INCRA GARANTE DESAPROPRIAR 45 MIL HECTARES NO BAIXO PARNAÍBA PARA A REFORMA AGRÁRIA

Do Blog do Aldir Dantas

Durante reunião sobre o tema “Sociedade e Agricultura Familiar” e os “Impactos do Agronegócio na Região do Baixo Parnaíba”, realizada no Campus da Universidade Federal do Maranhão , da cidade de Chapadinha , o Superintendente do Incra, José Inácio Rodrigues afirmou que as ações da instituição para a região do Baixo Parnaíba nos próximos dois anos, resultarão em desapropriações e vistorias para a criação de novos assentamentos. Garantiu a todos os presentes que serão arrecardados 45 mil hectares de terras para a produção de alimentos e a sustentabilidade das famílias assentadas.

As declarações foram recebidas com bastante surpresa, levando-se em conta que a área é marcada por muitos conflitos agrários com os avanços indiscriminados da monocultura da soja e a predominância do eucalipto com o grupo Suzano Papel Celulose, como o maior predador ambiental , inclusive acusado de ter incorporado terras devolutas ao seu patrimônio , e que recebe uma proteção exacerbada de várias instituições do Poder Executivo Estadual.

A palestra do superintendente para maioria não ou de impressionismo promocional pessoal, diante da realidade e as inúmeras dificuldades enfrentadas pelo órgão, inclusive a falta decisão política para a reforma agrária , mas as entidades presentes garantem que não vão economizar cobranças .

Incra anuncia ações para ampliar a reforma agrária no Maranhão

Do Jornal Pequeno

POR MANOEL SANTOS NETO

O superintendente do Incra no Maranhão, José Inácio Rodrigues, informou que mais de 2.000 famílias foram assentadas no Estado, durante o ano de 2011, superando a meta estabelecida pelo próprio órgão. ‘Este dado nos coloca hoje em primeiro lugar em nível de Brasil no que diz respeito a número de famílias assentadas’, afirmou José Inácio.

Ele salientou que outro dado importante é que, na segunda-feira ada (26), foram assinados pela presidente Dilma Rouseff decretos destinando 15 imóveis rurais para a reforma agrária no Maranhão, que tem capacidade para assentar 879 famílias de trabalhadores rurais sem terra.

Nesta entrevista ao Jornal Pequeno, José Inácio faz uma avaliação dos primeiros três meses de seu trabalho à frente da Superintendência do Incra-MA e fala sobre as metas traçadas para o ano de 2012:

Jornal Pequeno – Qual a sua avaliação destes três primeiros meses à frente da Superintendência do Incra no Maranhão?

José Inácio – Assumimos a Superintendência do Incra no Maranhão num momento muito conturbado. Num primeiro momento, procuramos nos apropriar da estrutura do órgão no Maranhão. Levantamos todas as demandas que se encontravam pendentes e procuramos resolvê-las de imediato. Citamos como exemplo a fiscalização e pagamento de obras de reforma e construção de casas, tendo em vista que algumas estavam há mais de ano sem serem vistoriadas.

Vale ressaltar o apoio que temos da Direção Nacional do Incra, que tem confiado no nosso trabalho, sobretudo em momentos em que foi preciso a vinda de dirigentes nacionais do órgão ao nosso estado, como foi o caso do presidente Celso Lacerda, que visitou a Superintendência no mês de novembro. Sua vinda foi fundamental para que resolvêssemos imes com setores dos movimentos sociais, a exemplo dos quilombolas e sem terras.

JP – O Incra no Maranhão foi alvo de várias denúncias de corrupção. O que a sua gestão tem feito para coibir irregularidades no órgão?

JI – Todas as denúncias de irregularidades no Incra/MA já estão no âmbito do Judiciário e estão sendo apuradas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Nossa meta é fazer uma gestão ética, transparente e combater exemplarmente quaisquer casos de irregularidades que eventualmente possam acontecer. Em função disso, logo após nossa posse fizemos visitas aos órgãos de controle e investigação com sedes aqui no estado.

JP – Todas as reivindicações feitas pelos movimentos que ocuparam a sede do Incra neste segundo semestre de 2011 foram atendidas?

JI – Na primeira semana, após a nossa posse, uma das nossas primeiras providências foi visitar entidades e representações dos trabalhadores rurais e quilombolas aqui em São Luis. Mostramos nossa proposta de trabalho e solicitamos suas demandas, num calendário de prioridades, e estamos atendendo na medida do possível.

