Deu na ISTOE: O desespero do clã Sarney

Sob o risco de perder o poder no Maranhão pela primeira vez em quase meio século, a família do ex-presidente lança campanha predatória contra o principal candidato da oposição

Claudio Dantas Sequeira

CAMINHOS INCERTOS  A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e  seu pai: denúncias para atingir os adversários

CAMINHOS INCERTOS A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e seu pai: denúncias para atingir os adversários

Em quase meio século de domínio no Maranhão, o clã Sarney nunca correu tanto risco de perder o poder. Os sinais de esgotamento começaram a surgir nos protestos que tomaram as ruas de São Luís em junho e ganharam mais substância nas últimas pesquisas de intenção de voto para 2014. Em todas elas, os candidatos apoiados por José Sarney, inclusive sua filha Roseana, atual governadora, patinam em índices de popularidade incomuns para quem ditou os rumos políticos do Estado por tanto tempo. A maior ameaça à hegemonia dos Sarney chama-se Flávio Dino, que lidera as pesquisas para o governo do Estado com quase 60% de apoio, índice que o credencia a liquidar a eleição no primeiro turno. Exatamente por isso, o ex-deputado federal do PCdoB, ex-juiz e atual presidente da Embratur tornou-se alvo de uma campanha implacável de difamação que expõe o desespero de quem não está acostumado a ser oposição.

Um dos principais escudeiros da família Sarney na batalha contra Dino é o deputado federal Chiquinho Escórcio (PMDB/MA), que tem feito uma devassa nas contas da Embratur em busca de problemas que comprometam o presidente do órgão. Escórcio acaba de protocolar requerimento ao Ministério do Turismo questionando a Embratur sobre a decisão de abrir 13 escritórios de representação no Exterior. Ele também denunciou Dino à Comissão de Ética Pública da Presidência, acusando-o de usar o cargo para fazer campanha antecipada no Estado. “Dino trabalha em Brasília de segunda a quarta e viaja na quinta para o Maranhão. Quem você acha que está pagando isso?”, questiona Escórcio. Com a experiência de quem já travou nas urnas uma disputa com os Sarney em 2010, Dino diz que não cometeria tal deslize. “Todas as viagens não oficiais são pagas pelo PCdoB ou por mim”, garante. O presidente da Embratur diz que fica no órgão até o meio-dia de sexta-feira e só faz campanha depois das 18 horas.

ALVO  Presidente da Embratur e rival dos Sarney, Flávio Dino lidera as pesquisas para governador

ALVO Presidente da Embratur e rival dos Sarney, Flávio Dino lidera as pesquisas para governador

As denúncias feitas por Escórcio ganharam destaque nos veículos que integram o Sistema Mirante de Comunicação, da família Sarney. No domingo ado, o jornal “O Estado do Maranhão” publicou reportagem sobre obras-fantasmas que teriam recebido emendas parlamentares do próprio Dino, quando era deputado federal. Foram R$ 5,6 milhões para a construção de ginásios e campos de futebol na cidade de Caxias. As obras, porém, existem e já foram inauguradas. Há poucos dias, Dino teve que se defender de outra denúncia, a de que recebia salário da Universidade Federal do Maranhão mesmo sem dar aula. Uma nota oficial da própria universidade desmentiu a acusação. Os sucessivos ataques do clã Sarney levaram Dino a revidar. Em denúncias ao Ministério Público, acusa o secretário de Infraestrutura do Maranhão e pré-candidato ao governo, Luis Fernando Silva, de usar helicóptero oficial para reuniões partidárias. O PCdoB de Dino também questiona o que chama de “manipulação do orçamento” por parte da governadora Roseana Sarney. “A análise da lei orçamentária mostra que Roseana cortou verbas de saneamento, educação e segurança pública, enquanto triplicou o orçamento de Infraestrutura, pasta do pré-candidato deles”, afirma o deputado estadual Rubens Júnior (PCdoB).

