Por José Lemos
As relações do ser humano com a natureza são, no geral, muito desrespeitosas. Não temos o menor pejo em sair destruindo o ambiente em que vivemos para mostrar poder, ou tirar algum tipo de vantagem. Nós, que dizemos ser os mais inteligentes entre os seres vivos, usamos esta “inteligência” para provocar estragos no nosso planeta.Caso paremos para observar uma área de vegetação, que está muito tempo sem ser violada por gente, veremos que as espécies vegetais se distribuem de forma harmoniosa e diversificada, de acordo com a adaptação que têm ao ecossistema.
As árvores de porte arbóreo se dirigem para onde estiver a luz do sol. Fazem contorcionismos incríveis para buscar a sua fonte de vida. As outras espécies de menor porte também encontram os seus próprios caminhos para avançarem na direção da luminosidade ou das condições que a sua fisiologia requer para se manterem vivas e reproduzirem.
Nessa lide diária, nos oferecem espetáculos de cores, aromas, formas e nos fornecem, graciosamente, frutos deliciosos e sombra. Atraem pássaros que nos encantam com os seus cantos, abelhas que nos produzem mel, outros animais que se integram ao ambiente e o fazem pulsante, vivo, intenso, belo…
Neste começo de semana estive no município de Morros, aqui no Maranhão, e visitei um povoado por onde a o rio Munim. Naquele microambiente em que estivemos a natureza nos proporciona um espetáculo deslumbrante.
A vegetação é densa e diversificada nas duas margens do rio. Em boa parte daquele espaço as copas das árvores se entrelaçam na parte superior, proporcionando um sombreamento para o espelho d’água cristalina que corre límpida convidando ao banho e à contemplação. Por causa dessa sinergia, naquele espaço, a perda de água do rio pela evaporação, que seria provocada pela luz solar, é mínima.
Tudo ali é harmonioso justamente porque o ser humano ainda não chegou com a sua “inteligência” para modificar. As pessoas simples com quem nós conversamos, e que moram naquelas imediações, descobriram que aquela beleza decorre justamente do fato de elas deixarem a natureza agir de acordo com a sua sabedoria.
O animal mais violento que se conhece, apenas atacará outros animais se for para se alimentar, caso se sinta ameaçado, ou para conseguir conquistar a fêmea no instinto de procriar. Os mais frágeis, as presas, desenvolvem habilidades incrivelmente inteligentes de sobrevivência. Ou estão sempre em grupos, para reduzir a “probabilidade” de ser a próxima vítima do predador, ou produzem camuflagens que os fazem ser confundidos com o ambiente em que estão. O bicho preguiça é um dos exemplos mais interessantes dessa ultima estratégia de sobrevivência.
Contrariamente ao que acontece com os animais, o ser humano é violento por instinto. Os filmes épicos mostram homens se matando em arenas abarrotadas de espectadores vibrando com aqueles atos de violência.
Nos dias de hoje a crônica policial mostra a violência de todos os dias. Homens matando pelo simples prazer de matar. Há aqueles que ceifam vidas de mulheres e que dizem que o fizeram por amor. Como alguém pode amar e destruir o ente amado? Há religiões em que homens matam outros homens em nome de Deus, segundo justificam. Como isso pode ser possível?
Os seres humanos acham bonito criar pássaros em gaiolas. Muitas delas minúsculas. Que prazer alguém sente em ver um pássaro privado da liberdade que lhe é inerente, da companhia de outros pássaros, de uma companheira para acasalar, cantando de tristeza numa gaiola a vida inteira? Seria aquilo um canto ou um desabafo daquele pobre animal? Onde estão o IBAMA e os órgãos estados de fiscalização que são tão rigorosos em outros casos envolvendo animais silvestres e são coniventes com essas atrocidades com os pássaros engaiolados?
Nós, os entes inteligentes, desenvolvemos “esportes” que humilham, maltratam e matam animais, como as touradas, vaquejadas e rodeios. Contudo, um dos exemplos maiores de crueldade dos humanos com os animais é o praticado contra os caranguejos, principalmente os da espécie uçá, esses que são vendidos nas barracas das praias do Nordeste.
Uma das grandes fontes desse crustáceo está no município de Araioses, Maranhão. Ali, boa parte da população rural, por falta de opções, sobrevive da coleta desses infelizes animais que são vendidos aos atravessadores por preços que variam entre R$0,25 a R$0,50 a unidade. Esses animais são amarrados, empilhados e transportados a quilômetros de distância, sem ter qualquer chance de reação.
Nos locais de destino, os que sobrevivem, ficam ainda por algum tempo sem se alimentar, sem hidratação e, em algum momento, serão jogados em caldeirões com água fervendo para logo em seguida serem degustados por gulosos consumidores dessas barracas de praias, ou em restaurantes, onde pagarão preços que chegam a ser de vinte a quarenta vezes superiores aos recebidos pelos humilhados catadores. E somos nós os seres racionais do planeta!