O Incra foi ocupado por comunidades quilombolas e, por meio de negociações e com o apoio da Direção Central desta Autarquia, como já mencionei, conseguimos atender inúmeras reivindicações dessas comunidades.

Entre elas podemos citar o atendimento com relatório antropológico, via pregão nacional, de 34 comunidades quilombolas, localizadas em 23 municípios maranhenses; e elaboração dos relatórios antropológicos das comunidades em áreas consideradas de conflito, a exemplo de Charco, no município de São Vicente Férrer, Alto Bonito, em Brejo, e Cruzeiro, em Palmeirândia.

JP – De um modo geral, o que tem sido feito em termos de desapropriação de terras para fins de reforma agrária no Estado?

JI – A Superintendência realizou várias vistorias preliminares e se imitiu na posse de imóveis rurais, que agora serão destinados a assentamentos de trabalhadores rurais. Como resultado disso, estamos com mais de 2.000 famílias assentadas em 2011, superando a meta estabelecida, o que nos coloca hoje em primeiro lugar em nível de Brasil no que diz respeito a número de famílias assentadas.

Outro dado importante é que nesta semana foram assinados pela presidenta Dilma Rouseff decretos destinando 15 imóveis rurais para a reforma agrária no Maranhão, atendendo reivindicações de entidades ligadas aos trabalhadores rurais. Isso vai nos possibilitar a resolução de vários conflitos agrários no estado.

JP – E quanto aos assentamentos? O que o Incra tem feito por eles?

JI – Uma das nossas principais preocupações é a qualificação dos assentamentos, para torná-los produtores de alimentos e geradores de ocupação e renda às famílias assentadas.

Desde que assumimos a Superintendência estamos buscando recursos para implementar ações básicas de infraestrutura nos assentamentos, assistência técnica e assegurar um maior o ao crédito do Pronaf, que venham a permitir um maior desenvolvimento sócio-econômico das áreas de reforma agrária.

Esta semana assinamos 14 convênios com prefeituras para realização de obras de implantação e recuperação de estradas vicinais, melhoramento de caminhos de os, implantação de bueiros, pontes e ainda a perfuração de poços artesianos com distribuição de água até as moradias dos assentados. Podemos destacar ainda a liberação de mais de R$ 40 milhões para construção e recuperação de casas para famílias assentadas.

JP – Que ações deverão ser implementadas pelo Incra-MA em 2012?

JI – Entre as principais metas da nossa gestão para o ano de 2012 está a implementação de ações que venham alterar o modelo produtivo dos assentamentos. Para isso vamos ampliar o numero de famílias atendidas pelos serviços de assistência técnica, ando de 12.000 mil para 30.000 mil famílias a receberem esses serviços.

Vamos implementar a regularização dos territórios das comunidades quilombolas. Vamos realizar um pregão eletrônico a nível estadual para contratar 30 laudos antropológicos e realizar convênios com o Governo do Estado, por meio do Iterma, para regularizar 50 comunidades quilombolas que são de competência do Estado regularizar. Vamos fazer a retomada de lotes ocupados irregularmente.

Estaremos desenvolvendo uma ação para coibir a venda de lotes da reforma agrária, assim como ajuizar ações de reintegração de lotes ocupados indevidamente; e adequar os assentamentos com infraestrutura de estradas e sistemas de abastecimento de água. Vamos criar uma comissão permanente de licitação para que o Incra possa contratar empresas e assim fazer a execução direta para construção de estradas e implantação de sistemas de abastecimento de água nos assentamentos.

Quinze imóveis rurais são destinados para reforma agrária no Maranhão

Do Jornal Pequeno

O Diário Oficial da União publicou os primeiros decretos de desapropriação de terras para fins de reforma agrária assinados pela presidenta Dilma Rousseff. São 60 imóveis rurais, somando área de 112,8 mil hectares para assentamento de 2,7 mil famílias de trabalhadores rurais. Dessas áreas, 15 estão no Maranhão.

Dos 60 imóveis constantes dos decretos, 15 são do Maranhão e tem capacidade para assentar 879 famílias de trabalhadores rurais sem terra. Entre esses imóveis estão: ‘Bebedouro, Data Laranjeiras’, com área de mil e dezesseis hectares, situado no município de Urbano Santos; ‘Pavi I e II’, com área de três mil, seiscentos e cinqüenta e um hectares, no município de Vargem Grande; ‘Boa Esperança, São Braz e Arrupiado’, com área de três mil, oitocentos e quarenta e seis hectares, situado nos municípios de Coelho Neto e Chapadinha.