artilharia

O ex-presidente também entrou na briga. Nos artigos que publica aos domingos em seu jornal, Sarney encarna o papel de vítima e se diz perseguido por uma oposição movida por “ódio, inveja, ressentimento e ambição desmedida”. O grau de irritação do velho senador aumentou depois que o Palácio do Planalto se mobilizou em prol de Dino. Sarney ameaçou sabotar o palanque de Dilma em vários Estados e agora negocia uma solução para o imbróglio. Na quinta-feira, arquitetou-se em Brasília um plano para um acordo capaz de agradar às duas partes. O vice-governador de Estado, Washington Luiz de Oliveira, do PT, trocaria o governo por um assento vitalício no Tribunal de Contas. Assim, Roseana poderia se licenciar para concorrer ao Senado sem o risco de um petista assumir o governo e virar a máquina estadual contra o PMDB. O Palácio do Planalto apoiaria Roseana e tentaria interditar o palanque estadual para Eduardo Campos. O problema é que o PSB de Campos é aliado tradicional do PCdoB e Dino já se comprometeu com o socialista. “Podemos abrir o palanque para todos os aliados que tiverem candidatos à Presidência, inclusive o PT”, diz Dino. A batalha, como se vê, exige uma complexa engenharia política. A única certeza é que, pela primeira vez em muitos anos, os Sarney têm motivos reais para entrar em desespero.

Um triste final

José Reinaldo
O ex-governador José Reinaldo Tavares escreve para o Jornal Pequeno às terças-feiras

A permanência demasiado prolongada do senador José Sarney como um dos homens mais influentes do país – em contraste com a situação de pobreza e abandono do Maranhão governado por sua filha – além de sua mais do que criticada agem várias vezes pela presidência do Senado Federal em gestões caracterizadas pelo mandonismo, afilhadismo e gastos sem limites e, por fim, a obsessão desenfreada por cargos, tudo isso culminou em um repúdio quase unânime pela sua figura pública. Uma coisa deplorável que nunca pensou que pudesse acontecer consigo e que não tem como modificar.

Para esse julgamento rigoroso, pesa muito a falta de contribuição à melhoria da situação do país. Naturalmente, já que Sarney sempre preferiu o caminho fácil da politização de qualquer assunto, o que o levou a não tentar resolver nada, lhe bastando atacar e agredir aqueles que ousavam mostrar a verdadeira situação do Maranhão como a resultante dos anos de mandonismo absoluto no estado.

Hoje o senador coleciona dissabores e humilhações. Só para ficar nas mais recentes, o PT nacional e local não quer mais saber dele, muito menos de ter que apoiar um candidato inexplicável como Luís Fernando ao governo estadual. O máximo que item seria uma compensação, apoiando Roseana Sarney ao Senado. Porém, se os maranhenses se perguntarem se o PT apoiará Flávio Dino, direi que não sei, porque resta ao senador um grande trunfo, que é a atenção que Lula tem por ele. Só Lula segura o PT e, como ele é quem diz a última palavra, a promessa para Sarney é manter o partido com ele, mesmo que – segundo foi divulgado – tenha participado da reunião que decidiu pelo desembarque e concordado com essa decisão.

O senador José Sarney sabe disso e, desesperado com essa perspectiva, ataca com virulência Gilberto Carvalho, secretário da Presidência e amigo de Lula, de longas datas, identificando o primeiro como uma das fontes de informação do que se ou na reunião. Quer que ele pare de contar o que se ou no referido encontro e joga nisso todos os seus cartuchos, porque sabe que a essa altura o apoio a Flávio Dino significa para toda a classe política o fim de tanto poder da família Sarney e a vitória antecipada da oposição.

E para seu pesar a nota do palácio do Planalto exigida por ele não fala em momento nenhum que quem representa a presidente da República politicamente aqui no Maranhão é José Sarney. É dúbia, diz apenas que esse assunto não foi tratado, mas ele no momento não consegue nada melhor do que isso. Uma humilhação ao ex-presidente.

Outro dissabor, dessa vez internacional, que atinge profundamente o seu orgulho de escritor, foi a recusa de um editor alemão em publicar um dos seus livros. A embaixada brasileira, segundo relatou o editor, teria se comprometido a comprar quinhentos desses livros em troca da publicação. Quando a parte da embaixada não foi cumprida, o livreiro abriu a boca e falou impropérios do senador, chegando a depreciá-lo e anunciou que estava rasgando toda a edição já pronta.

Esse assunto deprimente traz à tona uma ação inexplicável da embaixada brasileira e suscita uma dúvida para as edições anteriores dos livros dele lançados em outros países. Para que se expor assim? Era de fato necessário? Um membro ilustre da Academia Brasileira de Letras?

