Os falsos delicados que defendem Décio ignoram a insegurança por uma simples razão: picaretas não vivem sem cofres públicos

Do Blog do Kenard

Hoje, numa conversa com um velho amigo, disse o seguinte: eu chorei e fiquei muito mal com a morte de Décio Sá. Agora os que se dizem amigos dele tratam o caso com sentimento vulgar e defesa inapropriada. Disse mais: jamais estarei nessa fileira. Lamentar de verdade o ocorrido com Décio Sá requer dignidade.

Sou dos que acreditam que lamentar uma morte não significa endeusar o morto. Disse inúmeras vezes – e ele ficava contente com o que eu dizia, diga-se logo – a Décio que ele era um grande repórter. Aquele que adora a notícia. E escrevi aqui (os leitores podem recorrer aos arquivos) que ser bom ou excelente repórter não quer dizer ter bom texto. O jornalismo é assim.

Mas a condição de morto não faz de Décio Sá um paladino da justiça e da democracia. Ao contrário, por estar a serviço de um grupo político, no caso dos Sarney, Décio inúmeras vezes deixou de lado o jornalismo. Impossível esquecer o que ele fez com a correspondente da Folha de S. Paulo que cobria a eleição de 2010 no Maranhão. Para defender os patrões, Décio chegou ao ponto de divulgar o celular da repórter no blog. Um acinte. Ouso dizer o que os que se am por delicados, mas que na verdade estão a falar em causa própria, fingem tapar o nariz ao ouvir: há muito Décio havia deixado de ser jornalista para ser um repórter dos Sarney.

Pergunto: imbecis e picaretas de todos os naipes, com isso estou a defender o assassinato brutal? Claro que não. Só os canalhas e picaretas diriam que sim. Porque estes não estão a defender Décio, mas os defeitos de Décio que eles trazem em si.

Os jornalistas de araque amavam Décio Sá não pelas qualidades, mas pelos defeitos. Queriam ser Décio não pelo que ele conseguiu fazer de qualidade, mas pelo o que fez de reprovável. Os abomináveis nos amam pelo que fazemos de errado, eis a verdade indiscutível.

São esses crápulas que vejo a defender Décio Sá a qualquer preço e a qualquer custo. Esses não defendem Décio, o morto brutalmente, esses se agarram ao morto inescrupulosamente para defender a si mesmos. Defendem Décio para defender na consciência pesada os canalhas que são. São esses que fingem estar zangados com o que escrevo em defesa de Décio.

Não posso negar, sinto nojo dessa gente. Mas essa turma só existe porque o maranhense perdeu, nesses 45 anos de mando de uma única família, qualquer resquício de bom caratismo. Quem escreve errado é visto como bom jornalista. Quem não tem escrúpulo é visto como bom caráter. Quem é capaz de vender até a mãe é considerado bom sujeito. Com uma maioria de maranhenses assim, o errado sempre se sobressai. O errado é visto como correto. Eis a cultura que a oligarquia conseguiu implantar no Estado. É o patrimonialismo até das almas.

Não havia como evitar o assassinato brutal de Décio Sá. Mas a fuga de quem o assassinou naquele local é prova de absoluta falta de segurança no Estado. Mas ninguém que defende Décio Sá toca nesse assunto. Por quê? Porque isso exporia um aparelhamento de segurança destruído. E mostrar a realidade da segurança no Maranhão é mexer com o governo do Estado. Como todos os defensores delicados de Décio Sá estão de uma forma ou de outra na dependência econômica do governo, o melhor mesmo é falar do assassinato de Décio dentro de um sentimento vulgar, fora da realidade.

Daí que bradam em jornais, tevês, blogues e outdoors: Justiça e Paz. Como se a justiça fosse algo apartado da realidade política do Maranhão. Como se a justiça pudesse ser feita fora do aparelho de segurança. Daí também que a governadora tenha soltado uma nota após a morte do jornalista de suas empresas pedindo que fossem presos os covardes assassinos. Mas não é ela a responsável pela segurança do Estado? Que conversa fiada é essa?

Assim, é mais fácil ser piegas e sentir dó de Décio do que escancarar a falência do sistema de segurança. Sentir dó de Décio atrai leitores e aplausos dos bestas. Mostrar que o governo tem uma segurança inoperante, incompetente e fora dos padrões requeridos leva a se incompatibilizar com o cofre do governo. Não preciso dizer pelo que os canalhas optam. Ou preciso?

Três depoimentos

Do Blog do Itevaldo

Com exclusividade o blog do Itevaldo publica três depoimentos de testemunhas do assassinato do jornalista Décio Sá, ocorrido no dia 23 de abril. Os três depoentes estavam próximos à cena do crime ou na rota de fuga dos executores.

