A tragédia do desabamento da construção em São Paulo, que matou dez operários, enlutando-lhes as famílias e entristecendo a Barra do Corda, remete-nos a comprovação da persistente miséria maranhense: dos 10 mortos 08 são da Barra do Corda, que migraram em busca de sobrevivência do Sudeste. No ado, quando o Maranhão produzia abundantemente algodão, arroz, óleos, milho etc. o nosso homem do interior, principalmente, não saia para ganhar a vida lá fora.
Ao contrário, recebia nossos irmãos nordestinos, expulsos pelas secas inclementes. Estes retirantes nordestinos ajudaram muito na grande produção maranhense. Entretanto, nos últimos 50 anos, com a entrega das terras públicas para os “projetos agropecuários”, (Lei 3.002 de 13/10/1970, iniciativa Governo Sarney), com incentivos fiscais da Sudene e da Sudam, o cenário da economia maranhense mudou.
Deu-se a expulsão do trabalhador rural para priorizar os tais projetos, que, pela influência maléfica de políticos governistas, todos vinculados a ditadura militar reinante, e cobrança de comissões de até 30% nas captações dos incentivos, levaram a falência e ineficácia dos mesmos. Hoje, o Maranhão – que no ado foi grande exportador agrícola – nada produz. Tudo compra de fora. Por ironia, até do Ceará frutas, legumes e verduras.
O nordestino não migrou mais para o nosso Estado sem seca, com rios perenes e terras férteis – dádivas maranhenses – pois os Estados deles, apesar das prolongadas estiagens, tiveram governos eficientes, legítimos e de gestões competentes. O Ceará, por exemplo, produz quase tudo o que consome e exporta. A maioria dos retirantes da seca, no ado, eram cearenses.
Aqui, o Maranhão da Mentira foi instalado, com muita mídia produzindo um Estado fictício: o dos milhares de empregos em fábrica de confecções inexistente, em refinaria inexistente, em hospitais e escolas que não funcionam – as procissões de ambulâncias continuaram transportando doentes para a capital. Produção? Só de governos corruptos e ilegítimos, quase todos.
A atual “Governadora” chegou – num de seus quatro mandatos “adquiridos” em “arranjos judiciais”, por ação e/ou omissão – a extinguir a Secretaria de Agricultura e todo o sistema do setor primário. A produção maranhense nos últimos tempos tem sido só de escândalos e enriquecimentos ilícitos de testas de ferro do grupo dominante.
Por ação, o Brasil assistiu, estarrecido, o golpe judicial que providenciaram para entregar o governo– do legitimamente eleito Jackson Lago – a quem perdeu a eleição. O Padre Vieira tinha razão quando se referia à mentira no Maranhão. Imaginem se vivenciasse a atualidade…
Não foram apenas as vítimas de Barra do Corda os retirantes maranhenses. Fazem parte de mais de um milhão de conterrâneos que migraram pela sobrevivência.
Êxodo de grande parcela da nossa população. No ado, a grande produção do ouro branco (algodão) do Maranhão trouxe até firma sa, a Cotoniere, para investir na sua produção. Sobretudo na Barra do Corda – onde meu pai foi gerente – que, hoje, exporta, como todo o Estado, apenas mão de obra barata e, as vezes, escrava, para os canaviais, construção civil do Sudeste e garimpos da Amazônia. Porque, há décadas, com raras exceções, o Maranhão não tem tido governo.
Os “governos”, ilegítimos, só conseguiram uma proeza: endividar nosso estado e seu povo miserável em vários bilhões de reais – não se sabendo a destinação – e conseguir colocar o Maranhão, potencialmente rico, na condição do mais pobre e com os piores indicadores sociais do país. Isto vai acabar no próximo ano, com a Primavera Política que se aproxima. O Padre Victor Asselin, que homenageamos postumamente, foi antes da libertação, mas trabalhou muito por ela. Seu livro, sobre corrupção e grilagem é o legado para a compreensão da miséria no campo maranhense. Que Deus o tenha.
*Wagner Lago é ex-deputado federal; exerceu três mandatos