A terceira humilhação decorre da sua mania de tentar politizar qualquer ação (ou inação) que envolva o governo de sua filha Roseana Sarney. Na ânsia de defender o governo da filha e premido pela repercussão extremamente negativa – até internacionalmente – do caos instalado no sistema prisional maranhense, o senador (como, aliás, faz com todos os que ousam mostrar a verdade sobre a real situação do estado) resolveu colocar a culpa do que aconteceu nos juízes, contando uma inverdade. Em resumo, o senador divulgou que o governo de Roseana faz tudo corretamente, mas os juízes maranhenses, por meio de sua atuação, desmanchavam tudo o que ela fazia e obrigavam o estado a manter todos os presos juntos (condenados ou não) e que dessa forma seriam os verdadeiros responsáveis pela carnificina ocorrida. Roseana, essa diligentíssima governadora, não teria nenhuma culpa. O seu governo seria uma vítima de tais juízes.

A resposta indignada dos juízes, dura como teria que ser, surpreendeu o senador, tão acostumado a calar a boca de todo mundo. Teve que se desculpar com a severa, verdadeira e humilhante resposta dada pelo presidente da Associação dos Magistrados, juiz Gervásio Júnior, que estabeleceu a verdade dos fatos. Muito ao contrário do que disse o senador, os juízes, como praxe, ordenaram a separação dos presos, mas Roseana não deu a mínima atenção à determinação e contribuiu com a sua irresponsabilidade para a chacina que aconteceu.

O poderoso senador não quer reconhecer que os tempos são outros e que o fim de tanto poder se aproxima… Melhor seria se reconhecesse que o tempo a para todo mundo e está ando para ele e o seu imenso domínio no Maranhão. Chegou ao fim.

Não dá mais.

A maior tragédia estatística do Brasil

Por Flávio Dino

O suíço Jean Piaget, há quase um século, mudou a forma como as escolas educam as crianças quando propôs algumas teorias sobre o ensino. Uma de suas teses é de que o incômodo é o ponto de partida para o aprendizado. O exemplo clássico é do bebê que, diante de dor no estômago, chora. A mãe o amamenta e ele a a associar que, diante da fome, pode pedir comida. Aprende a superar a dor e alcançar o conforto da saciedade.

Ignorar o incômodo e deixar de “denunciá-lo” por meio do choro não resolveria o problema do bebê. Em um adulto, o silêncio seria um erro ainda mais grave. Os psicólogos chamariam tal atitude de negação – tipificada pela psiquiatra Anna Freud como o mecanismo de defesa psíquica mais ineficaz, por tratar-se de simplesmente ignorar uma realidade.

Corresponderia a alguém que, diante da queda de um objeto, em vez de agarrá-lo para evitar que caísse, asse a questionar a Lei da Gravidade. Portanto, é chocante ter lido no domingo ado o senador José Sarney, figura tão experiente e com carreira política tão longeva, gastar laudas para negar uma realidade escrita na pele de quem aqui vive.

Consideremos somente o estranho argumento de falta de validade do IDH, principal instrumento da medição feita pela ONU do grau de desenvolvimento dos povos, chancelado no Brasil por um órgão federal da excelência do IPEA. Pois faltaria espaço nesta página para elencar o total de rankings em que o Maranhão ocupa a última ou penúltima posição: pior índice de extrema pobreza do país, menor índice de policiais por habitante, o menor índice de médicos por habitante, menor abastecimento de água, o penúltimo estado do Brasil em expectativa de vida, e tantas estatísticas que enchem nossa alma de tristeza.

Infelizmente, esta longa lista não é obra de uma antipatia dos algarismos pelo nosso estado, tampouco de uma fantástica conspiração de todos os institutos de pesquisa do país e do mundo contra nosso querido Maranhão. É apenas a tradução, em números, da absurda realidade que os maranhenses enfrentam todos os dias com tanta coragem e altivez.

Para destacar coisas positivas de nosso estado, não é necessário tentar revogar o IDH ou a lei da gravidade. Basta citar a longa lista de indicadores que traduzem nosso imenso potencial. Temos o segundo maior litoral do Brasil, localizado próximo aos Estados Unidos, à Europa e ao canal do Panamá, que dá o ao mercado asiático; gás e ouro; agricultura, pecuária e pesca, com bom regime de chuvas; indústrias; um extenso território cortado por ferrovias, rodovias e um dos maiores complexos portuários do Brasil; rios e lagos; imenso potencial para o ecoturismo e para o turismo cultural.

Mas mesmo belas estatísticas despertam tristeza, já que contrastam justamente com a brutal negação de direitos que marca a vida da maior parte dos maranhenses. E como tanta riqueza é capaz de gerar tanta pobreza?  Como o estado que é o 16º mais rico do Brasil tem a penúltima posição quando se fala em distribuição de riqueza? Como um estado que produz mais de R$ 40 bilhões de reais em riquezas, todos os anos, tem em seu território uma em cada cinco pessoas vivendo abaixo da linha de extrema pobreza?

