“Água, violência e indecência”: Editorial do Jornal Pequeno

O Maranhão é como um país à parte do Brasil. Um país sem rede de esgoto, um país sem água e sem segurança pública. Um país sem banheiros, se é possível acreditar que esse tipo de situação ainda possa persistir. Um país cujos indicadores sociais, as aferições de pobreza e abandono das classes menos favorecidas nos remetem aos princípios de um século que já ou.

A atormentada campanha política que começou no domingo – e atormentada porque nela já se registram ataques à família, crueldade no tratamento de tragédias familiares, insultos e sopapos trocados entre candidatos – registra o fato inédito e singular para quem chegou no século 21, de um candidato ao governo, Flávio Dino, apresentando 65 propostas, entre elas o “Pacto pela Vida”, um projeto de redução da violência e “Água Para Todos”, neste caso específico porque falta água para muita gente no Maranhão.

Na proximidade de shoppings e prédios públicos suntuosos como os do Tribunal de Contas do Estado, Ordem dos Advogados do Brasil, Assembleia Legislativa, Secretaria Estadual da Saúde, o Bairro Jaracaty sofre com a falta de saneamento básico. E se aqui, em área nobre de capital, é esta a situação, podemos imaginar o que acontece nos longínquos municípios do interior do Estado.

Se atingirmos a pior qualidade em quase todos os serviços que se esperam do Estado, se continuamos a erguer o cetro de campeões de pobreza, é que o modelo político fundado e mantido durante quase 50 anos pelos Sarney governou exclusivamente para as elites, para os grandes negócios e esqueceu o lado social mais necessitado. Somos um país à parte em que a distribuição de água tratada é um dos principais compromissos de uma campanha política. Somos um país à parte do Brasil, porque, no limite de todas as infidelidades sociais, o Maranhão não tem banheiros!

E é neste país sem rede de esgoto, sem água, sem segurança pública, que a indecência política praticada através de parte da imprensa avança sobre a família, propõe uma guerra moral lamentável e é despropositadamente cruel com os sentimentos de um pai que tragicamente perdeu um filho. E sabe Deus o tamanho da dor de perder um filho prematuramente. Por esse caminho, o caminho do vale-tudo, o caminho do linchamento pessoal, o Maranhão, mais uma vez, será exemplo de vergonha para o Brasil.

E assim caminha o Maranhão. Falta água, falta saneamento, faltam banheiros e sobram violência e indecência política.

* Editorial publicado no Jornal Pequeno

O grito na garganta

Editorial do Jornal Pequeno

Fazendo um paralelo entre o poder econômico e o poder popular, o presidente da Embratur, Flávio Dino, fez, durante o seminário de seu partido, o PCdoB, uma pregação que pode calar no coração dos maranhenses: evitar os 50 anos da oligarquia Sarney no Maranhão. Falta pouco para que se complete meio século no poder da mais vasta aliança política estadual do Nordeste, quiçá do Brasil.

Esta aliança, de posse de todos os cargos federais e estaduais no Estado e sempre adotando métodos reprováveis de cooptação política, envolveu os prefeitos, vereadores, deputados e lideranças de todos os municípios. A partir do jugo do Poder Executivo, entranhou-se perversamente no Legislativo e no Judiciário, serviu-se da ditadura e de todos os governos pós-democráticos do país para dissolver lideranças emergentes no Maranhão, corromper partidos políticos e garantir a manutenção do mais longo reinado de poder no Brasil.

Como um polvo, a oligarquia estendeu seus tentáculos a todas as organizações da sociedade civil, de sindicatos a associações de moradores, de clubes de mães a associações de futebol de areia, de grupos folclóricos a escolas de samba em todo o estado. Vê-se, então, que a tarefa de evitar os 50 anos da oligarquia Sarney não é apenas um caminhar, pois implica em mudança de mentalidade dos maranhenses, em carregar uma mensagem de libertação em todos os dias que se sucederem daqui até a eleição de 2014.

