Os canalhas nos ensinam mais

Por: ARNALDO JABOR* 

‘Querem nos convencer de que nosso destino histórico é a maçaroca informe de um grande maranhão eterno’

Nunca vimos uma coisa assim. Ao menos, eu nunca vi. A herança maldita da política de sujas alianças que Lula nos deixou criou uma maré vermelha de horrores. Qualquer gaveta que se abra, qualquer tampa de lata de lixo levantada faz saltar um novo escândalo da pesada. Parece não haver mais inocentes em Brasília e nos currais do país todo. As roubalheiras não são mais segredos de gabinetes ou de cafezinhos. As chantagens são abertas, na cara, na marra, chegando ao insulto machista contra a presidente, desafiada em público. Um diz que é forte como uma pirâmide, outro que só sai a tiro, outro diz que ela não tem coragem de demiti-lo, outro que a ama, outro que a odeia. Canalhas se escandalizam se um técnico for indicado para um cargo técnico. Chego a ver nos corruptos um leve sorriso de prazer, a volúpia do mal assumido, uma ponta de orgulho por seus crimes seculares, como se zelassem por uma tradição brasileira.

Temos a impressão de que está em marcha uma clara ‘revolução dentro da corrupção’, um deslavado processo com o fito explícito de nos acostumar ao horror, como um fato inevitável. Parece que querem nos convencer de que nosso destino histórico é a maçaroca informe de um grande maranhão eterno. A mentira virou verdade? Diante dos vídeos e telefonemas gravados, os acusados batem no peito e berram: ‘É mentira!’ Mas, o que é a mentira? A verdade são os crimes evidentes que a PF e a mídia descobrem ou os desmentidos dos que os cometeram? Não há mais respeito, não digo pela verdade; não há respeito nem mesmo pela mentira.

Mas, pensando bem, pode ser que esta grande onda de assaltos à Republica seja o primeiro sinal de saúde, pode ser que esta pletora de vícios seja o início de uma maior consciência critica. E isso é bom. Estamos descobrindo que temos de pensar a partir da insânia brasileira e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.

Avante, racionalistas em pânico, honestos humilhados, esperançosos ofendidos! Esta depressão pode ser boa para nos despertar da letargia de 400 anos. O que há de bom nesta bosta toda?

Nunca nossos vícios ficaram tão explícitos! Aprendemos a dura verdade neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Finalmente, nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Vemos que o país progride de lado, como um caranguejo mole das praias nordestinas. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades sórdidas estamos conhecendo, fecundas como um adubo sagrado, tão belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras. Como mentem arrogantemente mal! Que ostentações de pureza, candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a mão grande nas cumbucas, os esgotos da alma.

Ai, Jesus, que emocionantes os súbitos aumentos de patrimônio, declarações de renda falsas, carrões, iates, piscinas em forma de vaginas, açougues fantasmas, cheques podres, recibos laranjas de analfabetos desdentados em fazendas imaginárias.

Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!… Assistimos em suspense ao dia a dia dos ladrões na caça. Como é emocionante a vida das quadrilhas políticas, seus altos e baixos – ou o triunfo da grana enfiada nas meias e cuecas ou o medo dos flagrantes que fazem o uísque cair mal no Piantella diante das evidências de crime, o medo que provoca barrigas murmurantes, diarreias secretas, flatulências fétidas no Senado, vômitos nos bigodes, galinhas mortas na encruzilhada, as brochadas em motéis, tudo compondo o panorama das obras públicas: pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, orgasmos entre empreiteiras e políticos.

Parece que existem dois Brasis: um Brasil roído por ratos políticos e um outro Brasil povoado de anjos e ‘puros’. E o fascinante é que são os mesmos homens. O povo está diante de um milenar problema fisiológico (ups!) – isto é, filosófico: o que é a verdade?

Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Mas, tudo está ficando tão claro, tão inável que temos de correr esse risco, temos de contemplar a mecânica da escrotidão, na esperança de mudar o país.

Já sabemos que a corrupção não é um ‘desvio’ da norma, não é um pecado ou crime – é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas. Vivemos nossa diplomação na cultura da sacanagem.

