Escola precisa estimular criança a ler

por Ana Cássia Maturano

2111_ilustra1Uma garotinha de oito anos chegou bastante chateada da escola. Havia recebido as notas de algumas atividades. Entre as altas e as não tão altas, uma delas estava um pouco abaixo da média, fato novo em sua vida. A avaliação em questão era de interpretação de texto.

A mãe, agindo de maneira adequada, consolou a criança – não ficou brava e nem a humilhou. Juntas foram rever a atividade para que pudessem entender o que havia acontecido. E assim, tentariam sanar as dificuldades.

O primeiro o foi ler o texto. Qual não foi a surpresa da mãe ao se deparar com uma escrita confusa, frases mal construídas, vocabulário envolvendo palavras desconhecidas até dos adultos – sem o glossário para ajudar – e termos repetidos sem a mínima necessidade (algo que ensinamos a todos que escrevem para não fazer). Ou seja, o texto não tinha qualidade.

Além disso, ele era inadequado para as características cognitivas e o nível alfabético de crianças nessa faixa etária, cursando o terceiro ano do ensino fundamental. Época em que uma escrita bem elaborada, com frases em ordem direta e palavras do cotidiano, faz toda a diferença. Elas ainda não têm o domínio da leitura, tornando a atividade penosa e pouco atraente.

É necessário que nossas crianças sejam estimuladas a ler. Mas parece que não é isso o que nossas escolas andam fazendo. Basta observar o quanto os pequenos não gostam desta atividade, assim como muitos adolescentes.

O pior, no entanto, era o conteúdo – referia-se ao preconceito de uma menina em relação à outra por uma característica física, a obesidade. Ora, não há problema em tratar do tema, desde que haja discussão e reflexão sobre ele. Ainda mais em tempos em que muito se fala do bullying e da necessidade de se tratar isso nas escolas. O texto simplesmente foi jogado para os alunos.

Isso é um exemplo isolado de como as escolas estão tratando seus alunos. Parecem vê-los sempre além de suas capacidades cognitivas. Esquecem-se de que são crianças, com características intelectuais e emocionais próprias. Aqueles que fazem parte do imaginário das instituições não existem – são super alunos, desejados por elas para conseguirem boa colocação nos índices nacionais, como o Enem.

Geralmente essas escolas são caras e fazem propostas bastante atrativas para os pais. Porém, elas estão se perdendo em sua vaidade. Consideram forçar os alunos para que eles sejam o que não são, à custa de muito sofrimento e frustração.

E nossas crianças, como ficam? Correndo atrás do desejo da escola.

Precisamos repensar a educação em nosso país.

Filho deve ser o que realmente é, não o que os pais gostariam que fosse

por Ana Cassia Maturano

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Ilustração sobre pôster de “O mar não está pra peixe 2 – Tubarões à vista”

Dia desses, fui assistir ao filme “O mar não está pra peixe: Tubarões à vista!”. A história é a de um peixinho que, após expulsar um tubarão do recife onde mora com seus amigos e familiares, tem novamente seu espaço ameaçado pelo inimigo, agora mais forte e acompanhado de outras feras. Sabendo disso, uma sábia tartaruga o aconselha a mudar sua estratégia de luta, indicando-lhe a necessidade da ajuda de todos. Muito vaidoso por ter conseguido sozinho expulsar o tubarão da primeira vez, o peixinho reluta. Porém, acaba treinando seus amigos para lutarem como ele.

Sem conseguirem acompanhá-lo, os outros peixes o abandonam e se ligam a um tubarãozinho que se infiltra no grupo com a intenção de atrapalhar o plano deles. Sua proposta é a de fazerem um show para atrair a atenção dos humanos. Para tanto, cria um espaço para que cada um apresente um número artístico, como um show de talentos. Com isso, todos se envolvem e acabam desenvolvendo alguma habilidade.

Esse filme é para crianças. Como muitas produções destinadas a esse público, traz lições interessantes. No caso, a ideia é dar chance para as pessoas serem o que realmente são e não aquilo que querem que elas sejam.

