“Enredo do Crioulo Doido”*

José Lemos

São Luis é a única capital brasileira fundada por ses. Neste oito de setembro completará quatrocentos anos. Uma cidade que tem uma arquitetura belíssima. Casarões revestidos por azulejos que refletem um ado de prosperidades.

O conjunto de belezas arquitetônicas e naturais, fez com que a UNESCO reconhecesse a cidade de São Luis como Patrimônio da Humanidade. Uma cidade que tem igrejas seculares, praças bonitas, um centro histórico para apreciar e preservar.

São Luis exibe um dos carnavais mais originais do Brasil. Apesar das várias tentativas de “contaminá-lo” com o lugar comum do “axé music”, no circuito tradicional, ouve-se e dança-se ao som de músicas compostas por autores maranhenses. A única concessão que se faz naquela rota é para as marchinhas tradicionais de carnavais antigos. Cantadas, principalmente, pelos irreverentes “blocos de sujos” que junto com os “fofões” dão ao carnaval maranhense um toque único de autenticidade.

No período junino, São Luis oferece um dos mais belos espetáculos folclóricos do Brasil. Os festejos juninos de São Luis também têm as danças de “quadrilhas de jovens”, que é o forte das badaladas festas em Campina Grande, na Paraíba, e em Caruaru, no estado de Pernambuco. Contudo, esses folguedos são apenas uma parte pequena do grande festejo que toma conta da cidade naquele período. Nessa época predominam as danças do Bumba-boi, com diferentes sotaques, poesias, toadas e ritmos, que invadem as noites e atravessam madrugadas, numa mistura contagiante de sons, cores e magias.

Nada disso serviu de inspiração para os doze (12), isso mesmo, foram doze, os autores do “Samba-Enredo” da Escola de Samba “Beija-Flor” de Nilópolis, Rio de Janeiro, deste ano de 2012, supostamente para homenagear São Luis. A letra do Samba tem 30 linhas. Segue-se que cada autor teve a tarefa pesada de escrever 2,5 linhas.

É prá tirar o chapéu, sem duvidas, para a capacidade que esses doze “enredistas” tiveram de trabalhar coletivamente. Escrever a 24 mãos é um exercício dificílimo, ainda mais quando, cada par de mãos, tem que exaurir-se para registrar 2,5 linhas em quase um ano de árduo trabalho. É tarefa inimaginável até para os grandes poetas e escritores.

Não obstante isso, o Samba-Enredo que produziram, seria um excelente insumo para o inesquecível Sergio Porto, que assinava as suas crônicas, sempre repletas de bom humor, pelo singelo pseudônimo de “Stanislaw Ponte-Preta”. Imortalizou-se ao cravar a sigla: FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País, que continua muito atual, depois que inventaram o “politicamente correto”). Criou uma música antológica que foi gravada, originalmente, pelo “Quarteto em Cy”, um conjunto de moças afinadas que brilhou no cenário musical brasileiro, no tempo em que se ouvia sons de qualidade nas rádios AM e FM. A música chama-se “Samba do Crioulo Doido”. No humor cortante de Stanislaw, aquele seria um “Samba-Enredo” típico das escolas de samba do Rio de Janeiro da época, muito parecido com o produzido pelos “enredistas” da Beija-Flor para “festejar” São Luis ao se tornar quatrocentão.

Neste caso do samba que “homenageou” São Luis, a dúzia de “enredistas” enveredou pela surrada trilha de misturar sincretismo religioso com misticismo. Certo que São Luis tem muito disso tudo. Mas eles exageraram na dose, apesar de se reconhecer que os poetas devem ter liberdade de criação e de excederem em metáforas. Contudo, daí a ver na selva de prédios de cimentos, que toma conta da cidade, os sabiás da poesia de Gonçalves Dias, é forçar demais! Infelizmente não se ouvem cantos de sabiás em palmeiras de São Luis, por duas razões singelas: inexistem as palmeiras e os pássaros. As palmeiras são vitimas de devastação em todo o estado. Os sabiás restantes cantam em outras paragens, bem longe do tumulto que é a vida na São Luis de hoje.

Além disso, até onde se sabe, o beija-flor é um pássaro que, para coletar o néctar das flores que “beija”, permanece parado no espaço batendo as suas asas freneticamente a uma velocidade incrível. Não se ouve o seu canto, se é que ele existe, como quer a dúzia de “enredistas”, mas se pode apreciar um dos mais belos espetáculos da natureza.