Já sabemos muito, já nos entrou na cabeça que o Estado patrimonialista, inchado, burocrático é que nos devora a vida. Durante quatro séculos, fomos carcomidos por capitanias, labirintos, autarquias. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as emendas ao orçamento, as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver. Enquanto houver 25 mil cargos de confiança, haverá canalhas, enquanto houver estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse Código Penal, com essa estrutura judiciária, nunca haverá progresso.

Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas. Não adianta punir meia dúzia. A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.

Descobrimos que os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Os canalhas são a base da nacionalidade! Eles nos ensinam que a esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno e que, pelo escracho, entenderemos a beleza do que poderíamos ser!

Temos tido uma psicanálise para o povo, um show de verdades pelo chorrilho de negaças, de ‘nuncas’, de ‘jamais’, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Céus, por isso é que sou otimista! Ânimo, meu povo! O Brasil está evoluindo em marcha a ré!

(*) Cineasta e escritor

Minissérie leva os políticos da vida real a buscar paralelos entre o país da ficção e o Brasil surreal

Do Blog do Josias de Souza

Enfim, um herói. Paulo Ventura, o presidente da República ficcional de ‘O Brado Retumbante’, põe para correr os corruptos que roem o erário. Ao tratar o inaceitável de maneira impensável, diverte os políticos de carne e osso. Inspira-os a comparar o país irreal da TV com o Brasil surreal que os rodeia.

A pouca idade, a cara de galã e a fama de mulherengo fizeram de Aécio Neves uma analogia fácil. O político do país alternativo da minissérie vai ao Planalto graças a um acidente que o torna o primeiro da linha sucessória, como presidente da Câmara. Um cargo que o presidenciável do PSDB já ocupou.

Espraiou-se rapidamente uma tese conspiratória. Nessa versão, a obra de Euclydes Marinho, autor da minissérie, seria uma tentativa da Rede Globo de envernizar a imagem de Aécio. Alertado por sua assessoria sobre a fantasia, o tucano Aécio riu. “Quem me dera!”, disse.

No Brasil da ficção, o presidente ocasional é inflexível na aplicação de seus princípios éticos e maleável no manuseio do zíper. Livra-se de ministros corruptos com a mesma facilidade com que coleciona amantes. Um de seus casos é a mulher de um senador baiano. A moça é identificada no palácio pelo codinome de “bancada baiana”.

Ligado na cena, o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) pendurou seu encatamento no twitter: “A bancada baiana é linda!” Rodrigo Moura, vereador baiano do DEM, replicou: “A Globo já está subliminarmente colocando Aécio Neves 2014 na Presidência do Brasil. Percebeu, amigo?”.

Lúcio contraditou: “Nada a ver, ficam procurando coincidências, mas a polêmica é bom [sic] pra Aécio.” Irmão do deputado, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), outro frequentador assíduo do twitter, sapecou: “E quem seria a bancada baiana do Aécio?”

As tentativas de grudar o presidente Ventura no presidenciável Aécio esbarram nos fatos. No plano privado, Aécio foge da fama de namorador que estimulou no ado. Mantém com a catarinense Letícia Weber um namoro de quase cinco anos.

Na seara pública, Aécio cultiva um estilo acomodatício que contrasta com os rompantes do congênere da ficção. O senador tucano tenta pavimentar sua candidatura costurando acordos que, no Brasil idealizado da minissérie, o presidente improvável combate.

Herdeiro de um ministério podre, Paulo Ventura livra-se, já no segundo capítulo, do ministro corrupto da Justiça. Um deputado que faz dobradinha com outro personagem que açulou a imaginação da Brasília surreal. Chamam-no apenas de ‘Senador’.

Em conversa telefônica com um colega de partido, uma liderança do PMDB abespinhou-se: “Estão querendo sacanear o Sarney”. Identificou a “maldade” numa cena em que o ministro desonesto, libertado da prisão graças a um habeas corpus, reúne-se com o ‘Senador’ num gabinete do Congresso.

A petição dos advogados foi elaborada com esmero, alguém comenta. A reação do ‘Senador’ veio instantaneamente. Disse que, mais eficaz do que a peça dos defensores do aliado pilhado recebendo propina, é a boa relação que construiu com membros do Judiciário em seus “50 anos de vida pública”.