Talvez porque nem a riqueza – nem o martelo e o prego que a produzem – consigam chegar às mãos dos que trabalham. Denunciar essa realidade não é desamor pelo Maranhão. Esse argumento, de inspiração fascista e semelhante aos da ditadura militar, tenta negar o direito de a oposição se manifestar livremente. Não tenho ódio pessoal contra ninguém, mas sou imbuído de uma profunda indignação com tantas injustiças, e defenderei eternamente o nosso direito de lutar por um Maranhão que não veja a sua riqueza ser subtraída em tenebrosas transações, como canta Chico Buarque.

Voltamos ao vale tudo?

José Reinaldo

Ninguém pode duvidar do imenso poder da família Sarney. Na verdade, do senador José Sarney. Sempre que o poder da família corre riscos, que a lei pode alcançá-los, surgem inesperados juízes salvadores para mudar jurisprudências e inovarem com fantásticas interpretações favoráveis da lei, mesmo que não citem onde a jurisprudência está errada ou mesmo onde a acusação errou. E isso aconteceu novamente no julgamento de um caso envolvendo a cassação de diploma de um deputado federal do Piauí. Esse caso serviu para que o TSE mudasse a jurisprudência aplicada pelo próprio Tribunal ao longo de 42 anos. O que são 42 anos de entendimento pacífico no tribunal, quando o objetivo é atender o poderoso senador? O que são centenas de decisões baseadas nessa mesma jurisprudência que concluíram pela cassação de mandatos de prefeitos, deputados, governadores, entre os quais Jackson Lago?

Este último caso então é um primor, pois em estapafúrdia decisão, não apenas cassou o diploma (e o mandato) do governador, mas deu ao segundo colocado o cargo do cassado sem base em nenhuma lei ou na Constituição. Só numa mais que duvidosa interpretação. Mas Jackson Lago havia cometido um crime hediondo; vencer Roseana Sarney, filha de José Sarney, homem mais poderoso do país. Ou não é?

Que pena que tanto poder nunca tenha sido usado para beneficiar o estado mais pobre e atrasado do país.

O parecer do procurador-geral não deixa dúvidas. Com tantas provas, havendo o julgamento, a cassação seria inevitável. Certo disso, a maneira encontrada, certamente apoiada por expressivas e poderosas personagens da política nacional, foi identificar um processo na pauta de julgamentos que tivesse como objetivo a cassação de diploma, para, a partir dele, mudar a jurisprudência e cometer uma aberração: o Tribunal Superior não pode julgar. Quem pode é o Regional. Isso arquivaria o processo pronto para votar, depois de quase três anos de tramitação, ensejando novo início de todas as etapas.

Com efeito, a acusada terminaria o mandato conspurcado, sem ser julgada.

A própria Roseana Sarney, em sua defesa, já havia apelado para essa argumentação. Foi sua primeira preliminar, prontamente rejeitada pelo relator e pelo procurador-geral eleitoral. Vejam como o tribunal afastou essa preliminar: “Preliminar de Incompetência do Tribunal Superior Eleitoral – A competência do TSE para processar e julgar o recurso contra expedição de diploma não se restringe aos casos de presidente e vice-presidente da República. A jurisprudência é pacífica no sentido de que essa competência se estende aos demais cargos eletivos disputados nas eleições federais e estaduais.

A tese da competência, defendida pelos recorridos, ampara-se em voto vencido no Recurso Contra Expedição de Diploma n° 694-AP, de que foi relator o Ministro Ari Pargendler.

Na apreciação final do caso, entretanto, prevaleceu o voto da maioria, reafirmando a antiga orientação de que o Tribunal é competente para julgamento do recurso nas eleições federais e estaduais. Em trecho do lúcido voto do eminente ministro José Delgado, a questão ficou delineada nos seguintes termos: “(…) o TSE, em quatro décadas, tem sólida e uniforme jurisprudência que é da sua competência o julgamento do recurso contra expedição de diploma expedido em favor de senador, deputado federal, e seus suplentes, governador e vice-governador”.