E pensar que para produzir essa “homenagem” os cofres públicos maranhenses sangraram com a bagatela de dez milhões de reais, com a aquiescência do seu Governo! Com essa grana se construiriam 500 casas populares para abrigar famílias de São Luis que moram nas famigeradas palafitas. Esse ervanário poderia, alternativamente, ser injetado na produção agrícola do estado. Ou ainda, ser usado para melhorar o o à água encanada e ao saneamento, duas das maiores chagas de São Luis. Na contramão, foi fazer a festa, literalmente, de bicheiros no Rio de Janeiro. Estado rico é outra coisa!

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*Artigo Publicado no Jornal O Imparcial em 3 de março de 2012.

Presentes de Aniversário*.

José Lemos

A ocasião do nosso aniversário, além de ser um feriado particular, é um dia para reflexões. Ficamos no dilema: comemoramos por mais um ano vivido, ou lamentamos por sabermos que temos, de fato, um ano a menos na nossa breve trajetória por aqui?

Na medida em que os anos vão ando, e nos tornamos mais maduros, amos a refletir, com mais acuidade, acerca da nossa função neste planeta. Afinal para que viemos para cá? Viemos apenas para procriar, acumular riquezas, buscar nos destacar como profissionais? Seria tudo tão simples e fugaz assim? Não acredito!

A natureza foi criada com muita sabedoria. Tudo nela tem uma razão de ser. Nada está colocado neste planeta por acaso. Tudo tem uma função bem definida. Nós, seres humanos, não entraríamos nesse projeto para tão pouco.

Os vegetais, de todos os portes, por exemplo, tem a responsabilidade de prover o oxigênio que é necessário para a maioria dos seres vivos que existem no planeta. Através da fotossíntese, são os únicos seres capazes de operarem o milagre da vida na terra. Mas além desta função, por si só da maior relevância vital, os vegetais formam o manto verdejante sobre o nosso planeta, produzem frutos que alimentam diferentes espécies animais, inclusive os humanos. Provêem beleza através do verde que espraiam e das suas flores, de várias cores e tons. Muitas dessas flores não se contentam apenas em ser belas. Emitem aromas que contagiam outros sentidos, alem do olfato.

Os animais, de diferentes tamanhos, também têm múltiplas funções. Dentre elas destaca-se a de serem polinizadores e disseminadores das sementes. Com isso espraiam em raios inimagináveis as espécies vegetais. Junto com os ventos e com as águas, esses seres proliferam e multiplicam a vida na nossa nave.

Os mares também têm funções fundamentais no equilíbrio sinérgico que se processa no planeta. Não é por acaso que ocupam a maior superfície terrestre. São os movimentos das marés, devidamente influenciados por vários elementos, as fases da lua são alguns deles, que fazem com que os ventos aconteçam e que tornam mais amenas as temperaturas no planeta. As evaporações das águas dos oceanos viram nuvens, condensam, se transformam em chuvas que, deslocadas pelos ventos, se difundem em diferentes locais. Recarregam os aqüíferos de superfícies e subterrâneos, irrigam a vegetação, e ajudam a fomentar a vida. Tudo perfeitamente sincronizado.

E nós, seres humanos, que papel temos em toda essa cadeia sinérgica?

Do estágio primitivo em que vivíamos no começo de tudo, avançamos para a domesticação de animais e plantas. Trazendo-os para perto de nós. Isto facilitou a nossa vida, mas também contribuiu para nos transformar nos maiores depredadores do planeta. Nós, que nos jactamos de sermos os seres mais inteligentes, cometemos atrocidades que não se observa no mais feroz dos animais silvestres. Contudo, é assim que procedemos. Usamos “Armas, Germes e Aços”, (titulo do excelente livro de Jared Diamond), para cometer atos atrozes contra outros animais, destruir florestas, e subjugar outros seres humanos. Em casos extremos há gente que destrói vidas humanas. Outros “matam por amor”, e até em nome de Deus, como se isso fosse possível.