A guerra aberta pelo presidente contra o ‘Senador’ e seu grupo faz da nação da minissérie um país tão inimaginável quanto o da fantasia real, um Brasil que jamais acontece. Fora do vídeo, a história real vem sendo contada como farsa. Personagens incômodos não são combatidos. Viram aliados. E são chamados de “incomuns”.

De embaraço, os escândalos tornam-se hábitos. De hábitos am a parâmetros. E quando a platéia se dá conta, nada mais (a compra da emenda da reeleição, sob FHC; o mensalão, sob Lula) precisa ser muito explicado. O país finge que não aconteceu.

Ex-procurador da República, Pedro Taques (PDT-MT), hoje um senador idealista de primeiro mandato, enxerga méritos no divertimento televisivo. Acha que, abstraindo as imperfeições jurídicas, o enredo convida à reflexão. “É possível presidir o país sem abrir mão de princípios éticos”, acredita.

Como? “Estabelecendo vínculos diretos com a opinião pública, por meio da internet, uma ferramenta que não estava disponível no ado.” O uso da web é, alias, um dos recursos de que se serve o presidente improvável da TV.

Cercado de um grupo de assessores palacianos, Paulo Ventura dá de ombros para o Congresso escorado na repentina popularidade. Numa agem, recebe o ministro da Agricultura, flagrado em desvios do crédito agrícola. Refuta as alegações do acusado, que reage invocando o apoio de seu partido ao governo.

Súbito, o ministro desonesto recorda ao presidente a importância de preservar a “governabilidade”, um vocábulo muito em voga no Brasil surreal. O presidente dá de ombros. Demite o auxiliar de maneira implacável, aproximando-se do modelo preconizado pelo senador Taques.

Prevalecendo o otimismo de Taques, a minissérie levaria à reflexão sobre os motivos que levam à submissão de sucessivos governantes a um presidencialismo em que coalizão virou sinônimo de cooptação. Parece improvável que isso venha a ocorrer.

Nessa hipótese, os atores do Brasil que não cabe na TV teriam de discutir não o modelo em que o ‘Senador’ e Cia dão as cartas, mas a sua predisposição para o medo. No limite, iriam a debate as razões que levam o Brasil a concordar em ser, indefinidamente, uma espécie de Maranhão hipertrofiado.

Há dois dias, encontraram-se em São Paulo Aécio Neves e o presidente do PSDB federal, deputado Sérgio Guerra (PE). Entre um compromisso e outro, falaram sobre a minissérie. Aécio comentou com Guerra a associação que se estabeleceu entre ele e Paulo Ventura.

Guerra fez troça. Disse que o presidente da ficção não é inspirado em Aécio, mas no vice de Dilma Rousseff, o pemedebê Michel Temer. Gargalharam. Aécio revelou uma ponta de preocupação com o desfecho da minissérie. Receia um final trágico para o destemido Paulo Ventura.

Por ora, as reações do grupo do ‘Senador’ resultaram num mal sucedido atentado a bala e numa infrutífera tentativa de chantagem. O ‘Senador’ enviou ao palácio, junto com uma caixa de bombons, fotos do presidente aos beijos e amassos com a “bancada baiana”.

No Brasil surreal, o recurso a esse tipo de intimidação talvez jamais ocorresse. Escândalos sexuais ameaçam governos e acabam com carreiras políticas nos EUA. Aqui, uma Mônica Lewinsky teria dificuldades para virar notícia.

Seja como for, a mulher de Paulo Ventura, embora contrafeita com o adultério, deu-lhe o apoio necessário para reagir à coação. Em telefonema ao ‘Senador’, o presidente impensável desafiou-o a enviar as fotos aos jornais.

Inaugurado na terça-feira (17), o Brasil ilógico da TV terá a duração de oito capítulos. Logo o país saberá se os temores de Aécio se confirmarão. A platéia, naturalmente, torce para que a ficcão lhe proporcione algo que a realidade não tem sido capaz de prover.

Na vida sureal, falta vilão. Um vilão em que a maldade esteja na cara, sem ambiguidades, que enrole as pontas dos bigodes antes de tramar a deposição do presidente, como faz o ‘Senador’. Fora da ficção, vilões desse tipo não existem. São todos bons sujeitos. Inocentes. Ou cúmplices.