Decisão confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. Mas poderoso é poderoso! Vejam:

“Acresce que, depois de muita discussão nessa Justiça Especializada, o tema da competência para julgamento de recurso foi levada ao Supremo Tribunal Federal, o qual negou referendo à cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n° 167-Brasília-DF, relator Ministro Eros Grau (sempre ele), que fulminou a pretensão. Logo, até o Supremo já havia reforçado essa decisão em oportunidade anterior.

E o procurador-geral conclui:

“A preliminar de incompetência ainda se funda no fato de que não cabe à Justiça Eleitoral julgar eventual prática de ato de improbidade istrativa. Se os convênios foram realizados com irregularidade ou desvio de finalidade, não cumpriria à Justiça Eleitoral decidir.

Com a devida vênia, o recorrente não pretende a análise dos convênios do ponto de vista de sua regularidade istrativa. O que busca comprovar, na verdade, é a interferência dos convênios na regularidade do pleito, do ponto de vista político e econômico, visando beneficiar e fortalecer as candidaturas dos recorridos.

(…) A questão foi retratada, de igual modo, no Recurso Ordinário n° 728 – Palmas-TO, relator Ministro Luiz Carlos Madeira, de cujo acordão se extrai trecho elucidativo: (…) Na ação de impugnação de mandato eletivo, cabe a Justiça Eleitoral analisar se os fatos apontados configuram abuso de poder, corrupção ou fraude e se possuem potencialidade para influir no resultado das eleições.

(…) À vista disso, deve ser afastada a arguição de incompetência”, fulmina o procurador.

O que querem é evitar o julgamento dos atos vergonhosos e fraudulentos daquela eleição, comprovadamente viciada, como bem demonstra o procurador-geral da República, em sua ação contra a governadora Roseana Sarney. Mas isso não poderão evitar. A comprovação dos malfeitos é clara e indiscutível na ação do procurador. Fraudou-se a eleição!

Se o julgamento de Roseana não for feito, o Tribunal terá dado a ela a certeza da impunidade e uma óbvia permissão para tentar influir economicamente na eleição de 2014. E acabará também, por impraticável, a reeleição no país, pois todos os que disputarem no cargo se acharão livres para usar o poder dos seus governos para conseguir um novo mandato.

Essa decisão é um tremendo retrocesso. Ficará livre o uso do poder do dinheiro para ganhar eleições no Brasil.

O prenúncio é de grande sujeira nas próximas eleições.

Tudo isso é fruto do desespero. Eles têm pavor de perder as eleições e o domínio do estado depois de 50 anos de hegemonia irresponsável. Mas eles se enganam, pois isso apenas reforçará no povo o desejo de mudança cada vez mais irreversível e próximo.

O senador José Sarney escreveu em seu jornal que nunca fez mal a ninguém e que não guarda ódio de ninguém, ou seja, nem de mim nem do Jackson, nem de tantos outros adversários.

Repete tanto isso que já virou um mantra. Será que quer que acreditemos?

O ex-governador José Reinaldo Tavares escreve para o Jornal Pequeno às terças-feiras

Manifestantes protestam em frente à casa de Sarney

Do Blog do John Cutrim

DAIENE CARDOSO – Agência Estado

MansaoSarneyComo não conseguiram ter o à residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um grupo de treze manifestantes faz neste sábado um protesto na frente da casa do senador José Sarney (PMDB-AP). No entanto, Sarney está internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Simbolicamente, foi montada uma barraca na frente da casa do senador e um grupo de policiais militares está posicionado em frente ao portão da residência.

Mais cedo, foi montada uma barreira de segurança na rua onde vive Renan Calheiros. A polícia legislativa faz o controle da entrada dos moradores que ocupam nove casas no local. A polícia militar também tem circulado pela região para monitorar o o dos manifestantes.

O protesto foi organizado por meio de redes sociais e o objetivo inicial era ocupar a rua de Calheiros. O grupo faz parte do movimento “Fora Renan”.

Estadão: Ligados ao Sarney têm benefícios

Oposição diz que clã montou espécie de capital paralela em Coroatá, governada pela mulher do secretário de Saúde e cunhado da governadora

COROATÁ – O Estado de S.Paulo

Ricardo Murad, atual secretário de Saúde do Maranhão, irmão de Jorge, marido da governadora, ou a ser o porta-voz e o nome do grupo que mais executa contratos do governo. Por ele a quase a metade dos R$ 2,4 bilhões do orçamento anual do Estado para custeio e investimento – não estão contabilizados os gastos com os servidores do quadro de carreira. Por ter parentesco com Roseana, ele não poderá disputar o governo. O escolhido do clã é o secretário de Infraestrutura, Luís Fernando Silva.

