Com a experiência de quem sempre estudou como bolsista, da graduação ao pós-doutorado, em algumas das melhores universidades do mundo, louvo a noticia veiculada nestes dias pelo Governo Federal de que disponibilizará cem mil bolsas para estudantes brasileiros lapidarem-se cientificamente em universidades top de linha do mundo.
Educação é o principal vetor de desenvolvimento. Nenhum País, hoje desenvolvido, alcançou esta condição sem que antes tivesse feito investimentos expressivos em educação. Países que se encontram em processo acelerado de desenvolvimento, dos quais a Coréia do Sul é o exemplo mais cintilante, tem na educação a sua principal âncora.
Eu tive, juntamente com mais doze colegas de dez Países do mundo, o privilegio de fazer um turismo cientifico àquele belo país asiático. amos vinte dias andando de ônibus por toda a sua extensão. Na oportunidade tivemos a oportunidade de visitar todas as instituições fomentadoras do desenvolvimento coreano. Fiquei impressionado com a quantidade de jovens Doutores, boa parte conquistada nas melhores universidades americanas, inglesas e australianas. Aqueles jovens estudaram como bolsistas e estavam retribuindo os pesados investimentos que a população do seu país havia feito para as suas avançadas formações.
O Programa brasileiro terá quarenta mil bolsas a cargo da CAPES, trinta mil pelo CNPq e o restante via iniciativa privada. Acertadamente o governo prioriza áreas como Engenharias, Física, Química, Biologia, Ciências Biomédicas e da Saúde, Tecnologia Aeroespacial, Energias Renováveis. As áreas de ciências e de tecnologias de ponta que realmente fazem o diferencial para o desenvolvimento.
Mas uma das áreas prioritárias que me chamou a atenção é a da “Produção Agrícola Sustentável”. Finalmente, desde os anos setenta, lembraram que produzir alimentos e matérias primas agrícolas é estratégico e prioritário neste Brasil varonil. Num mundo em que a população cresce e as áreas encolhem, o País tem amplas oportunidades de liderar a produção mundial de alimentos. Atualmente já somos sete bilhões de terráqueos. Isso significa que o planeta tem que produzir, todos os dias, ao menos sete bilhões de quilos de alimentos. Para 2050 a projeção é que sejamos dez bilhões. Teremos mais gente precisando alimentar-se num planeta que terá que produzir em áreas, que àquela altura, já serão bem menores, em decorrência da urbanização das populações e da degradação de partes expressivas do solo terrestre.. Um desafio que apenas as Ciências Agronômicas serão capazes de dar resposta.
Os desafios estão ai para serem superados com inteligência, competência e sabedoria. As demandas mundiais requerem energias alternativas. Esta linha de conhecimento (Ciências Agronômicas) é a única capaz de viabilizar fontes energéticas da biomassa e dos restos orgânicos. A “Biotecnologia” que também é área prioritária no portfólio difundido pelo Governo, ao lado da “Produção Agrícola Sustentável”, proporcionará às novas gerações de Engenheiros Agrônomos uma ampla oportunidade de buscarem lapidarem-se nos EUA ou Austrália, onde estão algumas das melhores Universidades do Mundo nessas áreas. Como fazem os coreanos, voltarem para o Brasil onde espera-se que encontrem espaço para desenvolverem as habilidades apreendidas alhures.
O fato é que o Brasil patina na área educacional. Por isso somos um País desigual e com enormes bolsões de pobrezas localizados exatamente onde a escolaridade é menor e o analfabetismo é maior. Ainda temos um percentual elevado de analfabetos entre a população maior de quinze anos. Situação que se agravou em relação ao que prevalecia em 2000, conforme se depreende das evidencias retiradas dos Censos Demográficos mais recentes. Em 2000 era de 13,6% o contingente de analfabetos no Brasil. Em 2010 havia regredido em 4%, ficando em 9,6%. Contudo a população, naquela faixa etária, cresceu de 12,3% naquele lapso de tempo. Isto significa que, em números absolutos, havia mais analfabetos em 2010 do que em 2000. A escolaridade média dos brasileiros não chega aos oito (8) anos. È de apenas 7,8 anos. No Nordeste não a dos 6,5 anos. Um desastre! Uma informação adicional que mostra o tamanho do caos na educação brasileira é retirada dos dados brutos da PNAD/IBGE de 2009. Apenas 7,4% da população brasileira, em idade escolar, tem quinze (15) anos ou mais de escolaridade.
Oxalá o programa seja pra valer! Como parece haver o empenho pessoal da Presidente, vamos esperar que não seja uma espécie de PAC da educação, que não sai do papel, mas proporciona farto material para propaganda fantasiosa.
Tomara que os jovens engenheiros (de todas as formações), médicos, químicos, biólogos, físicos possam concretizar o sonho de estudar em universidades top de linha no mundo, ancorados em bolsas de estudo do Governo Brasileiro. Esperemos que o programa, uma vez instalado, tenha continuidade, independentemente dos futuros governantes. Isso não é pouca coisa, pelo histórico recente de quem se aventurou a tentar estudar fora do País. Eu posso testemunhar como tem obstáculos a superar. Não sendo perseverante, desiste-se, porque tem muito burocrata frustrado em posições estratégicas, que está ali cumprindo cotas dos partidos da tal base aliada. Estão nos postos de emprego (não necessariamente de trabalho) não por habilidade, mas pelo fato de serem cabos eleitorais, parentes, agregados, ou serem amigos dos políticos que detém os cargos como feudos particulares. Isto é no que transformaram o Brasil depois que, sob a desculpa da “governabilidade”, pode-se fazer de tudo com o suado dinheiro que pagamos em impostos.
Espera-se que agora, parte dessa dinheirama se reverta em uma boa causa: A das bolsas de estudo para brasileiros lapidarem-se nas melhores universidades do mundo. Já será um bom começo para sairmos do marasmo que nos impam nesses tempos em que falar errado, não ter capacidade de construir um raciocínio lógico, não ter competência para o exercício de funções técnicas, ou a fazer parte das credenciais para se galgar postos até nos altos escalões da Republica.
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*Artigo publicado no Jornal O Imparcial em 28 de abril de 2012.