Seguramente não foi para isso que o Criador nos colocou ao lado de seres tão nobres como os mares, os vegetais e os demais animais. Não foi para exercitarmos a inveja, o egoísmo, o apego a poderes e às riquezas materiais, que viemos prá cá. Até porque tudo isso ficará quando armos. E aremos bem depressa. Ódio, cobiça, desrespeito aos outros seres vivos, inclusive os outros humanos, são práticas que desenvolvemos, mas que seguramente não estavam no escripit de Quem planejou a convivência para este nosso planeta azul.

È neste mundo que eu vivo e completo mais um ano de vida neste sábado. Eu tenho, como não poderia ser diferente, todos os defeitos inerentes à espécie humana. Procuro, ao longo da minha trajetória, policiar-me para ser menos egoísta, menos invejoso, mais humano. Tento buscar a sabedoria e a grandeza da humildade.

Dentre os presentes que eu quero ser merecedor neste dia, o mais importante é o usufruto pleno da minha saúde física e mental, o que, felizmente, está acontecendo. Ter vigor para o exercício da profissão que escolhi: a de Professor-Pesquisador. Poder, através dela, contribuir para que a vida humana no planeta, e a minha própria, seja de utilidade. Quero amar, com todas as forças, as pessoas que me amam. Quero ter a capacidade de respeitar aqueles que não gostam de mim. Contribuir para que pessoas fora do meu circuito familiar possam usufruir de vida mais digna. Este é o “pacote” de presentes que eu quero ganhar neste sábado. Dia em que fico um ano mais velho.

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*Artigo publicado no dia 25 de fevereiro de 2012.

Combate da Pobreza Extrema no Maranhão*.

José Lemos

Li nos jornais maranhenses que a Governadora finalmente itiu que existem pobres no Maranhão. Mais ainda, ite que existe um contingente de famílias vivendo na condição que o Governo Federal atual chama de “Pobreza Extrema”. Seriam pessoas que sobrevivem com renda média igual ou inferior a setenta reais por mês. No entanto o diagnóstico, tanto do Governo Federal como do Estado, continua equivocado, ao tratar a pobreza apenas como deficiência de renda monetária. Este é um indicador relevante, mas não é o único.

A discussão sobre as causas da pobreza é ampla, e envolve, inclusive, fundamentos ideológicos. Numa perspectiva extremamente simplista, que é a adotada pelos governos federal e estadual, a pobreza é apenas a deficiência de renda monetária. O rigor da apuração e da aferição da quantidade de pobres envolve outros indicadores. Numa perspectiva mais ampla, ser pobre significa ser carente de renda monetária, e de o aos serviços essenciais providos pelo estado. Serviços que pagamos muito caro no Brasil e temos o pior retorno entre Países recentemente pesquisados.

A educação é o mais relevante de todos eles. Pobreza, analfabetismo e baixa escolaridade, caminham em sinergia siamesa. Mas o não o aos serviços de saúde preventiva, como água de qualidade e saneamento, são igualmente importantes na caracterização da pobreza. Ele definirá, no presente, a necessidade futura de acionar os mecanismos curativos de saúde, terrivelmente deficientes neste País varonil.

Assim, ações de combate à pobreza, que privilegiem apenas o o à renda, que ainda por cima, provem do não trabalho, mas de transferências, não resolverão o problema. Entende-se que nos casos extremos, essas ações podem ser acionadas, apenas em caráter emergencial, jamais definitivo.

A carência de renda monetária, como todas as carências, tende a ser mais grave nas áreas rurais. O Maranhão é o estado brasileiro a deter o maior percentual de população rural do Brasil. Os agricultores familiares maranhenses, e brasileiros, geram uma renda que não entra, mas também não sai. É a “renda não monetária” que se afere a partir da produção agrícola que é destinada ao consumo da família. O cômputo dessa renda se faz remunerando-se a quantidade destinada ao auto-consumo familiar pelo preço de mercado.