Não raro, isso costuma acontecer nas relações familiares, quando os pais esperam e cobram que seus filhos tenham que ser de determinada maneira. Alguns são tão exigidos que acabam perdendo a referência de quem realmente são, além de desenvolverem o sentimento de serem inadequados e incapazes.

Um exemplo clássico é a interferência da família na escolha profissional. Em alguns lares, o filho só terá valor se seguir determinada carreira (as mais comuns são medicina ou direito), geralmente aquelas exercidas pelos seus anteados.

Sem dúvida, não há problema em os pais desejarem algo para o filho. Bem como não há contra indicação em seguir os os dos pais. Porém, a escolha deve ser de quem vai exercer o ofício. Caso contrário, haverá frustração e a crença de que nunca conseguirá ter algum sucesso.

Outro exemplo são as notas escolares. Alguns pais fazem da vida dos filhos um inferno por eles não tirarem dez em tudo, mesmo tendo boas notas. Ou por exigirem a prática de um esporte ou de um instrumento musical só porque acham bonito. Esquecendo-se de ver as reais potencialidades dos filhos, seja para terem melhores notas ou praticarem algo.

Além da frustração que essas pessoas podem viver, há o risco de se distanciarem de seus familiares, por não se sentirem aceitos por eles, e virem a se ligar a pessoas nem sempre adequadas, como o tubarãozinho. Mas que, como ele, conseguem reconhecer aquilo que as pessoas realmente são ou podem ser. Algo fundamental para todos – serem reconhecidos, principalmente pelos pais.

Criar filhos é possibilitar-lhes que desenvolvam potencialidades e características próprias – que sejam aquilo que queiram e possam ser. Como bem diz o ditado, criamos os filhos para o mundo e não para nós mesmos.

Afeto, confiança e diálogo ajudam afastar jovem das drogas

por Ana Cássia Maturano

A chegada da adolescência é sempre uma época que preocupa os pais. Considerada difícil, essa fase é marcada por transformações e conflitos, gerando sofrimento a todos. É uma prova de fogo para o relacionamento familiar. Muitos temem perder seus filhos, principalmente para as drogas.

Essa é a época em que as pessoas a experimentam, seja por curiosidade, facilidade ou simplesmente para aliviar as tensões vividas. Mesmo sabendo dos riscos (amplamente divulgados), os jovens não parecem considerá-los. Vivem numa ideia de terem poder e controle sobre as coisas, e de serem donos de seu nariz.

A ideia é essa. O momento é de serem independentes e autônomos, em que não mais seguem as regras dos pais. Pelo contrário, querem quebrá-las e sentem fazerem isso ao se drogarem.

Na procura por outras normas de conduta, encontram no grupo de iguais uma possibilidade – compartilham as mesmas angústias e se livram da solidão. É aí que encontram forças para romperem com padrões e ousarem, sendo onde geralmente começam a experimentar essas substâncias. O que leva muitas famílias a culparem os amigos do filho pela sua situação de drogado.

Sem dúvida o grupo tem influência no comportamento de drogadicção. Apesar da ideia de que o jovem usa droga para não ficar de fora, para ser igual, nem todos entram nessa barca: eles são capazes de pensar e de fazer escolhas. Uma delas é a de não se envolverem com pessoas que se drogam.

Aí entra a família. A chegada da adolescência não exclui toda a história vivida por uma pessoa. Suas vivências, principalmente as familiares, vão ter forte influência em como as coisas se darão pela vida.

O modo como uma família se estrutura, pode criar ou não condições para que os filhos se desenvolvam de maneira saudável. O que a pelo relacionamento estabelecido entre pais e filhos. Quando esse é pautado pela confiança e pelo afeto, em que o vínculo entre eles é forte, tudo tende a caminhar melhor.

Inclusive, favorece a possibilidade dos pais orientarem sua prole nas questões da vida. Quantas vezes, ao abordarem algum assunto, os filhos são recebidos com recriminações e gritos, impedindo qualquer comunicação entre ambos? Com atitudes assim, momentos preciosos são perdidos – os mais velhos poderiam ouvir e orientar seus filhos. A chance é grande de irem discutir determinados temas, como as drogas, lá fora. Sabe-se lá com quem.