Contraste entre a Civilidade e o Dantesco: Japão e Brasil*

José Lemos

Naquela terrível sexta-feira, 11 de março de 2011, aconteceu o tsunami que destruiu toda a cidade de Sendai, localizada no Nordeste do Japão, aproximadamente trezentos quilômetros de Tóquio. Uma tragédia que matou milhares de pessoas, deixou outro tanto de desabrigados e desalojados e fulminou animais, de quem nunca se fala nesses momentos.

Transcorridos três  meses da catástrofe começaram os trabalhos de reconstrução da cidade. Por aquela ocasião os trabalhadores envolvidos encontraram pertences, ainda intactos, de pessoas que morreram ou tiveram que abandonar tudo para salvar a vida. Os objetos encontrados, inclusive dinheiro, foram todos devolvidos aos seus legítimos donos, através de agencias encarregadas de fazer a intermediação. As estimativas divulgadas por autoridades japonesas dão conta que mais de 90% do que foi encontrado havia chegado às mãos dos donos. O que faltava ser entregue devia-se ao fato de não terem sido reclamados, provavelmente, porque os proprietários pereceram e os parentes não apareceram para requerer. O fato relevante é que tudo que foi achado foi devolvido.

Ali foi demonstrado ao mundo um grande exemplo de civilidade, de honestidade, de respeito à dor alheia. Também ficou claro que aqueles que acharam os pertences alheios estavam conscientes de que não lhes pertenciam. Simples assim.

Sábado, três de dezembro de 2011, eu estava voltando para São Luis, capital do Maranhão, pela BR135. Por volta das dezesseis horas, ao chegarmos próximo ao Entroncamento, distante aproximadamente 100 quilômetros da capital, próximo à entrada que vai para a cidade de Itapecuru-MIrim, nos deparamos com uma fila enorme de carros.  A causa daquele congestionamento quilométrico, que impedia o fluxo de carros nas duas direções, era o tombamento de uma enorme carreta da Companhia Antártica que atravessava  toda a pista. Sobre o chão havia muitas garrafas quebradas.

Felizmente não se teve noticias da existência de vitimas. Contudo, presenciamos uma cena grotesca, ao vivo e à luz de um sol ainda muito forte àquela hora da tarde. Pessoas de diferentes posses se aproveitavam da situação para  subtrair, o que podiam, da carga do caminhão tombado. Saqueavam o que restou intacto. Adultos ofegantes, de diferentes idades, num frenesi indescritível, ajudados por crianças, que deveriam ser seus filhos, carregavam caixas que continham garrafas de cerveja, refrigerantes, colocando-os nos seus carros, ou nos ônibus de linha, que também estavam retidos à espera da liberação da pista.

Havia alguns policiais a quem perguntei se não podiam impedir aqueles atos de roubo explicito. Disseram simples, e candidamente, que se impedissem alguns de fazer, outros tomariam aquela atitude, que vai de encontro a qualquer fundamento de civilidade. Provavelmente o motorista daquele caminhão será penalizado pelo desaparecimento da carga. Ainda que não seja, caso a carga esteja protegida por seguro, alguém pagará aquela conta. O fato é que as pessoas estavam se apropriando de algo que não lhes pertenciam. Isso tem nome, chama-se furto.

Vendo aquela cena chocante, que poderia ter acontecido em qualquer lugar deste enorme Brasil, não podia deixar de comparar com o que aconteceu no Japão. Vivemos num país em  que o importante é levar vantagem em tudo. Um país que utiliza a máxima de que “achado não é roubado”. Um País que enaltece o mau-caratismo, a esperteza, a safadeza, o ar a perna nos outros para se dar bem. Claro que não pode dar certo!

Aqueles vândalos também votam e elegem os políticos que farão as leis e governarão o País, estados e municípios. Como terão condições de exigir postura ética por parte deles? Agindo daquela forma, inclusive “educando” os filhos em atos de roubo, como poderão esperar comportamento divergente de quem governa, de quem legisla ou dos membros do poder judiciário?