Assim, em vez de transferir renda simplesmente, programas de estimulo à produção agrícola familiar, já resolveriam grande parte do problema da pobreza extrema. E que programas seriam estes? Começariam com a assistência técnica gratuita provida pelo Estado, mediante a contratação, por concurso público, de Engenheiros Agrônomos e Técnicos Agrícolas, principalmente, remunerando-os dignamente. Parte desses técnicos seria treinada para trabalhar na geração e na adaptação de tecnologias eficientes para os agricultores familiares. Os agricultores seriam treinados para produzirem a segurança alimentar (renda não monetária) de forma mais eficiente, mas também para produzirem bens transacionáveis. Parte da produção desses bens seria negociada com os programas de aquisição de alimentos por parte dos Governos Federal, Estadual e dos Municípios. Seria criado um Departamento de Economia Agrícola atrelado à Secretaria de Agricultura para prover informações atualizadas e fazer projeções dos mercados de commodities e de outros produtos, para que os agricultores familiares fossem inseridos nesses mercados.

Isto seguraria o êxodo rural, reduzindo a urbanização desenfreada das cidades de todos os portes. Assim, haveria menos pressão nesses centros no que diz respeito à infraestrutura urbana como moradias, transportes, dentre outras necessidades.

Paralelamente o Governo Maranhense precisa esforçar-se para reduzir drasticamente a atual taxa de analfabetismo, haja vista que em 180, dos 217 municípios maranhenses, supera 20%. No Maranhão, 71 municípios tem mais de 50% dos domicílios privados ao o à água encanada. Em apenas dezoito (18) municípios, menos de 50% dos domicílios tem o ao destino adequado de dejetos humanos. Este quadro precisa e pode mudar. No ado recente, de 2002 a 2006, foram feitas tentativas bem sucedidas que deram bons resultados. Basta haver um pouco de humildade para aprender com os bons exemplos deixados, mesmo que por adversários políticos. O bem estar coletivo deve ser o fundamento norteador de qualquer governo.

Combater pobreza extrema, apenas transferindo renda, não resolve o problema. Ao contrario, pode até mesmo agravá-lo, porque pode estimular as pessoas, sobretudo os jovens, à indolência. O que reduz a pobreza é a educação, o trabalho bem remunerado, e o o aos serviços sociais essenciais de saneamento, água encanada e coleta de lixo.

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*Artigo publicado no Jornal O Imparcial em 11/02/2012.

Menos Prefeitos e Vereadores. Mais Professores…*

José Lemos

Virou lugar comum nos conformarmos com os desmandos daqueles que dirigem o País. Acostumamo-nos com as noticias de corrupção. Quando as diferentes mídias mostram, por exemplo, que há desvios de recursos no DNOCS, isso soa como natural. O Ministro da pasta, já recheado de outras denuncias, aciona os seus padrinhos políticos para permanecer no cargo. O seu partido, que é donatário do Ministério, ameaça retaliar a Presidente que, para evitar a retaliação, muda alguns nomes, para ficar tudo igual.

As denuncias se juntam a tantas outras que envolvem prefeituras. Eu não teria qualquer receio em dizer que a regra, na grande maioria das 5.564 prefeituras que existem no Brasil, é o uso inadequado dos nossos impostos. Talvez os brasileiros não saibam que os prefeitos são os únicos governantes que podem sacar os recursos das suas prefeituras na boca do caixa do Banco em que o dinheiro estiver depositado. Este é um duto fácil, e tentador, para os desvios de que se tem noticias recorrentemente.

É fato comum, ao assumir as prefeituras, as famílias agraciadas com esse beneplácito logo comprarem e exibirem caminhonetas luxuosas. O público que lhes viabilizou o o ao poder, na maioria dos casos, são brasileiros que, sequer sabem em quem votou, porque lhes foi apresentada uma “cola” com o número do candidato, não sem antes terem recebido alguns desses benefícios paliativos de véspera de eleição.

Nestes dias eu recebi uma mensagem pela internet que é, no mínimo, instigante. Nela é lembrado que, quando o nosso time de futebol faz feio, ficamos furiosos e vamos aos campos de treinamento, ou aos aeroportos, espinafrar. A mensagem lembrava que não fazemos assim com os políticos que elegemos. Seriam manifestações fortes da população descontente com os rumos que estão dando  ao Brasil. Zombando de nós.

Uma das maiores excrescências que os políticos estão sempre ameaçando (e no ado recente conseguiram) é a criação de novos municípios. Esta, pelas razões expostas acima e pelos números que mostrarei a seguir, é uma das maiores fontes de assalto aos impostos que nós temos que bancar para pessoas que, sem qualquer habilidade profissional, buscam no proselitismo da vida política fácil, a fonte inesgotável e imoral de conquistar riqueza material. Sem a contrapartida do trabalho.

