A Páscoa, seus princípios e o Brasil

Por Flávio Dino

FlavioDinoVimos, na Quinta-Feira Santa, o Papa Francisco lavando e beijando os pés de imigrantes islâmicos na Europa. Pessoas que fogem da guerra e que têm tido tanta dificuldade de serem aceitos em outros países. É mais uma bela mensagem desse grande líder político e espiritual que nos convoca a vivenciar em nosso dia a dia os princípios cristãos de compaixão, solidariedade e superação do pecado, expressos na Páscoa.

A Páscoa é tempo de ressuscitar esses ideais de fraternidade, assim como a Quaresma que se encerra hoje, período que os cristãos guardam para fazer alguma penitência e reflexão sobre como vivenciar melhor os princípios da nossa fé.  Infelizmente, este ano no Brasil, vivemos dias de escassa reflexão e de muito exercício do ódio, que culminou no triste exemplo da mulher que agrediu fisicamente o arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer, com gritos de cunho puramente político, repetidos na internet por um militante de ultradireita que se diz “filósofo”.

É um lamentável sintoma de como a crise institucional que o país vive, alimentada por quem quer o poder a todo custo, está gerando violência entre os brasileiros. Precisamos de paz para trabalhar e gerar riqueza, vencendo a crise econômica. Precisamos de diálogo para, superando diferenças, encontrar soluções para problemas tão graves quanto a microcefalia que penaliza milhares de crianças em nosso país e a desigualdade social, um mal secular que aflige nossa Pátria.

Por isso, venho insistindo que diferenças políticas devem ser resolvidas no período eleitoral, marcado pela Constituição para 2018. Forçar soluções por maioria contingencial, à margem dos limites institucionais que criamos para resolver as divergências, pode nos levar a um caminho sombrio. Novamente, a própria Páscoa nos deixou exemplos. Bem adequado lembrar o ensinamento bíblico: foi o clamor de uma maioria momentânea que pressionou pela absolvição de Barrabás e condenação de Cristo à cruz (Mateus, 27: 20).

Jesus foi torturado e morto no calvário lembrado em vários pontos do Maranhão na Sexta-feira Santa, como na belíssima Via Sacra do Bairro Anjo da Guarda. Em todos esses Autos de Paixão, os cristãos reverenciam a fé de Jesus em uma causa: a de amar-nos uns aos outros, como Ele nos amou (João, 13:34).

Cristo ressuscitou e nos deixou um exemplo único de abnegação na vida terrena para mostrar-nos o caminho do amor,  inclusive para com nossos inimigos (Lucas, 6:35). Amor que o filósofo francês Gabriel Marcel, que viveu os tempos sombrios da Segunda Guerra Mundial, traduziu assim: “Amar uma pessoa é dizer-lhe: tu não morrerás jamais, tu deves existir, tu não podes morrer”.

Devemos aceitar a existência do Outro, seus desejos e vontades, respeitando os limites do Estado Democrático de Direito criados justamente após a destruição provocada pelo nazismo, que nada mais foi que a imposição de  vontade de um subjugando e destruindo o outro. Que hoje oremos por um mundo melhor, por uma Nação mais justa e em paz. E, mais uma vez, peço orações e a ajuda de todos para essa gigantesca tarefa de melhorar a vida dos maranhenses. Boa Páscoa a todos!

Páscoa, tempo de renascimento e partilha

Por: Flávio Dino 

MauricioAlexandre_Visita_Via_Sacra (20)Na última sexta-feira, celebramos a Paixão de Cristo. Os mais de 2 bilhões de cristãos do planeta exaltaram o desprendimento e entrega de Jesus a seu próprio destino. Sendo Ele o filho de Deus vivo na terra, podendo livrar-se de qualquer intempérie, decidiu seguir o caminho que se apresentou diante de Seus olhos. Morreu na cruz, como morriam, em seu tempo, os ladrões. Foi torturado e morto no calvário lembrado em vários pontos do Brasil na última sexta, como na emocionante Via Sacra do Bairro Anjo da Guarda, da qual tive a alegria de participar.

Em todos esses Autos de Paixão, os cristãos reverenciam a fé de Jesus em uma causa: a de amar-nos uns aos outros, como Ele nos amou. E qual ensinamento Deus nos dá com a crucificação e subsequente ressurreição de Jesus?

O teólogo Leonardo Boff faz uma interpretação interessante do significado desse fato: ‘Deus ressuscitou a vítima e com isso não defraudou nossa sede por um mundo finalmente justo e fraterno que coloca a vida no centro e não o lucro e os interesses dos poderosos’. Afinal, Deus poderia ter feito seu Filho morrer de qualquer forma menos sofrida ou tê-lo feito rei em qualquer um dos povos da época. Mas Jesus foi feito um homem simples, criado na Terra como um carpinteiro e escolheu não reinar, mas justamente enfrentar os poderes da época. E mais, podendo ter usado toda sua força divina contra os que o acusavam, escolheu cumprir a punição a que foi sujeitado por desafiar os poderosos. Com sua ressurreição, Deus nos apontou um caminho, segundo Boff: ‘Só ressuscitando os vencidos, fazemos justiça a eles e lhes devolvemos a vida roubada, vida agora transfigurada’.

E todos que nós que seguimos os ensinamentos de Cristo, qual caminho devemos seguir nesse deserto? Qual é o mundo que Deus espera que trabalhemos para construir? Basta atentar-nos ao Evangelho para saber como viveram os Apóstolos após a ressurreição de Cristo. Em Atos (4,32): ‘A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum’. Ou seja, era um mundo de partilha e comunhão, portanto de justiça plena.

Morto na cruz, Jesus renasceu na comunhão que seus discípulos fizeram de seus princípios. Dois mil anos depois, este segue sendo o desafio de todos nós que comungamos da Paixão de Cristo: lutar para colocar em prática Seus ensinamentos, única forma de vivenciá-los. Nesse caminho seguimos todos os homens de Fé.

Um dos mais belos hinos da liturgia cristã da Páscoa canta que ‘A vida e a morte travaram um duelo/O Senhor da vida foi morto mas eis que agora reina vivo’. Assim, o hino mostra que nem a morte é capaz de interromper essa busca. Pois, como diz o iluminado bispo Dom Pedro Casaldáliga: ‘A alternativa cristã é ou a vida ou a ressurreição’. Sigamos na luta por ela.

Flávio Dino, 43 anos, é presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), foi deputado federal e juiz federal