José Lemos
Nesta semana começou no Brasil a Conferencia das Nações Unidas. A palavra que mais será falada no evento será “sustentabilidade”. A substância de uma nova ordem global. Será adjetivo, quando qualificar o substantivo desenvolvimento, transformando-o em sustentável, que é o mesmo que permanente, definitivo, ou indefinido no tempo.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável é relativamente novo. Emergiu quando pesquisadores, das mais diferentes ciências, finalmente tomaram consciência que nós, seres humanos, não poderíamos continuar tratando a terra como vínhamos fazendo desde que deixamos de ser meros coletores e nos transformamos em “domadores” da natureza.
O desenvolvimento apenas merecerá o qualitativo de ser sustentável se nós, seres humanos, que atualmente navegamos na nave Terra, conseguirmos ser mais parcimoniosos do que o fomos até aqui, no uso e no manuseio de todos os recursos naturais. Somos os seres que mais destroem o planeta. E o fazemos, contraditoriamente, por nos julgarmos os mais inteligentes dos seres vivos deste maravilhoso Planeta Azul que nos abriga.
O conceito de desenvolvimento sustentável tomou uma dimensão mais relevante a partir de uma outra Conferencia das Nações Unidas, que aconteceu em Oslo, Noruega, em 1987. Naquele evento foi produzido um Relatório que homenageou a Chefe de Governo daquele País, a senhora Grô Brundtland. Pode-se considerar aquele evento como o divisor de águas na consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável.
Algumas das sugestões saídas do “Relatório de Brundtland” são para os países, sobretudo os mais pobres, exercitarem políticas educacionais, de tal forma, que a taxa de fertilidade se reduza de forma mais expressiva. Na explosão demográfica estão alguns dos problemas mais sérios do planeta para buscar o desenvolvimento sustentável. Com o crescimento da população, surge a necessidade de elevar a produção de mais alimentos em áreas que estão ficando reduzidas. A pressão demográfica adensa as cidades, suscita a necessidade de construção de moradias que avançam na direção de espaços que antes se destinavam à produção de comida. Os grandes adensamentos urbanos se contaminam pela explosão de sub-moradias que adentram em áreas que deveriam ser de preservação permanente, como o são os manguesais, as margens dos rios, córregos e as terras íngremes.
Daquele Relatório também surgiram idéias para que a humanidade viabilizasse a utilização de energia limpa. As fontes não renováveis como o petróleo e o carvão mineral, são os grandes vilões na redução da qualidade de vida do nosso planeta. Dali também se extrai uma recomendação, no sentido de que haja controle da urbanização desenfreada das populações. Essa urbanização, sem controle, pressiona serviços já precários nas áreas mais pobres, como saneamento, água potável, coleta de lixo, moradia, transporte…
Mas como fazer isso? Proibindo as populações rurais de emigrarem, ou colocando enormes muros com militares fortemente armados para evitar que as populações rurais cheguem às cidades? Obvio que não. Isso apenas será possível se houver desenvolvimento rural sustentável. Leiam-se, condições adequadas para que as famílias rurais optem em ficar nas suas áreas. Podemos ficar tranqüilos que, caso, hajam condições adequadas de sobrevida nas áreas rurais, as famílias não sentirão a menor atração em emigrar. A promoção do desenvolvimento rural sustentável tem custo bastante reduzido, comparando-se ao ônus que representará para a sociedade a saída desordenada dessa gente para cidades em que, alem de não encontrarem trabalho que lhes remunere ao menos para comer todos os dias, os colocarão em sub-moradias sem a menor condição de vida. Os rapazes ociosos se tornarão presa fácil para o uso de drogas, permissíveis ou não. As meninas serão tentadas a seguirem pelos (des)caminhos tortuosos, perigosos e contaminados da prostituição.
A produção agrícola, sempre impactará o ambiente. Não há como produzir comida sem atividade agrícola. Mas há tecnologias para fazê-lo de forma a impactar minimamente os recursos naturais. É fato que o rendimento de todos os fatores de produção, sobretudo da terra, incrementou de forma substancial nas últimas décadas. Ao ponto de termos comida em quantidade suficiente para alimentar, com folga, os atuais sete bilhões de terráqueos. Não obstante este fato, um sétimo da população do planeta a fome. Mas isso acontece devido a fatores não agronômicos. Alguns deles são: especulações com estoques de alimentos; baixa renda das populações carentes, que se urbanizaram; agricultores sem terra ou com terra insuficiente, sem assistência técnica adequada. Tópicos da maior importância que já haviam emergido no seminal Relatório de Brundtland de 1987. Aquecimento global, economia verde, energia limpa, são temas igualmente relevantes. Contudo, o maior desafio é encontrar caminhos efetivos de inclusão social e de renda dos seres humanos que vivem à margem do progresso da humanidade. Os pobres do mundo. Das áreas rurais ou urbanas.
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*Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Escreve aos sábados para o Jornal O Imparcial de São Luis, Maranhao. http://www.lemos.pro.br
Artigo publicado em 16-06-2012