Em dos depoimentos uma das testemunhas revela que “dois homens aguardavam no alto das dunas pelo homem que desceu da garupa motocicleta”. As testemunhas também revelam as características do assassino de Décio Sá.

Nos depoimentos aparece a descrição da motocicleta usada pelos assassinos do jornalista. Duas testemunhas descrevem a moto com cores diferentes.

Todos os trechos que podiam levar a identificação das testemunhas foram apagados dos depoimentos.

Depoimento 1

Depoimento 2

Depoimento 3

Caminhada por justiça e paz marca 1º de maio em São Luís

Centenas de pessoas participaram do ato público na Avenida Litorânea.
População clama por elucidação de crimes considerados de pistolagem.

Igor Almeida

Do G1 MA

Caminhada reuniu centenas de pessoas na Avenida Litorânea (Foto: Igor Almeida/G1)

O Dia do Trabalho foi lembrado com um pedido de justiça e paz em São Luís. Centenas de pessoas participaram nesta terça-feira (1º), da caminhada em protesto contra o assassinato do jornalista Décio Sá, morto a tiros na segunda-feira (23), em um bar da Avenida Litorânea, além de outros crimes considerados de pistolagem, ocorridos no Maranhão.

O ato público, que começou por volta das 10h20, reuniu centenas de amigos, familiares e autoridades maranhenses e, teve como objetivo, o pedido da elucidação contra os assassinatos.

“Este é um grito de esperança. Pedimos justiça não só para o Décio, mas por todas as outras vítimas de crimes como o que vitimou meu irmão. O Maranhão precisa mudar e isso só vai acontecer se todos nós abrirmos a boca e clamarmos por igualdade social, por justiça, por direitos humanos”, declarou a irmã do jornalista Décio Sá, Vilenir Sá.

Ao final da caminhada, em frente ao bar onde o jornalista foi assassinado, os participantes prestaram homenagens às vítimas de crimes sem elucidações. O Coral São João cantou a Canção da América e, em seguida, o Hino Nacional, encerrando o ato público com balões brancos pedindo justiça e paz pelas vítimas maranhenses de crimes considerados de pistolagem.

Família de Décio Sá cobra Roseana Sarney, que permanece omissa

Do Blog do Luis Cardoso

Vice - governador conversa com Vilanir Sá

Durante a eata pela Paz e pela Justiça, hoje pela manhã na avenida Litorânea, em homenagem a Décio Sá, a irmã do jornalista Vilanir Sá voltou a cobrar da governadora Roseana Sarney ações mais efetivas na elucidação do crime. Sá foi executado por pistoleiros no dia 23 de abril, em um restaurante da avenida Litorânea.

Ela lembrou que a oligarquia Sarney existe há 40 anos, a quem Décio serviu. “Mas que amigos são esses que nem aqui estão?”, cobrou.

Para a irmã do jornalista, a presença da governadora na eata seria uma demonstração de amizade. Hoje, não havia nenhum membro da família Sarney no evento e nem de Ricardo Murad, que se considera irmão de Décio Sá.

A preocupação da família do jornalista reside no fato de que as investigações caminham de forma misteriosa e não enxergam empenho da governadora.

Na primeira cobrança,Vilanir Sá lembrou que Décio Sá publicava aquilo que muitos não tinham coragem, se referindo aos amigos do poder. “E onde eles estão agora?” indagou.

Roseana, por exemplo, não foi ao velério, enterro, missa e muito menos de longe só para olhar a eata.

No assassinato de Décio Sá, a oligarquia está em xeque

Do Jornal Pequeno

Por: Franklin Douglas

O assassinato do jornalista Décio Sá foi covarde, bárbaro, violento. Não se deseja uma morte dessas ao pior inimigo. Foi à expressão máxima de que a pistolagem impera no Maranhão, não tem respeito sequer pela elite política oligárquica que, com leniência, deixou que ela florescesse.

Ligado diretamente a Fernando Sarney, a Ricardo Murad e muito bem quisto pelo patriarca da oligarquia e por sua filha-governadora, a pistolagem não tomou conhecimento dessas ligações: ousou matar Décio Sá, cuja oligarquia que ele tanto defendeu sequer conseguiu protegê-lo.

Conheci Décio no curso de Comunicação Social. Embora um ano a minha frente, formamos na mesma turma. Na Ufma, posicionávamos em grupos estudantis diferentes, contudo, ambos sob influência das teses progressistas da esquerda forjada na universidade. Era essa a cultura política predominante na Ufma dos anos 1990. Fora do espaço de resistência da universidade, a cultura política hegemônica era o clientelismo, o patrimonialismo, o mandonismo. Em vez de resistir, inclusive por sua origem de classe, Décio optou por tornar-se um orgânico militante da classe dominante maranhense. Viu por esse caminho a via mais rápida para ascender no jornalismo, primeiro na Folha de São Paulo, depois no O Estado do Maranhão.