Agem como boa parte dos políticos brasileiros, que se posicionam próximo aos cofres públicos para fazerem fortuna pessoal de forma ilícita. Saqueiam-nos como aquela gente saqueava aquele caminhão Ai vale tudo. Superfaturamento de obras, licitações fraudulentas.

Agora a novidade são as “consultorias”. Instrumento que provoca multiplicação de patrimônios em tempo recorde de pessoas que não tem base cientifica ou treinamento adequado. Mas detém informações privilegiadas. “Coincidentemente” as “consultorias” são sempre prestadas para empresas que tem negócios com os governos (federal, estaduais ou municipais). Os pagamentos daquelas “consultorias” claro que não saem do faturamento das empresas, mas da sobrevalorização que imporão aos contratos que cumprirão com os governos, como decorrência das “consultorias”. Ou seja, nós que pagamos impostos é que arcaremos com o ônus. Lindo!

Num país assim, em que alguns apenas precisam de uma oportunidade para mostrar o seu verdadeiro caráter. Que futuro podemos esperar de  País em que os filhos aprendem a roubar  com os pais?.  O que nos espera no advir?

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*Artigo Publicado no Jornal O Imparcial do dia 10/12/2011.

SE O MARANHÃO FOSSE O BRASIL…

Do Blog Ecos das Lutas

Franklin Douglas(*)

Janeiro de 2011. Primeiro escândalo do governo Roseana Sarney: descoberto “mensalão” petista na Fapema – sem nunca ter sido pesquisador, secretário-geral do partido recebeu R$ 32 mil em bolsa de pesquisa. Após tornado público o esquema, verificou-se que o “mensalão da Fapema” incluía vereadores, ex-prefeitos e lideranças regionais que apoiaram Roseana, em 2010.

Março de 2011. Segundo escândalo do governo Roseana Sarney: vice-governador usa helicóptero oficial do Estado para ir a Peri Mirim participar de festa de fundação do PT no município.

Abril de 2011. Mais um escândalo no governo Roseana, outra denúncia envolvendo o vice-governador: lobista João Batista Magalhães, ligado a Washington Luiz, é quase preso pela Polícia Federal dentro da sede nacional do PT. Acusação: participação no desvio de R$ 50 milhões dos cofres da Prefeitura de Barra do Corda, do prefeito Manoel Mariano de Souza – o Nezim (que apoiou Roseana em 2010), tráfico de influência no Ministério da Saúde e esquemas junto a prefeituras da base governista. Habeas corpus do STJ impede que a Polícia Federal prenda Magalhães.

Junho de 2011. Por conta de enriquecimento ilícito, cai o primeiro ministro de Dilma: Antonio Palocci. Não agüentou a pressão da opinião pública. O Maranhão da oligarquia ganha novo apelido na mídia nacional e redes sociais: Sarneyquistão – território, morada dos Sarneys, cuja miséria é comparada a das ex-Repúblicas soviéticas. No Sarneyquistão, Roseana a pito em duas ministras de Estado por conta da visita delas à ocupação de quilombolas no INCRA: “que estória é essa de falar com preto e pobre antes de falar comigo?!”, ridicularizaram  internautas a reação da governadora à visita das ministras Maria do Rosário e Luiza Bairros.

Julho de 2011. Outro escândalo do governo Roseana Sarney: IstoÉ revela ao país fraude de quase meio bilhão de reais na licitação para a construção dos 72  hospitais prometidos por Roseana na campanha. Sete empreiteiras que receberam rees em valores redondos do governo foram doadoras de campanha de Roseana. Três delas foram dispensadas de licitação, receberam R$ 64 milhões e não colocaram um único tijolo na construção dos hospitais. Revela a revista:
“A JNS Canaã é um caso ainda mais nebuloso. Os procuradores afirmam que a empreiteira, filial do grupo JNS, teve seu ato constitutivo arquivado na Junta Comercial do Maranhão em 24 de novembro de 2009, dias antes de fechar contrato com o governo. A primeira ordem bancária em nome da JNS saiu apenas quatro meses depois, em 16 de abril de 2010. Sozinha, a empresa recebeu R$ 9 milhões, não concluiu nenhum dos 11 hospitais”.