‘A expedição desses decretos não só possibilita o assentamento de centenas de famílias no Maranhão, como reduz o número de conflitos pela posse da terra no estado e ainda preserva o meio ambiente já que, de acordo com os decretos de desapropriação, devem ser mantidas as áreas de reserva legal e preservação permanente dos imóveis decretados para fins de reforma agrária’, informou o superintendente regional do Incra-MA, José Inácio Rodrigues.

De acordo com o superintendente José Inácio, a Autarquia realizou vistorias nesses imóveis rurais e enviou os pedidos de desapropriação das áreas a Brasília para expedição dos decretos, atendendo reivindicações dos movimentos sociais e entidades ligadas aos trabalhadores rurais.

Com a publicação desses decretos, o próximo o será a Procuradoria Especializada do Incra-MA requerer à Justiça Federal o ajuizamento das desapropriações para fins de reforma agrária. Em seguida, cabe à Justiça Federal autorizar a imissão do Incra na posse do imóvel.

A partir daí, as fazendas já podem ser utilizadas para fins de reforma agrária. O Incra expede portaria criando projeto de assentamento e finalmente as famílias de agricultores am a ser atendidas pelas ações e programas do governo destinados aos beneficiários da reforma agrária.

Resistência importante e necessária

Do Jornal Vias de Fato

Emilio Azevedo* e Inaldo Serejo**

O ano de 2011 tem sido marcado pela ação política de quilombolas, ribeirinhos, assentados, acampados e indígenas em São Luís do Maranhão. Estes camponeses vêm dos mais diferentes pontos do Estado até a capital denunciar o histórico descaso do governo federal com a titulação dos territórios tradicionais, reforma agrária e a profunda aliança entre o grupo Sarney e o latifúndio assassino.

Nestas mobilizações, do campo para a cidade, foram feitas greves de fome, panfletos/denúncias, manifestações em frente ao Palácio dos Leões e do Tribunal de Justiça, além de ocupações e fechamento de prédios públicos. No mês ado, em agosto, num só dia (30/08), índios, quilombolas e sem terra, fecharam as sedes regionais do INCRA, Embrapa, FUNAI e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Todas estas manifestações têm ocorrido, principalmente, porque no Maranhão houve um crescimento evidente da violência no campo. Isto é publico e notório. Cresceu o número de assassinatos, espancamentos, atentados contra organizações sociais, ameaças, tiros, sangue… O latifúndio avança criando esta situação extrema e os povos da terra resistem.

Ao final do acampamento quilombola no mês de junho o escritório da T-MA foi arrombado e documentos foram revirados. No mês de julho, depois de um importante encontro do Movimento Quilombola da Baixada (MOQUIBOM) o escritório da T de Pinheiro também sofreu um arrombamento e apenas um computador foi levado. Durante o último acampamento na sede do INCRA-MA foi disparado uma série de tiros contra a casa do quilombola Zé da Cruz (Pirapemas), índios Awá Guajá, na região de Bom Jardim, sofreram ameaças de morte por parte de madeireiros e, na região Tocantina, houve uma ameaça de despejo no acampamento Salete Moreno, no município de Ribamar Fiquene, local onde, constantemente, pistoleiros cercam a comunidade e disparam tiros para intimidar os sem terra. No mesmo período uma indígena kanela foi morta, depois de estuprada com requintes de brutalidades, no município de Barra do Corda.

No começo deste mês de setembro, depois de todas as inúmeras denúncias feitas invadiram e tocaram fogo em um dos escritórios do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). E, no município de Estreito, a Polícia Militar do Estado espancou e prendeu quatro assentados do MST.

Está muito claro, portanto, que estas mobilizações que tem a chegado a São Luis em forma de acampamento, nada mais são que um reflexo, uma consequência do clima tenso, e até mesmo trágico, que é vivido hoje em diferentes pontos do Maranhão.  E, ao chegar à capital, eles tem colocado o dedo exatamente em cima da ferida, falando dos motivos que leva ao aumento dos conflitos em nosso estado.

Estes motivos devem ser sempre repetidos e registrados:

1º razão dos conflitos – A opção do Estado brasileiro em favor do latifúndio. A decisão de entregar as terras ao agronegócio, que não respeita (e por isso mata) posseiros, índios, quilombolas e sem terra. A falta de investimento em agricultura familiar camponesa, provocando um drama ainda maior no Maranhão, estado com notória vocação rural e dominado por uma máfia. Hoje as terras do Maranhão estão sendo, cada vez mais, entregues às mineradoras, aos plantadores de soja, eucalipto, cana de açúcar etc. Sendo assim, este estado é o lugar do Brasil onde se tem a estrutura fundiária mais concentrada, por isso injusta e excludente.