Pioneiro na blogosfera, incorporou a lógica da produção noticiosa da internet e postava freneticamente, o que lhe deu público crescente, ainda que isso custasse a reputação de muitos, a intimidação de alguns (a exemplo do que fez com a reportagem da Folha quando esta veio verificar denúncias de compra de votos nas eleições de 2010) ou a exposição da vida privada de outros. Seu único limite era o núcleo da família Sarney-Murad ao qual se vinculou.

Fruto dessa formação social à qual se submeteu, Décio Sá imaginou-se intocável. Por isso, sob o interesse de seu grupo, foi a ponta de lança da oposição midiática aos governos Zé Reinaldo e Jackson Lago, enfrentou a Vale, denunciou empresários playboys, lideranças periféricas do sarneismo que foram e voltaram – a quem rotulou de “balaios” –, juízes, desembargadores, alguns crimes de pistolagem…

Nossas divergências com a opção política de Décio não impediram de evitar que ele levasse uma surra da turma do atual vice-governador, num encontro do PT, em 2005. Enfurecido pelos textos que Décio publicava das ramificações do escândalo do mensalão com seu grupo no PT maranhense, Washington expulsou-lhe do auditório do Hotel Praiamar, insultando-lhe de “imprensa marron” ao microfone, o que levou a formar no meio do auditório uma espécie de corredor polonês que Décio só escapou graças à intervenção de Augusto Lobato, Márcio Jardim e nossa lhe retirando do recinto – os mesmos que ele não poupou em “detonar”, como dizia, em seus textos. Com seus erros e acertos, era de carne e osso, nem santo, nem demônio…

Só a forte cobrança da opinião pública maranhense obrigará o sistema de segurança pública a dar resposta ao assassinato do jornalista Décio Sá, tal como ocorreu no caso “Stênio Mendonça”, na década de 1990.

Independe da qualidade e da opção ideológica do jornalismo feito por Décio, é obrigação de todos nós a exigência pela elucidação do crime, pois se trata de uma vida humana barbaramente ceifada, do direito à liberdade de expressão (de todos! E não apenas da liberdade da imprensa poder falar), de encorajar jornalistas a não calarem e afastar deles – e da sociedade – a cultura do medo, de silenciar por receio de represálias.

Só a cobrança da sociedade, repito, obrigará a oligarquia a cortar na própria carne, como foi obrigada a fazer na I do Narcotráfico/Crime Organizado. Sobretudo porque a violência é estrutural, criada e incorporada ao sistema político pela elite política que o conformou nos últimos 50 anos. Ontem foi o líder quilombola Flaviano Pinto (em São João Batista) e trabalhador rural Raimundo Alves “Cabeça” (de Buriticupu), hoje o jornalista Décio Sá… amanhã poderá ser qualquer um, se os maranhenses se calarem.

O que está na berlinda é a política de segurança pública do “melhor governo da vida” de Roseana, onde a pistolagem e a impunidade reinam à solta: só neste mês de abril foram 53 homicídios na ilha de São Luís. Praticamente dois assassinatos por dia!

Pautar um falso debate sobre “gorilas diplomados” é querer levantar uma cortina de fumaça diante da falta de aparelhagem/estrutura/pessoal da Polícia para chegar ao mandante do crime…

As metralhadoras da oligarquia deveriam mirar a investigação sobre o mandante do crime, em vez da defesa truculenta da mesma, que quer tutelar a OAB, impondo quem deve e quem não deve dirigir suas comissões internas, ou quer impedir até o direito de opinião dos que não concordam com sua visão do Maranhão.

Não é a cidadania maranhense que está em xeque, tampouco a mulher ou o homem de bem, como você, caro leitor, cara leitora. Quem está em xeque é a oligarquia!

Não à pistolagem!! Não à impunidade!!!

Franklin Douglas, jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. E-mail: [email protected]

Lutos e lutas

Do Jornal Pequeno

Por: Flávio Dino

Há dois meses que não escrevia aqui neste espaço. Têm sido tempos de intenso luto: recolhimento, meditação e uma dor profunda, que rasga a alma e me acompanhará até o último dia da minha vida. Vivenciando esse luto pelo meu filho Marcelo, tenho todas as razões para mais uma vez me solidarizar com a família do jornalista Décio Sá, com seus amigos e colegas de profissão. Para além de análises sobre seu papel político ou sua conduta profissional, há algo muito maior agora: um ser humano foi assassinado, e nada justifica tamanha violência.

