Carta dos Policiais Militares aos Quilombolas, Indígenas e Sem-Terra do Maranhão: a luta por dignidade nos faz irmãos!

Do Blog Diário de Luta

Carta aberta à população brasileira

Hoje, quando a nossa categoria está em greve em todo o Maranhão, está chegando a São Luís grupos de quilombolas e de lavradores sem terra. Eles, que após sucessivos acampamentos, vem novamente à nossa capital, desta vez para tratar com o presidente nacional do INCRA.

Sabemos que, historicamente, a relação entre a Polícia Militar e as organizações populares em nosso país não é boa. Porém, neste momento importante da história, onde lutamos por dignidade e melhores condições de trabalho, achamos oportuno falar desta outra luta, travada pelos homens e mulheres do campo.

Primeiro, temos que lamentar pela violência, oriunda dos conflitos de terra. Infelizmente ela acontece e nós, ao longo do tempo, tivemos nossa parcela de responsabilidade neste problema. itimos os nossos excessos e, agora, pedimos desculpas por eles.

Por outro lado, agora, quando grande parte da sociedade maranhense está sendo solidária conosco, queremos também deixar clara a nossa solidariedade com a luta dos quilombolas, dos índios, dos sem terra! Somos o mesmo povo, vítimas da mesma opressão, da mesma exploração que se alastras pelos quatro cantos do Maranhão!

É importante, antes de tudo, reconhecer que nós somos todos irmãos!

Hoje, nós estamos acampados na Assembléia Legislativa, querendo condições de trabalho para sustentar nossas famílias, enquanto eles querendo a terra, também para comer e sustentar os seus filhos. É nosso desejo que – nesta circunstância absolutamente atípica – se possa tentar inaugurar um novo momento entre os servidores públicos militares do Maranhão e as organizações sociais do campo e da cidade.

Achamos importante dar este  exemplo para o Brasil, mostrando o verdadeiro valor do nosso povo, a grandeza da nossa gente e gritando bem alto que hoje, no Maranhão, não se consente mais esperar!

São Luís, 29 de novembro de 2011
Associação dos Servidores Públicos Militares do Maranhão

Lavradores sem terra, quilombolas e índios seguem acampados no INCRA do Maranhão

Do Jornal Vias de Fato

A sede do INCRA no Maranhão seguirá, por tempo indeterminado, ocupada por lavradores sem terra, quilombolas e índios. Desde o dia 25/08 (quinta-feira), o acampamento que estava na Praça Pedro II, se mudou com mochilas e colchonetes para a sede do órgão. Junto com o acampamento estão faixas com críticas aos governos Roseana e Dilma Roussef. A decisão de ficar foi tomada na tarde de ontem (sexta/26/08), por uma plenária que reuniu algo em torno de 300 acampados.

Nos dois primeiros dias de ocupação do INCRA eles se reuniram com o atual superintendente do órgão, José Inácio, um burocrata que representa os interesses da oligarquia latifundiária, recentemente nomeado para o cargo. A conversa se deu na base da pressão e nela não foi dito nada de concreto aos acampados. Entre os que ocuparam o INCRA, ninguém está ali para ouvir embromação, ser cooptado pelo governo ou aparecer como personagem de propagandas enganosa.

Os acampados denunciam todo o fracasso da política de reforma agrária do governo federal e estadual, onde se inclui problemas relativos à titulação de terras, educação, saúde e moradia. Entre questões levantadas pelo atual movimento está novamente a segurança de dezenas de liderança rurais ameaçadas. Segundo Elias Araújo, do MST, “o grande problema é que o policiamento é ruim e o governo do Estado pior ainda”. Segundo ele “até agora nada foi feito”.

Ontem (sexta, 26/08), enquanto seguiu a pressão via acampamento, um dos advogados ligado a Comissão de Direitos Humanos da OAB acompanhou Catarino dos Santos, o Santinho, para prestar depoimento na Corregedoria Adjunta da polícia militar e na secretária de segurança do Estado. A ameaça contra ele foi feita por um Policial Militar e aconteceu no dia 16 de julho. Segundo Santinho, “as ameaças continuam, as pessoas têm medo de andar comigo, até os mototaxistas não querem fazer corrida comigo com medo de serem mortos também”.

A partir de segunda-feira vai ser retomada a pressão em cima do comando do INCRA, que tem como principal “argumento” sua limitação orçamentária. A pressão também se estenderá ao governo Roseana, responsável por uma parte significativa dos problemas.

Um dos grandes avanços deste atual acampamento é a realização de um movimento camponês reunindo índios, quilombolas e lavradores sem terra, articulados por organizações como MST, Comissão Pastoral da Terra (T), o Movimento de Quilombolas da Baixada (MOQUIBOM) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), alem do apoio da CONLUTAS, da União por Moradia Popular, de organizações estudantis, de professores universitários e do jornal Vias de Fato.