundo.

Na contramão do que foi feito na Coréia, os atuais detentores do poder no estado e que governaram durante toda a década de noventa (aquela perdida), primeiro (1997) acabaram com o sistema de agricultura no estado, e com ele a estrutura produtiva no único setor em que o Maranhão tem vantagem comparativa e competitiva. Deixaram a grande maioria dos municípios sem escola de segundo grau. Contribuíram para o estado ter a maior taxa de analfabetos do Pais (19%) e a menor escolaridade média (6,2 anos).

Quando reassumiram o poder, depois do golpe jurídico de abril de 2009, resolveram esquartejar o setor, criando duas secretarias. Fizeram de tal forma que faltam quase todos os tipos de recursos para ambas, e sobram desestímulos para a maioria dos seus técnicos, quase todos contratados em condições precárias, sem vinculo empregatício e recebendo salários indignos. Não obstante, atualmente a Secretaria de Agricultura e a AGERP terem como titulares dois excelentes profissionais e conhecedores do setor, observa-se a letargia da produção agrícola do estado. Não podem fazer milagres, diante da não renovação do quadro de pessoal, tanto de formulação de políticas como de execução. Nada podem fazer, pois sabem que aqueles que ainda estão por lá, pensam em sair, porque sabem que fora dali haverá melhores oportunidades de trabalho e de remuneração. Pobre Maranhão!

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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 17/12/2011

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