Existe uma identidade entre o meu filho Marcelo e Décio: tiveram mortes totalmente evitáveis, que não foram meras contingências da vida. Marcelo foi vítima de um hospital com péssima gestão e de profissionais negligentes; Décio foi vítima dos crimes de pistolagem, que matam tantos há tantos anos, alimentados pela corrupção, pela impunidade e pela cumplicidade de figuras poderosas.

Quanto aos hospitais, não podemos mais assistir a mortes dentro de lugares feitos para salvar vidas. No dia 14 de fevereiro, Marcelo Dino morreu no hospital Santa Lúcia, em Brasília, cidade onde trabalho como presidente da Embratur, no governo federal. A investigação da Polícia Civil já demonstrou sucessivos erros que tiraram o direito do meu filho a cumprir integralmente esta dimensão da sua vida. Hoje o sinto vivo comigo, e sei que Deus o acolhe, mas a cada dia derramo lágrimas pela carência dos seus abraços e beijos, pela falta da sua voz doce, pelo silêncio da sua guitarra, por não ler mais no Twitter seu entusiasmo pelo Flamengo, por saber que nossa família e seus amigos de escola sofrem por ele.

Os crimes que levaram Marcelo não foram de responsabilidade exclusiva dos profissionais que ali estavam para socorrê-lo e não o fizeram corretamente. A morte de meu filho foi, acima de tudo, derivada de um sistema privado de saúde movido pelo lucro a qualquer custo. A ganância dessas empresas, planos de saúde e hospitais, desumaniza a saúde, transforma pessoas em estatísticas e mortes em meros “riscos do empreendimento”.

A cada dia que o sol se levanta e jornais estampam mortes trágicas, fica mais claro que, além de um sistema público de qualidade, falta também uma melhor fiscalização do Estado sobre os hospitais privados. Nesta semana que ou, levei esse debate para a Câmara dos Deputados e para o Conselho Nacional de Justiça. Já estive na Agência Nacional de Vigilância Sanitária e no Ministério Público do Trabalho, e não irei parar, extraindo forças da imensa coragem que Marcelo sempre teve.

Quanto ao caso do Décio, irei continuar com todo vigor a luta por uma nova política em nosso Estado, sem oligarquias patrimonialistas, com pleno respeito aos direitos humanos e sem crimes de pistolagem contra ninguém, “famoso” ou “anônimo”.

O o imediato depende do atual sistema de segurança pública do governo do Estado, de quem esperamos eficiência nas investigações do caso do jornalista Décio Sá e de demais crimes de pistolagem praticados nos últimos anos – vitimando trabalhadores, policiais, prefeitos, empresários. Conheço os profissionais das nossas Polícias e sei que são capazes de tão importante tarefa, bastando que tenham apoio e incentivo.

Na semana ada, a presidente Dilma disse em discurso que quer fazer do Brasil o sexto melhor país do mundo em qualidade de vida, não apenas na economia. Neste novo Brasil com hospitais melhores e sem crimes hediondos, que tenho fé que virá, muitos Marcelos estarão conosco, mantendo vivo o sorriso do meu amado filho (ainda que as lágrimas não cessem, como agora).

Flávio Dino, 43 anos, é presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), foi deputado federal e juiz federal

Nota de Solidariedade

Associação Maranhense de Imprensa (A.M.I.)

A Associação Maranhense de Imprensa (A.M.I.) lamenta profundamente o assassinato brutal e covarde do jornalista Décio Sá, ocorrido na noite da última segunda-feira, 23, em São Luís.

A execução de um jornalista configura-se como um dos mais bárbaros atentados contra a liberdade de expressão e contra o Estado Democrático de Direito Brasileiro.

Décio Sá era um dos mais combativos e destemidos jornalistas maranhenses, buscando sempre trazer à luz o que alguns tentavam manter sob o manto da escuridão.

Ao mesmo tempo que se solidariza com os colegas, amigos e familiares de Décio Sá, a A.M.I. exige do poder público em todas as esferas uma rápida elucidação do crime que tem caráter evidente de execução por pistolagem.

São Luís (MA), 25 de Abril de 2012

A Diretoria

LUTO

Do Blog do Itevaldo

Pelo assassinato covarde do companheiro DÉCIO SÁ. Os seis tiros disparados à queima-roupa que assam o jornalista em um restaurante na Avenida Litorânea são uma afronta não apenas à liberdade de expresão, mas a outras muitas liberdades.

O assassinato covarde de Décio Sá tem forte relação com a sua atividade profissional. Governadora Roseana Sarney é inaceitável que ainda tenhamos crimes de pistolagem e de encomenda em nosso Estado. A polícia tem a obrigação moral de desvendar o assassinato brutal e covarde do colega Décio Sá.