2º razão dos conflitos – A presença do crime organizado em todas as esferas de poder no Maranhão. A máfia age nos quatro cantos do estado sob o comando e o apadrinhamento de José Sarney e do governo de Roseana. E toda essa degeneração atinge o sistema de segurança e da justiça, que age sob influência de prefeitos, deputados e outros agentes públicos. O latifúndio é base de apoio da máfia! Por isso, o Maranhão se torna uma terra sem lei. Não se trata apenas de um caso de polícia ou de justiça, mas, principalmente, de política, ou da degeneração total da política. É de interesse do poder local que o aparato de segurança trabalhe a serviço do latifúndio assassino. Uma prova do que estamos dizendo é que muitos casos de violência no Maranhão não se constituem em inquérito policial. Em algumas delegacias sequer as autoridades policias fazem o Boletim de Ocorrência das violências sofridas. A impunidade é premeditada. Em entrevista concedida ao jornal Vias de Fato, em dezembro de 2009, Manoel da Conceição disse que, no final da década de 1960, tentaram matá-lo e “Sarney esteve metido nisso”.  Na época, Manoel escapou. Recentemente, Flaviano Pinto Neto e outros camponeses, não tiveram a mesma sorte.

Diante destes dois motivos citados, não é a toa que tanto no acampamento de agosto, quanto no de junho, os quilombolas, os índios e os sem terra começaram sua ação na Praça Pedro II – onde fica a sede do governo do Maranhão e do Tribunal de Justiça – indo depois para o INCRA, órgão que deveria fazer a reforma agrária e a titulação de território de comunidades tradicionais, mas que, no Maranhão, tem seu comando sempre atrelado à oligarquia local, atuando na prática como um braço do latifúndio.

Ao chegar a São Luís, estas mobilizações têm contado com o apoio muito importante de setores urbanos, ligados à universidade pública (estudantes e professores), ao movimento sindical, à luta por moradia, à defesa dos Direitos Humanos e à comunicação alternativa (incluindo sites, redes sociais, blogs etc.). A repercussão tem sido de tal ordem que até o nefasto Sistema Mirante é obrigado a registrar a mobilização.

Toda esta ação dos camponeses do Maranhão é um processo de resistência visível e crescente. E que se torna importante porque, além de discutir o específico (orçamento, crédito etc.) entra também nas questões de fundo, unindo numa mesma ação política, quilombolas, índios, sem terra e posseiros.

O que para alguns pode parecer radicalização ou loucura, na verdade é uma necessidade, uma questão de sobrevivência. Trata-se de uma situação que, certamente, interessa a diferentes organizações que atuam junto aos camponeses do Maranhão, caso da T, MST, CIMI, FETAEMA, FETRAF, Cáritas Brasileira, Moquibom, Fóruns e Redes de Cidadania, SMDDH, Justiça nos Trilhos, Fórum Carajás, ASP, CNBB, Irmãs de Notre Dame Namur, União por Moradia Popular, Comissão de Direitos Humanos da OAB, Centro de Defesa da Vida de Açailândia, entre outras.

Estamos falando de um problema que existe e tem que ser enfrentado. Os conflitos aumentaram! E nós não podemos deixar que eles – os que exploram e oprimem – banalizem a violência, os assassinatos e os atentados contra as diferentes organizações.  A solução, por mais difícil que pareça, só poderá ser alcançada com a articulação entre os muitos que resistem, com mobilização, pressão da sociedade e a livre informação, tudo associado a um crescente trabalho de educação popular.

Encerramos lembrando que, no Pará, a recente condenação e prisão do fazendeiro que mandou matar a freira Doraty Stang – um homem ligado ao esquema de Jader Barbalho, do PMDB – demonstra, na prática, que pressão social surte efeito. Afinal, nesse tipo de conflito, como diz a sabedoria camponesa, “o risco que corre o pau, corre o machado”.

 *Emilio Azevedo é jornalista e membro da coordenação do projeto Vias de Fato.

**Inaldo Serejo é padre e membro da coordenação da Comissão Pastoral da Terra (T) no Maranhão

Artigo publicado na edição de setembro do jornal Vias de Fato