Devido aos problemas decorrentes da escassez pluviométrica que castiga todo o Nordeste semi-árido desde o ano ado, e neste ano as projeções de entidades confiáveis que fazem prospecção de pluviosidade não são muito satisfatórias, as atividades agrícolas nesta região estão experimentando uma das suas maiores retrações dos últimos trinta anos.
Praticamente todos os produtos agrícolas vêm experimentando elevação de preços no varejo devido à escassez. Dentre esses produtos, a mandioca experimenta preços jamais vistos, inclusive em nível dos agricultores. A Bahia, que é um dos principais produtores da região teve retração expressiva de área colhida. Idênticas experiências devastadoras tiveram os demais estados da região onde prevalecem as maiores áreas de semi-árido.
Por esta razão, vejam só, a prosaica farinha de mandioca chega a ser vendida, neste momento, por até dez reais (R$10,00) o quilograma. E a farinha que se compra no mercado não tem o sabor nem é crocante como a farinha d’água feita no Maranhão. Agricultores de São Paulo, que não tem tradição no cultivo da preciosa raiz, estão incrementando as áreas e buscando cultivares de ciclo curto e com maiores rendimentos, para tirarem proveito da situação inusitada. Normalmente o produto mais nobre da mandioca é a fécula. Neste momento a farinha, mesmo essa de qualidade discutível, está com preço bem mais expressivo do que esse outro derivado.
Há um estado no Brasil, talvez o único, em que todos os municípios cultivam a mandioca. Este estado chama-se Maranhão. Em todos os seus duzentos e dezessete municípios encontraremos roçados de mandioca. No nosso estado a cultura funciona como uma espécie de poupança enterrada. Literalmente. Os agricultores mantêm a lavoura e, em momentos de dificuldade, desenterram-na e a transformam em farinha. Com isso conseguem, além de alimento para as famílias, amealhar algum dinheiro.
Não obstante a importância social que esta cultura tem para o estado, o Maranhão patina no seu cultivo. Enquanto no Paraná os agricultores conseguem produzir em média vinte e cinco toneladas por hectare, no nosso estado a média não chega a oito (8) toneladas por hectare. Valor que já se mantém por um longo período de tempo. Contudo, em 1940 o IBGE registra rendimento médio da mandioca no Maranhão de vinte toneladas por hectare. Ora se ha mais de setenta anos era possível obter rendimento tão expressivo, por que em pleno novo milênio ainda produzimos menos de dez toneladas por hectare?
A resposta está no descaso a que foi entregue a agricultura no Maranhão, sobretudo a praticada nas unidades agrícolas familiares. A Empresa Maranhense de Pesquisa Agropecuária (EMAPA), junto com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) foram extintas em 1998. De lá prá cá, apenas entre os anos de 2002 e 2006 foi dada, de fato, prioridade àquelas atividades no Estado, com a recriação da Secretaria de Agricultura que houvera desaparecido junto com aquelas empresas, e com a criação das Casas do Agricultor Familiar (CAF). Naqueles cinco anos o Maranhão conseguiu ter o a um maior volume de contratos (mais famílias) e de recursos do PRONAF e, como conseqüência, a produção de alimentos, inclusive a da mandioca, teve uma revigorada.
Naquele período do governo de José Reinaldo, com muita dificuldade, foi aprovado no Senado Federal, com os votos contrários de todos os senadores maranhenses, eleitos ou não pelo estado, o Programa de Desenvolvimento Integrado do Maranhão (PRODIM). Programa que tinha como finalidade mitigar pobreza via ações estruturantes e não assistencialistas. Por aquele programa, por exemplo, havia a possibilidade dos agricultores, reunidos em associações legal e legitimamente constituídas, dentre outras ações estruturantes, demandarem uma Unidade Beneficiadora de Mandioca. Agroindústria familiar que foi desenhada observando fundamentos de higiene, destino adequado para efluentes e que produzia com eficiência técnica a fécula, farinha d’água e/ou seca, de qualidade. O projeto viabilizava, além da produção, o ensacamento em embalagens que deveriam ter um selo de garantia de qualidade. Seria uma forma dos agricultores familiares maranhenses conseguirem aproveitar as vantagens comparativas e competitivas que o nosso estado tem na produção dessa importante matéria prima. Caso o PRODIM tivesse tido continuidade depois de 2006, os agricultores maranhenses estariam tirando proveito desses preços altamente remuneradores. O Maranhão poderia estar numa posição privilegiada tendo as nossas farinhas expostas nas gôndolas dos supermercados do Nordeste e do Brasil, exibindo para todos a marca que muito nos orgulharia “Made in Maranhão”. Mas isso, por enquanto, continua sendo um sonho que o Governador Zé Reinaldo teve naquele glorioso período de um Governo que provocou inflexão positiva em todos os indicadores sociais e econômicos do Maranhão. Tempos que almejamos voltarem logo. Chega de pesadelos!
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*Artigo publicado em 9 de março de 2013.