O PIB per capita anual do Brasil, em 2009 (último ano para o qual esta informação está disponível) foi de R$16.917,66, ou 3,4 salários mínimos em valores daquele ano. Pois bem, em 4.757 (85,5%) municípios, o PIB per capita é menor do que a média brasileira.  Nesses municípios sobrevivem 63% da população brasileira.

Há 3.921 municípios com população abaixo de vinte mil habitantes, a maioria deles é constituída de municípios recém criados. Aproximadamente 90% desses municípios estão incluídos entre aqueles cujo PIB per capita está abaixo da média brasileira.  Em 1.814 deles a escolaridade média é de no máximo quatro anos (analfabetos funcionais na média). Em 1.915, desses municípios, a população maior de quinze (15) anos tem taxas de analfabetismos que variam de 20% a 44%. Uma tragédia. Ou seja, todos eles são insustentáveis, e servem apenas para enriquecer as famílias agraciadas com cargos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.

A população que sobrevive nos municípios menores de vinte mil habitantes é de 33,17 milhões de pessoas. Se esses municípios desaparecessem e fossem incorporados a outros para terem no mínimo vinte mil habitantes,  haveria 2.263 municípios a menos.

Considerando um salário mensal de Prefeito de R$10.000,00 de Vice–Prefeito de R$8.000,00, um mínimo de dez secretários municipais ganhando cada um R$5.000,00 e um mínimo de sete vereadores com salário de R$10.000,00 cada um, seriam poupados mensalmente, por município, pelo menos R$138 mil. Como essa gente, mesmo sem trabalhar em beneficio das populações, recebe treze salários por ano, seriam poupados anualmente R$1.794.000. Que multiplicados pelos 2.263 municípios subtraídos, daria uma economia anual de, ao menos, quatro bilhões de reais. Essa grana toda seria mais bem aplicada contratando professores, profissionais da área de saúde, engenheiros… Estaria criada a condição para mudar o quadro mostrado no texto. Poderíamos iniciar, de imediato, um Projeto de Emenda à Constituição, de base popular, igual àquela que resultou na Emenda da Fixa Limpa, para que conste na Constituição  que não poderá existir no Brasil, já em 2014, um único município com menos de vinte mil habitantes, e que as Câmaras municipais não podem ter mais do que sete (7) vereadores que, na maioria dos casos, não am de cabos eleitorais  pagos por nós que trabalhamos e geramos riquezas. Fica a sugestão e vamos à luta para mudar o Brasil.

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*Artigo publicado em 28/01/2012 no Jornal O Imparcial.

Maranhão Andando Prá Trás*

José Lemos

O IBGE acaba de divulgar os resultados do PIB dos municípios brasileiros para o ano de 2009. Segundo os resultados divulgados, o estado tem o segundo menor PIB médio do Brasil, apenas ficando na frente do Piauí. Em 2009 o PIB per capita anual do estado ficou em R$6.259,43, que equivale a 1,3 salários mínimos daquele ano. O Piauí teve PIB per capita anual de R$6.051,10. Como o que é ruim sempre pode ficar pior, a informação mais dramática que se depreende das estatísticas divulgadas pelo IBGE é que o Maranhao teve a segunda menor taxa de crescimento do PIB médio no período de 2008 a 2009 (2,6%). Apenas Sergipe, no Nordeste, cujo PIB médio em 2009 foi de R$9.795,55 teve taxa de crescimento menor do que o Maranhão naquele lapso de tempo (0,1%). O Piauí teve a maior taxa de aceleração do PIB per capita de todos os estados brasileiros, entre 2008 e 2009. Com base nos dados do IBGE a estimativa que fiz para este estado foi  uma taxa de aceleração de incríveis 12,6%. Com base nessas taxas projeta-se que, quando o IBGE divulgar, no final do próximo ano, o PIB de 2010,  o Maranhão voltará a ser o estado brasileiro com o menor PIB per capita do Brasil.  Em 2010 o valor projetado do PIB per capita maranhense é de apenas R$6.419,18 (equivalente a apenas um salário mínimo anual daquele ano)  e o do Piauí deve ter atingido  R$6.815,34.