Infelizmente as drogas estão por aí. Trancafiar os adolescentes não dá. Confiar na educação que foi dada a eles é necessário, mas sempre lembrando que estão num momento turbulento. Apesar do desprezo que muitas vezes mostram pelos pais, ainda precisam muito deles.

Considerar que tudo é culpa do mundo, é reduzir a importância da família. Ou ao menos eximi-la de qualquer responsabilidade pelo que os filhos são. Se ela perdeu seu valor, algo de atrapalhado existe nessa história. Quando há afeto, confiança, respeito e cada um sabe bem qual é o seu papel, a chance das coisas darem certo é maior.

Criança precisa de limites para o exagero na satisfação do que quer

Por Ana Cássia Maturano

O Dia das Crianças é uma daquelas datas em que o comércio aproveita para vender. Os pequenos a esperam ansiosos. Junto do Natal e do aniversário, é quando oficialmente ganham presentes. Oficialmente, pois o que se tem visto é que a prática de presenteá-los tem se dado sem critério algum.

As pessoas têm comprado muito. Isso se deve a alguns fatores, como a grande variedade de produtos, preços íveis (encontramos bonecas por R$ 9) e facilidades de pagamento.

Há uma preocupação de que está se formando uma geração de consumistas. Em verdade, essa geração já existe na figura dos pais, que consideram que coisas materiais vão fazer seus filhos e a si próprios felizes. A maioria acredita nisso e adquire bens materiais exageradamente. Alguma coisa ficou perdida no meio do caminho – o que realmente é preciso ter.

Para muitos, não possuir algo é estar numa posição abaixo do outro. Geralmente, o desejado é aquilo que o outro tem, não necessariamente o que é visto nas lojas ou propagandas – a grande vilã para muitos. Basta questionar uma criança sobre a razão de querer determinado produto. O referencial acaba sendo externo.

Os pais, temerosos de que seus filhos se frustrem, acabam atendendo seus pedidos, por vezes indo além do que o orçamento familiar permite. A frustração faz parte da vida e nos impulsiona a ir em frente, na busca daquilo que falta. Por exemplo, aprendemos a falar pela necessidade de nos fazermos entender. Algumas mães, na urgência de atenderem seus filhos pequenos de modo a não frustrá-los, acabam traduzindo o que querem mesmo antes que o digam, o que pode atrasar o desenvolvimento da fala. Que necessidade a criança tem de falar se só pelo olhar o outro já o compreende? Caso não seja atendido, ela procurará meios para isso, como se expressar pela fala.

O que chama atenção, no entanto, é que estão sempre querendo mais e nunca se satisfazem. Por que será que isso ocorre? Muito provavelmente por não serem coisas materiais que necessitam. Suas necessidades são outras, mas interpretadas dessa forma.

As crianças precisam de mais atenção, carinho e orientação dos pais do que de outras coisas. E limites claros e consistentes. Inclusive para o exagero na satisfação de seu querer. Lembrando aquela velha máxima – querer pode, ter já é outra história… e está condicionado a parâmetros reais, como se é necessário e se cabe no bolso dos pais.

Então, quer dizer que agora não devemos presentear mais os pequenos? Pelo contrário. Devemos sempre presentear, mas sem exageros. O melhor jeito de se fazer é evitar dar presentes a qualquer tempo, limitando-os às datas oficiais – Dia das Crianças, Natal e aniversário.

A quantia a ser investida é questão essencial. Desde cedo as crianças devem saber o valor das coisas. Ela não deve exceder às possibilidades financeiras da família – tanto para não trazer problemas óbvios, como dívidas, quanto para não assinalar à criança que não há um limite na vida. No caso de todos estarem de acordo da necessidade de um produto de valor maior, pode-se fazer um pacote, juntando os presentes de duas datas oficiais em um só.