Jornalismo a serviço da vida*

ROBSON PAZ

Secretário adjunto de Comunicação da Prefeitura de São Luís

Levar ao conhecimento público informações, que contribuam para minimizar o sofrimento das pessoas. Esta é uma das mais nobres funções do jornalismo.

Durante quatro anos, tive a felicidade de atuar como repórter nas editorias de Esporte, Cidade e Política no jornal O IMPARCIAL. Foram centenas de matérias. Guardo todas como muito carinho. Uma delas, no entanto, tem um significado especial para mim. Na verdade, uma série de matérias sobre um bebê recém-nascido, que sofreu queimaduras de até terceiro grau em parte do corpo numa incubadora da Maternidade Benedito Leite.

O lamentável episódio aconteceu em 2001 e aria despercebido não fosse por uma denúncia anônima que chegou à redação de O IMPARCIAL.

Na pauta constava apenas o relato superficial do caso. Saí do jornal no início da manhã, junto com o fotógrafo Francisco Campos e o motorista Neidson, com o objetivo de apurar a informação e descobrir o nome da vítima e o endereço de seus familiares.

Na maternidade quase nenhuma informação. Pudera. A orientação recebida pela mãe no local foi “para não falar com a imprensa”. Pior, que ela “era jovem e se perdesse essa filha teria outra”. Um absurdo!

Conseguimos levantar apenas o nome da mãe Danicleide e o bairro, onde morava: Vila Janaina. Começamos então a segunda e mais difícil parte de nosso trabalho. Depois de horas de procura e já no início da tarde, quando parecia que voltaríamos para a redação sem o nosso objetivo insistimos mais um pouco e, graças a Deus, conseguimos encontrar Danicleide. Deitada numa rede na sala da casa da mãe, ela contou a história em detalhes e se prontificou em nos acompanhar até a Maternidade Marly Sarney, onde estava internada Gleyce Helen, na UTI Neonatal. O estado do bebê era grave.

Com a autorização dos pais, fomos até o local e a fotografamos. A matéria foi a manchete do jornal no dia seguinte com grande repercussão, inclusive nota coberta no Jornal Nacional. O Ministério Público Estadual instaurou procedimento para apurar o caso.

Após várias matérias, o governo do Estado garantiu as condições para que Gleyce Helen tivesse o tratamento adequado e superasse o quadro de gravidade. Restaram sequelas para a criança e para a família a luta por justiça.

Aos 12 anos, Gleyce Helen tem que realizar cirurgias de correção das cicatrizes. Ela é acompanhada ainda hoje pelo médico Paulo Mocelin, um dos principais responsáveis por sua recuperação, na época.

De repórter virei padrinho e amigo da família, que mora numa casa de taipa, no município de Bequimão. De lá para cá tenho acompanhado outra luta da família de Gleyce Helen: a busca por justiça.

A ação contra o estado por danos morais se arrasta no Judiciário. Doze anos depois, nenhuma sentença. Não se tem noticia de que responsáveis pelo grave erro tenham sido punidos.

Tenho esperança de que ei a matéria sobre a decisão judicial que reparará minimamente o erro que quase ceifou a vida de uma criança. Resta-nos a felicidade de ter contribuído a partir do trabalho jornalístico n’ O Imparcial para denunciar e evitar que outras crianças fossem vítimas de tal descaso. Vitória da vida e do jornalismo!

*Artigo publicado no Jornal O Imparcial – 01/05/2013