Toda essa arregimentação fisiológica não impediu que a oposição vencesse a eleição de 2012 nos principais colégios eleitorais do estado, inclusive a capital São Luís, e no segundo maior colégio eleitoral do estado, o município de Imperatriz. No entanto, os partidos no governo elegeram maior número de prefeitos e vereadores, o que torna o caminhar de Flávio Dino mais longo e mais urgente. O risco é a alienação política persistente nos pequenos colégios eleitorais do Maranhão, que são a imensa maioria.

O presidente da Embratur entende que o processo de mudança no estado começa agora, em 2013, com a adoção de um modelo de gestão pública moderno e eficiente a ser implementado pelos novos gestores. Nas diversas prefeituras em que venceu, a oposição tem dois anos para mostrar que é capaz de governar bem melhor que o grupo Sarney, o que nos parece uma tarefa muito fácil. Outro alerta é a formação de alianças políticas amplas, sem as quais não é possível vencer.

O governo tem a caneta, o dinheiro, os cargos, o partido no poder nacionalmente (PT), a ascensão aos demais poderes; enfim, uma força de manipulação e cooptação imensurável, sem contar a dependência física e financeira dos municípios. Mas tem contra ele a História, as notícias de corrupção e fisiologismo, de nepotismo e atraso. E tem, principalmente, esse grito de liberdade engatado na garganta do povo do Maranhão.

O pum da educação

Do Jornal Pequeno

O Maranhão lê contristado, desalentado, duas notícias que fixam a dimensão exata do tratamento dado pelo governo Roseana Sarney à educação; a mesma educação considerada mundo afora pilar do desenvolvimento de qualquer Estado e de qualquer país.

A primeira revela um grau de incompetência e perversidade gerencial sem paralelo em outros cantos do país: o governo está desativando escolas do ensino médio, o que já aconteceu em Codó, São Luís e Caxias. A segunda é um marco intransponível da inconsciência istrativa e também sem paralelo no Brasil: a Seduc perdeu o prazo de cadastramento no Programa Pró-Jovem Urbano, do Governo Federal, deixando milhares de estudantes maranhenses sem os recursos do Programa que, além de uma Bolsa de R$ 100 garante matrícula para conclusão do ensino médio ou curso profissionalizante, creche e alimentação para as crianças, no caso dos beneficiários serem pais.

É de doer. Os protestos de mais de 400 alunos do município de Codó chamaram a atenção para esse delírio de considerar ‘espaços ociosos’ escolas de ensino médio. Nem precisamos dizer que sem conhecimento não há possibilidade de crescimento profissional. Só temos a lamentar que, nessa era de grandes transformações tecnológicas, o próprio governo, através de seja lá quem for o beócio que gerencie a Secretaria de Educação, esteja disposto a transformar o Maranhão numa cloaca de analfabetos funcionais.

Nos dias de hoje, sem conhecimento sistematizado não existe impulsão possível para qualquer que seja a sociedade, não há porque se falar em ascensão social e igualdade de oportunidades. A ideia que predomina é aliar a educação à política, economia, justiça e saúde para, assim, alcançar o desenvolvimento e o progresso. Mas a resposta do governo do Estado é fechar escolas, é perder, por ociosidade e burrice profilática, recursos federais que muito contribuiriam para o soerguimento da educação no estado.

Enquanto em outros estados e países estudos avançados incluem a informática, a robótica, a microeletrônica, a biotecnologia, dentre outra ciências exigidas pelo mercado de trabalho, no Maranhão, se duvidar, em breve nem ensino médio teremos mais. Com o fim do Pró-Jovem nem a escassa oportunidade de um curso profissionalizante, de vital importância para a renda familiar, será dada à juventude maranhense.

A mente ‘brilhante’ que arquitetou essa ideia só pode ser de algum adepto do fim da História. O fim da história do Maranhão. Era o que faltava para a conquista do título definitivo, para todo o sempre, de pior governo da história do Brasil. Acabar com o ensino médio, considerar escolas de ensino médio espaços ociosos, não é apenas um atestado de loucura. É o pum da educação.