‘Sarney e a fome no Socorrão’, artigo de O Globo

sarney-governador-66-350x23137011“O Maranhão não ava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, seus vales úmidos, seus babaçuais ondulantes , de suas fabulosas riquezas (…) com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero…”

Em 1966, o então jovem de 36 anos José Sarney, eleito governador , empolgava o Maranhão com um discurso de posse literariamente contundente, cheio de palavras ásperas, prometendo colocar um fim na miséria e na corrupção que assolavam o Estado.

Ele prometia “mudar a face do Maranhão” e o povo, entusiasmado, aplaudia.

Quem quiser se emocionar com o discurso e com as imagens da pobreza do Estado cuja redenção se iniciava naquela posse, pode entrar no Youtube e digitar:“Maranhão 1966, documentário de Glauber Rocha”, e verá, em pouco mais de 8 minutos, um dos documentos mais chocantes já produzidos sobre a realidade política do País, dirigido pelo talento nascente daquele que viria a ser o mais mítico dos nossos cineastas.

Como poderia imaginar o jovem gênio do cinema que se vivo estivesse, agora, 47 anos depois da posse do governador Sarney, seria possível repetir o documentário com o mesmo roteiro de pobreza e miséria que aquele derramado discurso de posse prometia combater e eliminar.

O Maranhão é hoje, 47 anos depois do início do domínio da oligarquia Sarney, o penúltimo estado no Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, superado apenas pelo tenebroso estado de Alagoas, que já foi comandado também por um ex-presidente da República.

Uma semana atrás, o médico diretor de um hospital público do Maranhão, apelidado de Socorrão I, apareceu num programa de televisão e escreveu no Facebook pedindo à população que doasse alimentos e produtos de limpeza para que o hospital pudesse continuar funcionando.

O hospital é municipal, comporta 128 pacientes mas tem 216 internados, e o descalabro em que está é atribuído ao ex-prefeito João Castelo (PSDB), que acaba de encerrar a sua gestão.

O prefeito que assumiu decretou estado de emergência na saúde pública de São Luis.

O ex-prefeito, cuja maior obra é o estádio de futebol que consagra seu nome no aumentativo-Castelão-apesar de filiado ao PSDB, recebeu o apoio da governadora Roseane Sarney no segundo turno, mas perdeu para um político do obscuro PTC.

O Maranhão definha, e as palavras de José Sarney de 1966 perderam-se no vento, enquanto ele cortava a fita de inauguração da exposição “Modernidade no Senado Federal-Presidência de José Sarney”, paga com dinheiro público, na semana ada,em Brasília.

Dinheiro que poderia comprar comida para os doentes do Socorrão.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: [email protected]

2 respostas em “‘Sarney e a fome no Socorrão’, artigo de O Globo

  1. Ingenuos! Tolos! Alguns maranhenses dizem que não votam no Sarney. Mas votam no sistema de atraso das oligarquias familiares implantada por ele no Maranhão. Isso nos humilha diante dos demais brasileiros. E todos amos por Babacas do Sarney. Chega de políticos ligados ao grupo dos Sarneys. Chega!!!!!!!!!!

    • e uma tristesa ouvir falar que ainda votam para o grupo sarney so tenho e que lamentar chega de sarney pq com os sarneys no comando o maranhao nao vai pra frente

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