Em entrevista ao jornal Valor Econômico, de circulação nacional, o presidente da Embratur Flávio Dino falou sobre a “inflação da Copa”, quando a rede hoteleira brasileira começa a praticar preços muito acima da média devido ao evento esportivo que acontecerá no Brasil no próximo ano.
Na reportagem de capa do imprenso, Flávio Dino alerta que os altos preços cobrados durante a Copa podem caracterizar o Brasil como um “destino caro” frente aos turistas internacionais. No início deste ano, a Embratur atuou junto à Secretaria Nacional do Consumidor e do Ministério da Justiça para evitar o abuso na alta de preços no período da Copa.
Abaixo, a íntegra da matéria:
A “inflação da Copa” chega a 583% em hotéis
As diárias que estão sendo cobradas nas reservas de hotéis para a Copa do Mundo incorporam um aumento de até 583% em relação às verificadas no mês ado. Foi o que concluiu a Embratur após um amplo levantamento nas 12 cidades-sede da Copa de 2014. Segundo a pesquisa, a tarifa média no Rio é de US$ 461, em comparação aos US$ 200 de Johannesburgo, na Copa da África do Sul (2010), e US$ 300 em Berlim, na da Alemanha (2006).
O presidente do Embratur, Flávio Dino, está preocupado com o que os técnicos do órgão estão chamando de “inflação da Copa”. Ele teme que os altos preços dos hotéis possam não só prejudicar as vendas de pacotes para o evento como também fixar a imagem do Brasil como um destino turístico caro. “Isso justamente quando o país deve bater a barreira histórica de 6 milhões de turistas por ano”, disse Dino ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.
Diária de hotel sobe mais de 500% para a Copa, aponta pesquisa da Embratur
Por Raymundo Costa | De Brasília
A Embratur concluiu um amplo levantamento sobre as diárias de hotel a ser cobradas nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo, em 2014, e descobriu variações de até 583%, em relação aos preços cobrados tendo como base o último mês de julho.
O presidente do Embratur, Flávio Dino, está preocupado com o que os técnicos do órgão estão chamando de “inflação da Copa”, que ocorreria com a contaminação dos preços do setor de serviços, a partir das diárias exorbitantes cobradas pelos hotéis.
Além da “inflação da Copa”, os altos preços dos hotéis devem ter impactos, na sequência, para o desenvolvimento do setor turismo no país, com a fixação da imagem do Brasil como a de “um destino turístico caro”, afirma Dino. “Isso justamente quando o país deve bater a barreira histórica de 6 milhões de turistas ao ano”, disse.
Entre 2008 e 2012, houve aumento de 300% na diferença entre a receita do país com os estrangeiros e a despesa dos brasileiros no Exterior. A Embratur teme que a imagem de “país caro” possa atrapalhar as políticas para aumentar o número de turistas no Brasil e tentar equilibrar esses números.
Entre 2008 e 2012, houve aumento de 300% na diferença entre a receita do país com os estrangeiros e a despesa dos brasileiros no Exterior. A Embratur teme que a imagem de “país caro” possa atrapalhar as políticas para aumentar o número de turistas no Brasil e tentar equilibrar esses números.
Sem mecanismos de política de combate à inflação a mãos, o presidente da Embratur enviou um ofício, ainda em junho, para a Secretária Nacional do Consumidor, órgão do Ministério da Justiça com poderes para acionar os Procons. Para a Copa, a tarifa média no Rio de Janeiro é de US$ 461, contra US$ 200 em Johannesburgo, na África do Sul, e US$ 300 em Berlim, na final da Copa da Alemanha, países que sediaram as duas últimas versões da competição de futebol.
No ofício à Secretaria Nacional do Consumidor Flávio Dino é duro com a operadora de viagens da Fifa, que bloqueou grande parte dos quartos disponíveis na rede hoteleira. Os preços cobrados pela agência estariam influindo decisivamente na elevação das tarifas, segundo Dino. “É provável que a operadora Match esteja praticando comissões de intermediação muito acima do que costuma ser praticado no mercado turístico em detrimento dos potenciais consumidores”, diz o presidente da Embratur no ofício.
Em junho, a Embratur fez o mesmo levantamento em nove capitais que terão jogos da Copa de 2014 e encontrou uma variação de diárias de até 376%. O atual levantamento foi realizado em todas as capitais e identificou variações de até 583%, em Salvador, Bahia.
A “inflação da Copa”, termo cunhado na Embratur, é prevista para ocorrer já com o país em plena campanha eleitoral e pode ser um fator de desgaste para o governo. Para o mesmo período é prevista a volta de manifestações como aquelas vistas em junho.
O último levantamento feito pela Embratur faz uma comparação entre os hotéis selecionados já disponíveis para reserva pelo site da FIFA com tarifas em dólar. Em geral as variações em relação a junho, mês em que foi realizada a Copa das Confederações, e até julho e agosto superam a marca dos 100%. O segundo hotel com maior variação também está na capital da Bahia, com um percentual de 397% a mais na diária da Copa em relação ao que era cobrado em julho ado.
No ofício ao Ministério da Justiça, Flávio Dino diz ainda que a FIFA, em conjunto com a Match, impõe exigências de quantidade mínima de diárias para o turista que deseja se acomodar em algum dos hotéis negociados pela operadora supracitada.
Segundo informações da própria operadora, há a exigência de estada mínima de duas noites para qualquer período de reserva durante a Copa do Mundo de 2014, exceto para os jogos da abertura e semifinal, em que se exige mínimo de três noites, e para a final, com estada mínima de quatro noites.
“Como já foi possível observar na Copa das Confederações, o preço elevado das diárias reverbera por todo o setor de serviços, contribuindo para formar uma inflação da Copa”, diz Flávio Dino. “Se o coco custa dez na praia em frente ao hotel, a a valer R$ 20, o preço do camarão vai atrás”, numa reação em cadeia por todo o setor de serviços, segundo Flávio Dino.