Prefeitos da oposição reclamam que Ricardo montou uma espécie de capital paralela do Maranhão em Coroatá, cidade de 62 mil habitantes, a 260 km de São Luís. O município governado pela mulher dele, Maria Teresa Trovão Murad, é o que mais recebe recursos da transferência direta da saúde no interior. Em 2013, Coroatá recebeu R$ 60 milhões, enquanto Caxias, com 155 mil moradores, chefiada por um adversário, Leo Coutinho, do PSB, não contou com esses recursos.

Reconstruído no ano ado, o Hospital Microrregional de Coroatá dispõe de 100 leitos e tratamento de alta complexidade. No prédio funciona a central de leitos da região. Ricardo nega que tenha deixado de lado o “Socorrão” de Presidente Dutra – a unidade não atende gestantes e não faz cirurgias complexas – e o hospital de Caxias, que está fechado para reforma.

Na semana ada, Maria de Lourdes Ferreira da Silva, de 74 anos, era levada de ambulância de Caxias para Presidente Dutra após sofrer um AVC. Ela está internada no “Socorrão”. A filha de Maria de Lourdes, a diarista Maria de Nazaré, de 38 anos, reclama da viagem de 3h em estrada precária.

No povoado Sete de Setembro, em Coroatá, a unidade de saúde, parceria do governo federal e da prefeitura, já consumiu R$ 180 milhões e está tomada pelo mato. “O médico só faz consulta e falta remédio”, diz a manicure Rayane Mourão, de 20 anos, mãe de um menino de 1./ L.N.

DR. RUY MESQUITA

Por José Reinaldo Tavares

Em 2006, o paradoxo político maranhense estava mais uma vez no limite máximo. Meu governo havia, por três anos, negociado exitosamente com o Banco Mundial um grande e inovador programa de combate à pobreza que tirava totalmente da classe política, pela primeira vez, a intermediação na aprovação e liberação de recursos. O programa era inovador e contava com o entusiasmo de técnicos do banco, porque delegava aos pobres a escolha dos caminhos locais contra a pobreza, além de entregar o dinheiro em etapas às suas associações, comandadas inteiramente por eles. Cada etapa realizada era fiscalizada por um conselho de cidadãos da sociedade local. A cada etapa concluída, os recursos da próxima eram liberados. Sem intermediários.

Era uma tentativa de evitar desvios, porque os programas anteriores executados em outros governos itiam intermediação e, como consequência, só uma parcela dos rees financeiros chegava até aos pobres e nada era completado ou concluído. Enriqueceu a muitos. Triste memória.

Tudo ia bem, o governo brasileiro apoiava firmemente, mas faltava ainda o cumprimento de uma exigência constitucional. A aprovação pelo Senado, o que normalmente era realizada sem demora.

Mas não no nosso caso. Na ocasião, o Senado era comandado por um maranhense e o projeto, de maneira mesquinha, foi jogado em uma gaveta e só com a intermediação de Eduardo Campos, presidente do PSB e Líder do governo na Câmara, além da pressão direta dos agricultores naquela Casa, é que conseguimos aprovar o projeto com a ajuda inestimável de senadores de outros estados, enquanto os do Maranhão bradavam contra. Uma coisa deprimente e ridícula; mas, sobretudo, esclarecedora.

Nessa época, fiz um esforço extraordinário pela aprovação. Falei com praticamente todos os senadores, procurando-os em seus gabinetes. Munido de vasta documentação, eu procurava mostrar os deploráveis indicadores sociais do estado e como esse projeto era importante para combater a injusta situação e o que esperávamos dele.

Foram três anos perdidos com o projeto guardado em uma gaveta do senado!

Procurei também a grande imprensa brasileira. Agendada por Elsinho Moco, foi marcada uma entrevista com o Dr. Ruy Mesquita, que comandava as páginas de opinião do jornal O Estado de São Paulo, um dos maiores e mais respeitados jornais do país.

Cheguei pontualmente na hora marcada, às 14h, no escritório do Dr. Ruy no jornal. Homem muito experiente, afável, gostava muito de ouvir o interlocutor e deixou-me à vontade. ou-se uma hora e meia de boa conversa. Falei sobre as dificuldades que atravessava no governo totalmente bloqueado pela força do senador junto à esfera federal, sem o aos programas e liberações; falei do esforço que fizemos para alcançarmos o necessário equilíbrio fiscal do estado que encontrei falido, porém com a mídia maranhense quase inteiramente dominada pelo senador, eu não tinha como explicar convenientemente à população o que estava acontecendo. Por fim, falei que corríamos o risco de perder um empréstimo do Banco Mundial porque o senado, por influência do senador, boicotava a aprovação do empréstimo, já aprovado pelo estado, pelo governo federal e pela diretoria do banco. Tudo porque o senador não queria ou não se importava com a pobreza dominante no mais pobre estado do país. Não itia e não ite que adversários façam qualquer coisa.