Continua IstoÉ:
“A mesma JNS doou R$ 700 mil para a campanha de Roseana, por meio de duas transferências bancárias, uma de R$ 450 mil para a direção estadual do PMDB e outra de R$ 300 mil para o Comitê Financeiro, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral”.

No governo federal, cai o segundo ministro de Dilma: Alfredo Nascimento, após denúncias de esquema de corrupção no Ministério dos Transportes.

Agosto de 2011. Mais dois escândalos no Maranhão.

Primeiro: Folha de São Paulo divulga à nação que Sarney usa helicóptero da Polícia Militar do Maranhão para ear em sua ilha particular. A aeronave foi adquirida para combater o crime e socorrer emergências médicas. Foi paga com recursos do governo estadual e do Ministério da Justiça no valor de R$ 16,5 milhões. Para que Sarney easse, um doente que era socorrido, foi retirado do helicóptero.

Segundo: na marra, Roseana inicia a construção da mais cara estrada “estadual” do País – a Via Expressa, obra de 107 milhões de reais que ligará os shoppings da família (do Tropical e Jaracaty ao shopping da Ilha, ando pelo shopping São Luís – todos com negócios da família Sarney-Murad).

No governo Dilma, o ministro “tucano”, também herdado de Lula e seus pretendidos negócios bilionários na compra de caças ses, pede para sair: Nelson Jobim deixa o Ministério da Defesa. No ministério da Agricultura, cai o quarto ministro por suspeita de corrupção, direcionamento de licitação e pagamento de propina, Wagner Rossi.

Setembro de 2011. Após a prisão de 36 integrantes do Ministério do Turismo, cai o quinto ministro de Dilma, Pedro Novais, por uso pessoal de verbas públicas. O ministro sarneyzista pagou motel com dinheiro público.
Outro escândalo no governo estadual: Roseana anuncia que financiará a escola de samba Beija-Flor para pautar os 400 anos de São Luís em seu enredo no carnaval de 2012: a peso de milhões de reais dos cofres públicos, nem intelectuais da oligarquia engolem o samba-enredo chinfrim da Beija-Flor.

Outubro de 2011. Enésimo escândalo estadual: governo Roseana estatiza a Fundação José Sarney, o mausoléu do pai a a ser custeado com dinheiro público. No governo Dilma, cai o sexto ministro por denúncia de desvio de recursos: Orlando Silva, dos Esportes.

Novembro de 2011. Sem governo, o Maranhão defronta-se com uma inédita greve de policiais militares e bombeiros. Com medo de ‘primavera maranhense”, oligarquia recua e negocia com o movimento. Sem polícia e nem combate à corrupção, o Maranhão vê prefeitos sendo presos, cassados, e, em seguida, soltos, reempossados. O mais notório caso é a prefeita amiga de Sarney Filho, Bia Venâncio, de Paço do Lumiar. Um verdadeiro escândalo de impunidade no Maranhão. No governo Dilma, nem juras de amor salvam Carlos Lupi das denúncias de corrupção no Ministério do Trabalho: é o sétimo ministro a cair.

Dezembro de 2011. Mal inicia o fim do ano e, quando todos esperavam que já se encerravam os escândalos, vem a denúncia de suborno aos deputados roseanistas: R$ 1,5 de reais pagos pela aprovação do projeto de lei nº 32/2011, que flexibiliza a derrubada de babaçuais.

Quando pré-candidata à Presidência da República, em 2002, Roseana viu seu sonho virar picolé ante o escândalo da Lunus: inexplicáveis 1,540 milhões de reais em notas de R$ 50,00. A revista Veja noticiou o fim do sonho presidencial da oligarquia manchetando em sua capa, com as fotos desconsoladas de Roseana e Jorge Murad: “Eles pensavam que o Brasil fosse o Maranhão!”

Diante de tantos escândalos não apurados em 2011, só resta ironizar: ah, se o Maranhão fosse o Brasil! Ou, como dizia o saudoso Dr. Sócrates, morto domingo ado: “imagina a Gaviões da Fiel politizada! Esse é o grande medo do sistema”. E das oligarquias do sistema, Dr. Magrão… e das oligarquias!

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(*)Franklin Douglas – jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente.
Artigo publicado no Jornal Pequeno (edição 11/12/2011, página 20)