Da Coluna Atos, Fatos & Baratos / Jornal Pequeno
Vivemos, todos nós, séculos de pobreza e miséria no Maranhão. Nos compungimos, entristecemos, sofremos, com a existência de crianças famintas pelo estado afora. Ouvimos os gritos de legiões de pessoas sem hospitais, sem nenhuma assistência médica, qualquer possibilidade de cura e, arrastados por distâncias quilométricas pelos apitos das ambulâncias, muitos morreram no meio do caminho e tiveram que voltar sem vida para casa. Muitos morreram de fome.
E para quê? Para descobrirmos, hoje, que a fome das crianças estava sendo negociada com agiotas, que a saúde pública estava sendo trocada por cheques entregues a criminosos sem alma. Foi difícil até ouvir o pronunciamento do deputado César Pires, na manhã de ontem, na Assembleia Legislativa. Ele esteve em visita ao Sistema de Segurança e lá soube que cheques e outros documentos de 87 prefeituras foram encontrados nas casas dos agiotas, e somente aqueles diretamente envolvidos com o assassinato do jornalista Décio Sá. O número total pode chegar a 123 das 217 prefeituras do Maranhão. Soube mais o deputado, que o sistema bancário, em se tratando do Banco do Brasil, por meio de seus gerentes e outras pessoas, sabia e compartilhava de tudo.
De cada 100 mil reais da merenda escolar, apenas 20 mil chegavam em forma de alimento na boca das crianças. Uma merenda escolar miserável que varia entre 16 e 35 centavos por aluno. O mesmo acontecia com as transferências feitas para a saúde desses municípios. A mesma proporção: 80% para os agiotas, 20% para os doentes do Maranhão. Até valores de emendas parlamentares eram vendidos por prefeitos à agiotagem, disse César Pires.
É a crueldade das crueldades. Eram homens públicos, prefeitos eleitos pelo povo que estavam negociando o alimento das crianças e a saúde do povo. Nada no mundo poderá inocentá-los. Nem suas próprias consciências.
(JM Cunha Santos)