Contudo, o rol de informações ruins, retiradas dos dados divulgado pelo IBGE, não param por ai.  Dos cem (100) municípios com menores PIB médios em 2009, vinte e três (23) estavam no Maranhão. Para completar, o município brasileiro com menor PIB per capita é maranhense: São Vicente de Ferrer, cujo valor anual foi de ridículos R$1.929,97, o que equivalia a 39% do salário mínimo anual daquele ano.

Outra informação ruim que se retira dos dados do IBGE é que o PIB maranhense, além de ser baixo, é um dos mais concentrados do Brasil. Com efeito,  em 2009 apenas dezessete (17) municípios tinham PIB per capita  superior a média do estado.

Eu e doze pesquisadores da Ásia e Oceania tivemos o privilegio de conhecer a Coréia do Sul, convidados pelo Governo daquele País, no inicio dos anos noventa. Um País com área de 99,2 mil quilômetros quadrados, portanto, ligeiramente maior que o estado de Pernambuco (98.311 km2) e bem menor,  que os 332 mil Km2  do nosso Maranhão. A população coreana estimada para 2009 era de 48,3 milhões. A Coréia tem menos de um terço da sua área agricultável. Quando lá estivemos, o País ainda não era auto-suficiente na produção de arroz, o principal item da dieta coreana. Era questão de honra para o País virar o milênio atingindo aquele objetivo.  Não mediram esforços. Treinaram jovens coreanos nas melhores universidades do mundo. Desenvolveram um programa arrojado de reforma agrária, em que as famílias rurais não podiam ter menos do que meio hectare e mais do que  três (3) hectares. Adicionalmente, criaram um sofisticado programa de pesquisa agropecuária integrada  aos serviços de assistência técnica, fomento e extensão rural.

Tudo isso, ancorado num dos mais ambiciosos programas educacionais do mundo. Com isso a Coréia tornou-se auto-suficiente na produção do arroz que consome atualmente, eliminou o analfabetismo, elevou a escolaridade média, e hoje está entre os países com os melhores indicadores de desenvolvimento do mundo.

Na contramão do que foi feito na Coréia, os atuais detentores do poder no estado e que governaram durante toda a década de noventa (aquela perdida), primeiro (1997) acabaram com o sistema de agricultura no estado, e com ele a estrutura produtiva no único setor em que o Maranhão tem vantagem comparativa e competitiva. Deixaram a grande maioria dos municípios sem escola de segundo grau. Contribuíram para o estado ter a maior taxa de analfabetos do Pais (19%) e a menor escolaridade média (6,2 anos).

Quando reassumiram o poder, depois do golpe jurídico de abril de 2009, resolveram esquartejar o setor, criando duas secretarias. Fizeram de tal forma que faltam quase todos os tipos de recursos para ambas, e sobram desestímulos para a maioria dos seus técnicos, quase todos contratados em condições precárias, sem vinculo empregatício e recebendo salários indignos. Não obstante, atualmente a Secretaria de Agricultura e a AGERP terem como titulares dois excelentes profissionais e conhecedores do setor, observa-se a letargia da produção agrícola do estado. Não podem fazer milagres, diante da não renovação do quadro de pessoal, tanto de formulação de políticas como de execução. Nada podem fazer, pois sabem que aqueles que ainda estão por lá, pensam em sair, porque sabem que fora dali haverá melhores oportunidades de trabalho e de remuneração. Pobre Maranhão!

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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 17/12/2011

Contraste entre a Civilidade e o Dantesco: Japão e Brasil*

José Lemos

Naquela terrível sexta-feira, 11 de março de 2011, aconteceu o tsunami que destruiu toda a cidade de Sendai, localizada no Nordeste do Japão, aproximadamente trezentos quilômetros de Tóquio. Uma tragédia que matou milhares de pessoas, deixou outro tanto de desabrigados e desalojados e fulminou animais, de quem nunca se fala nesses momentos.

Transcorridos três  meses da catástrofe começaram os trabalhos de reconstrução da cidade. Por aquela ocasião os trabalhadores envolvidos encontraram pertences, ainda intactos, de pessoas que morreram ou tiveram que abandonar tudo para salvar a vida. Os objetos encontrados, inclusive dinheiro, foram todos devolvidos aos seus legítimos donos, através de agencias encarregadas de fazer a intermediação. As estimativas divulgadas por autoridades japonesas dão conta que mais de 90% do que foi encontrado havia chegado às mãos dos donos. O que faltava ser entregue devia-se ao fato de não terem sido reclamados, provavelmente, porque os proprietários pereceram e os parentes não apareceram para requerer. O fato relevante é que tudo que foi achado foi devolvido.