Ruy Mesquita começou a narrar alguns episódios com o senador e era visível que tinha dele um conceito muito ruim, quase um desprezo. E isso muito antes do episódio da censura ao jornal patrocinado pela família e que já perdura quase quatro anos à revelia da constituição.

No fim da conversa, me perguntou o que eu queria dele. Respondi de imediato que queria fazer um artigo e publicá-lo no jornal o quanto antes, sabendo que a força do jornal paulista iria abrir os olhos do senado e tornar possível a aprovação do empréstimo.

Mesquita concordou de pronto, ligou para o chefe da redação e disse que eu estava indo falar-lhe para combinar um artigo. Pediu que um secretário seu me acompanhasse. Combinamos tudo, ficou tudo acertado, número de palavras etc.

Enviei o artigo, mas não sabia quando seria publicado. Em uma quarta-feira estava em Brasília cumprindo mais um dia de agendas oficiais e, cedo, por volta das nove horas da manhã, eu estava entrando no senado para conversar com alguns senadores, quando já na entrada fui saldado calorosamente por senadores e deputados, elogiando o artigo que estava publicado na edição desse dia do jornal O Estado de São Paulo. Feliz, porque praticamente todas as pessoas que encontrei haviam lido o artigo, fui em seguida para uma reunião agendada com o ministro Márcio Tomás Bastos da Justiça. Ele me recebeu, parabenizando-me pela publicação e em seguida, motivado pelo artigo, levamos algum tempo falando sobre o Maranhão.

Quando sai dali, liguei para o Dr. Ruy para agradecer e testemunhar a força incrível do jornal, descrevendo rapidamente o que havia acontecido. Disse a ele que agora acreditava que o empréstimo seria aprovado e que devíamos muito a ele. Ele me disse que só leu o artigo depois de publicado e que gostou muito e tinha uma surpresa para mim. Perguntei o que seria e ele me informou que havia ordenado que um editorial do jornal repercutisse e comentasse o meu artigo. A única coisa que encontrei para dizer foi que aquilo era a glória para mim e que o interesse do jornal era fundamental para a nossa luta.

Aquele episódio foi inesquecível em minha vida. E foi com pesar que tomei conhecimento da notícia da morte desse grande brasileiro devotado à causa da liberdade, um homem apaixonado pelo jornalismo, um grande brasileiro que mereceu a homenagem dos brasileiros.

E foi marcante que, no dia da sua morte, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal negou provimento ao recurso do Estadão contra a censura imposta a ele para não divulgar nada sobre a Operação inicialmente chamada de Boi Barrica. Com isso será possível seguir em frente com recursos ao STJ e ao STF, onde a Constituição deve prevalecer, derrubando definitivamente decisões como essa, que representam um terrível simbolismo.

Esteja no céu, Dr. Ruy Mesquita!

O ex-governador José Reinaldo Tavares escreve para o Jornal Pequeno às terças-feiras

SARNEY SE IMPÕE AO PT

Por José Reinaldo Tavares

A família Sarney precisa muito ter um de seus membros no senado. Para eles é a coisa mais importante no momento.

As pesquisas não garantem a eleição de Roseana Sarney. Não ando de um terço da intenção de votos e conhecida por quase 100 por cento do eleitorado, ela deixou de encantá-los. Isto justifica a frenética movimentação dos chamados “itinerantes” que antes tinham o objetivo de apoiar Luís Fernando, mas hoje seu foco é Roseana. Se ela já não governava mesmo, agora é que abandonou tudo e só se dedica a própria campanha ao senado. É óbvio que, se puderem manter o governo, ficariam muito satisfeitos, mas existem prioridades e a principal delas agora é o senado. Mesmo porque não há de fato um candidato verdadeiramente competitivo e não existe nenhum outro Sarney em condições de disputar.

Mas não cuidam só da própria candidatura ao senado e não conseguem esconder que tentam repetir o jogo de 2010, incentivando candidaturas ao senado pela oposição. Seu objetivo e sonho é que a oposição tenha dois candidatos e o grupo Sarney apenas ela. Isso lhe garantiria poder de competição.

