José Lemos*
Ainda adolescente, concluindo o Curso Colegial, ou Cientifico (nível médio como se diz hoje) no glorioso Liceu Maranhense, eu estava num ime acerca do meu futuro. Gostaria de fazer vestibular para um dos cursos que então eram oferecidos pelas Universidades Maranhenses: Medicina, Farmácia, Odontologia ou Direito.
Qualquer daqueles cursos estava muito distante da minha realidade, pois implicava em mais cinco ou seis anos como dependente de uma renda muito escassa da nossa família. Alem disso, a minha vocação maior era para estudar matemática, física e química. Gostava de biologia, mas não o bastante para dedicar-me a um curso que tivesse naquela disciplina a sua base de sustentação: casos de Medicina e Odontologia.
Eu tinha conseguido comprar, depois de reunir economias dando aulas de matemática, o Livro do Sinésio de Farias (“Curso de Álgebra”). Livro pesado. Literalmente, e em conteúdo. Resolver seus exercícios era objetivo de quem queria dar vôos elevados. Eu os queria, mas esbarrava nas parcas posses familiar.
Sonhei com a coleção, em quatro volumes de livros de Física, do Dalton Gonçalves: Dois volumes de Mecânica, um de Ótica e outro de Eletricidade. Pedi para o meu único irmão, espécie de segundo pai, aquela coleção. Fiz sem muita convicção, é certo, porque era muito cara. Qual não foi a minha grata surpresa quando recebi das mãos dele, os quatro volumes daqueles livros que “faziam a cabeça” dos jovens da minha geração. Aquele foi um dos melhores presentes que ganhei na minha vida.
Aprendi, com o volume dois daquela coleção (Dinâmica), um dos fundamentos que nos ajudam a entender os fenômenos naturais: A “Lei Newtoniana da Gravitação Universal”. A lei recebeu o nome do seu criador, o físico inglês Isaac Newton.
Por essa lei apreende-se que a atração gravitacional da terra atribui peso a todos os objetos. A implicação deste fenômeno é que, qualquer objeto sendo solto de uma determinada altura, sempre será atraído pela terra, e se precipitará em sua direção.
Por causa dela, a terra, e os outros planetas, se mantêm nas suas respectivas órbitas em torno do sol, e a lua permanece em órbita em volta do nosso planeta. Ela é também a responsável pela formação das marés e de tantos outros fenômenos naturais.
E tudo nós demonstrávamos com equações bem conhecidas de quem queria fazer vestibular para entrar num bom curso universitário. Qualquer estudante de nível médio, independente da posição que estivesse no “abcdário” social e econômico, era capaz de enveredar por um mundo daquele, que era um misto de sonhos, magia e realidade. Isto porque as escolas públicas, onde estudávamos, tinham qualidade.
Nada disso se aplica agora, porque os atuais detentores do poder, além de inventores das cotas, do politicamente correto, de ter Ministério da Educação que produz cartilhas que ensinam escrever, e falar errado, também resolveram contrariar a Lei da Gravidade. Agora também se “cai prá cima” no Brasil. Aquelas belas equações encontradas no meu velho livro de Física não tem qualquer validade, ao menos para aqueles que são identificados como estando na Classe “C” pelos governantes de hoje.
Segundo eles, essa gente, na companhia daqueles que se “jactam” em está na Classe “D” e “E”, está “subindo econômica e socialmente”. Pobre Isaac Newton! Ainda bem que não viveu o bastante para vir para estas plagas tropicais e constatar que aquelas leis todas que lhe consumiram anos de estudo, seriam devidamente refugadas por “fundamentos bem mais científicos” no século XXI.
Vejamos a “subida” da Classe “C” no Brasil nestes anos “dourados”. Em 2002, os domicílios onde viviam esses brasileiros, cuja renda domiciliar, varia de dois a cinco salários mínimos, representavam 34,6% dos domicílios brasileiros. Em 2009, já transformados em “turbinadores” da economia brasileira, haviam incrementado para 37,3%. Proeza possível porque, parte daqueles que moravam em domicílios com renda domiciliar variando entre cinco e vinte salários mínimos que, em 2002 representava 26,1% dos domicílios brasileiros, se “aborreceu” e o contingente reduziu para 21,1%.
Portanto, o incremento da classe “C” se deu devido a uma redução, proporcional e absoluta, das classes posicionadas em situação superior. Essa gente agora é “paparicada” com propaganda, crédito consignado, e outras “maravilhas”. Até para comprar automóvel “popular”, pagando a “perder de vista”, literalmente. Isto porque, lá pela quarta “suave” prestação, a concessionária resgata o bem que não foi pago, porque o comprador da classe “C” não conseguiu bancá-la. Perdem de vista e a posse do bem que concorria com os parcos espaços da modesta casa alugada, ou financiada pela Caixa, num bairro periférico, sem água, sem saneamento, sem escola para os filhos. Detalhes irrelevantes, pois estão “felizes” por, finalmente, serem reconhecidos pelos poderosos de ocasião. Caso nada dê certo, sempre haverá a possibilidade de estarem habilitados a receber uma bolsa família, bolsa natalidade… Uma bolsa qualquer coisa e, claro, uma vaga na universidade como “cotista”. Prá que vida melhor?
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*Artigo publicado em 18/08/2012.