Ali foi demonstrado ao mundo um grande exemplo de civilidade, de honestidade, de respeito à dor alheia. Também ficou claro que aqueles que acharam os pertences alheios estavam conscientes de que não lhes pertenciam. Simples assim.

Sábado, três de dezembro de 2011, eu estava voltando para São Luis, capital do Maranhão, pela BR135. Por volta das dezesseis horas, ao chegarmos próximo ao Entroncamento, distante aproximadamente 100 quilômetros da capital, próximo à entrada que vai para a cidade de Itapecuru-MIrim, nos deparamos com uma fila enorme de carros.  A causa daquele congestionamento quilométrico, que impedia o fluxo de carros nas duas direções, era o tombamento de uma enorme carreta da Companhia Antártica que atravessava  toda a pista. Sobre o chão havia muitas garrafas quebradas.

Felizmente não se teve noticias da existência de vitimas. Contudo, presenciamos uma cena grotesca, ao vivo e à luz de um sol ainda muito forte àquela hora da tarde. Pessoas de diferentes posses se aproveitavam da situação para  subtrair, o que podiam, da carga do caminhão tombado. Saqueavam o que restou intacto. Adultos ofegantes, de diferentes idades, num frenesi indescritível, ajudados por crianças, que deveriam ser seus filhos, carregavam caixas que continham garrafas de cerveja, refrigerantes, colocando-os nos seus carros, ou nos ônibus de linha, que também estavam retidos à espera da liberação da pista.

Havia alguns policiais a quem perguntei se não podiam impedir aqueles atos de roubo explicito. Disseram simples, e candidamente, que se impedissem alguns de fazer, outros tomariam aquela atitude, que vai de encontro a qualquer fundamento de civilidade. Provavelmente o motorista daquele caminhão será penalizado pelo desaparecimento da carga. Ainda que não seja, caso a carga esteja protegida por seguro, alguém pagará aquela conta. O fato é que as pessoas estavam se apropriando de algo que não lhes pertenciam. Isso tem nome, chama-se furto.

Vendo aquela cena chocante, que poderia ter acontecido em qualquer lugar deste enorme Brasil, não podia deixar de comparar com o que aconteceu no Japão. Vivemos num país em  que o importante é levar vantagem em tudo. Um país que utiliza a máxima de que “achado não é roubado”. Um País que enaltece o mau-caratismo, a esperteza, a safadeza, o ar a perna nos outros para se dar bem. Claro que não pode dar certo!

Aqueles vândalos também votam e elegem os políticos que farão as leis e governarão o País, estados e municípios. Como terão condições de exigir postura ética por parte deles? Agindo daquela forma, inclusive “educando” os filhos em atos de roubo, como poderão esperar comportamento divergente de quem governa, de quem legisla ou dos membros do poder judiciário?

Agem como boa parte dos políticos brasileiros, que se posicionam próximo aos cofres públicos para fazerem fortuna pessoal de forma ilícita. Saqueiam-nos como aquela gente saqueava aquele caminhão Ai vale tudo. Superfaturamento de obras, licitações fraudulentas.

Agora a novidade são as “consultorias”. Instrumento que provoca multiplicação de patrimônios em tempo recorde de pessoas que não tem base cientifica ou treinamento adequado. Mas detém informações privilegiadas. “Coincidentemente” as “consultorias” são sempre prestadas para empresas que tem negócios com os governos (federal, estaduais ou municipais). Os pagamentos daquelas “consultorias” claro que não saem do faturamento das empresas, mas da sobrevalorização que imporão aos contratos que cumprirão com os governos, como decorrência das “consultorias”. Ou seja, nós que pagamos impostos é que arcaremos com o ônus. Lindo!

Num país assim, em que alguns apenas precisam de uma oportunidade para mostrar o seu verdadeiro caráter. Que futuro podemos esperar de  País em que os filhos aprendem a roubar  com os pais?.  O que nos espera no advir?

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*Artigo Publicado no Jornal O Imparcial do dia 10/12/2011.