Dessa maneira, dão destaque a improváveis candidaturas oposicionistas a quem dedicam grandes espaços nos seus meios de comunicação quase todos os dias.

A oposição já ou por isso e aprendeu a lição. E só deverá tratar desse assunto no ano que vem, assim como ela própria também não se lança agora. Mas querem tornar irreversíveis candidaturas na oposição e quanto menos unirem, melhor. Mas acontece que o quadro de apoio partidário para a candidatura de Flávio Dino ainda está muito longe de fechar e candidatos ao senado e a vice-governador terão que forçosamente ar pelo crivo e aprovação de todos os partidos da futura coligação. Essa definição a ocorrer agora só seria boa para o grupo Sarney. Para a oposição, afasta partidos importantes da coligação oposicionista. No ano que vem, com o fechamento das coligações, é que esse assunto deve ser discutido.

Não dá para repetir esse golpe em duas eleições seguidas.

Se ocorrer de ficarem um contra um, a oposição poderá pela primeira vez eleger um senador, o que dará muita estabilidade ao governo da oposição que vem aí.

O atual senador José Sarney tem como único objetivo o poder, todos sabem. Penso que sua aposentadoria é como um pesadelo para ele. Ele sofrerá muito se ficar fora do poder nacional, quando ará a ser mais um. Afinal são muitos anos do exercício de grande poder. É muito difícil para ele e na verdade avalio que seja um grande drama pessoal.

Ademais, ele sabe como é fundamental um Sarney no senado nesse momento de grande instabilidade e mudança. De preferência ele mesmo. E como conhece profundamente o poder e seu uso, ele sabe que não pode jogar todas as fichas em Roseana Sarney (Sarney é Sarney e Roseana é Roseana) e no novo momento eleitoral do Maranhão. Ele sabe que é a cada vez é mais difícil repetir eleições como a de 2010.

O Amapá, estado tem seu domicílio eleitoral, é uma unidade federativa pequena, carente e atrasada. Muito mais fácil de manipular do que o Maranhão, principalmente com esse clima predominante de renovação. Assim, Sarney usa e abusa do governo e do PT onde sabe que Lula nunca lhe faltará. E quem manda no PT é Lula, que tem enorme influência no governo federal. Ninguém se arrisca a contrariá-lo. E Sarney sabe que sempre terá o seu apoio. Lula é sua salvação, tem certeza.

Pois bem, Sarney tem sempre repetido que não vai mais disputar eleições. Mas na realidade está em campanha no Amapá. Muito dessa ariscada decisão vem das dificuldades que Roseana Sarney terá em garantir sua eleição ao Senado no Maranhão, o que não lhe deixa opção. Tem que se arriscar.

Vejamos o que acontece: o programa do PMDB no Amapá foi monopolizado por Sarney, que foi o único a se apresentar e, como sempre, falou que sem ele o Amapá não vai para a frente. O PT nacional ordenou a seção do Amapá que eles não resolvam nada e nem lancem candidato antes da decisão do senador. E o governo, por sua vez, está prometendo ajudar a resolver os problemas do estado, se os Capiberibe votarem Sarney. E ele desenvolveu e se esforça para manter boas relações com o senador Randolfe do PSOL. Mas, enfim, Sarney só será candidato se não tiver que disputar a eleição com ninguém. Se disputar, pode perder a eleição, que provavelmente será a sua última.

O PT está à disposição dele. Quem manda é Sarney.

Se conseguir o seu intento, estará aqui no segundo turno para ajudar o candidato do governo. E vem com uma aura de invencível e com apelos dramáticos para o eleitor. Já sabemos como é.

Uma peça-chave nessa história é o senador João Capiberibe, muito maltratado por Sarney, traído e cassado por ele. Tem tudo para dar o troco. Basta ter candidato e se dedicar à campanha para isso.

Um ponto negativo é que seu filho encontra grandes dificuldades para governar o estado, já que Sarney não deixa o governador ter apoio do governo federal, embora ele seja filiado ao PSB, da base do governo.

E Sarney manda emissários do governo federal dizerem que, se o apoio ao senador se concretizar, tudo será diferente e apoio não lhe faltará, nunca mais.

Será que o senador Capiberibe vai cair no canto da sereia e contradizer tudo o que falava? Não dá para saber. O futuro nos dirá. Sarney sabe armar bem as coisas para o bem ou para o mal.