Máquina de fritar cérebros

Editorial / Jornal Pequeno

A televisão é um veículo de comunicação absurdamente perigoso, instalado nas salas de nossas residências, quase com vontade própria, posto que a programação é decidida ao sabor de interesses comercias, empresariais e políticos. Se manipulada corretamente, essa máquina pode alienar multidões, deformar a opinião pública, mentir, esconder intenções rasteiras, criar ídolos de pés de barro e vilanizar moralmente a quem interessar possa.

A classe quase média que ainda toma café nas feiras e barracos, que ainda aprecia um bolo de milho caseiro, um cuscus e um beiju, está ouvindo o diabo da boca do povo sobre os deputados maranhenses depois que o Sistema Mirante de Comunicação, com auxílio da Rede Globo, divulgou matéria sobre o aumento nas ajudas de custo dos deputados. Só falam nas 18 casas do deputado Manoel Ribeiro e os mais inteligentes dizem que os reajustes podem ser legais, mas são imorais.

As comparações com a miséria e os salários do povo são inevitáveis. A expressão menos ofensiva que se ouve é que não am todos os deputados de “um bando de vagabundos que não trabalha”. A precisa imagem que quis e logrou construir o Sistema Mirante sobre os deputados do Maranhão.

Não sabem que por trás dessa matéria está o interesse do grupo Sarney em manter sob controle os bilhões do Estado e que esse auxílio moradia nada representa diante da fortuna incalculável enfurnada nos cofres públicos cujo controle o grupo Sarney não pretende perder. Não sabem que isso é troco para um governo que transfere mais dinheiro para o Sistema Mirante de Comunicação, de propriedade da governadora Roseana Sarney, que para a Agricultura e, sabe Deus, para o próprio Sistema de Segurança Pública Estadual.

A impressão que ficou é que cada habitante de São Luís assistiu ao heróico “furo de reportagem de uma imprensa séria e comprometida com os valores éticos da democracia e com a honestidade no trato da coisa pública”. E com direito a imagens e entrevistas que fazem isto real. É terrível.

A máquina na sala de nossas casas “vazou” os cérebros de uma forma tal que se houvesse hoje uma eleição para governador ninguém se arriscaria a votar num deputado estadual do Maranhão. A mesma TV que foi utilizada para dividir a oposição no período pré-eleitoral, vigiando e desconstruindo par e o a istração João Castelo, e que hoje vigia 24 horas por dia a istração Holanda Júnior, em cada rua, cada escola, cada prédio público, cada documento assinado, proposta e projeto, se voltou contra a Assembléia Legislativa a dois dias atrás.

Nos cafés da feira percebe-se que o governo conseguiu o que queria. Afinal, estamos diante de uma máquina de fritar cérebros super poderosa. Calcula-se que existem mais televisões que fogões e geladeiras nas residências do país; mais de 98% dos lares possuem uma ou mais televisões. O mais grave é que para a grande maioria a televisão é a única fonte de informação e é disso que se vale o governo.

O problema é tão sério que existe uma pesquisa indicando que 44% das crianças que assistem TV não sabem mais diferenciar a vida real da vida virtual. Sob o controle de políticos, esse é um poder imensurável, supra-humano, talvez só comparável ao dos semideuses. A Assembléia do Maranhão sentiu contra ela o peso e a fúria desse poder agora. E não pode fazer nada. Se reagir, vai ser bem pior. Um beiju de feira para Roseana. Ela conseguiu mais uma vez.

25 ano$ da TV Mirante

Do Jornal Pequeno

Por: Franklin Douglas

A televisão é um instrumento de manutenção de poder político, econômico e ideológico. Nesta última característica, realçamos: a televisão consolida a visão de mundo que as pessoas/telespectadores têm da realidade que as cerca, das ideias sobre esse mundo. E, como dizia o velho Marx, as ideias dominantes em uma dada época, são as ideias da classe dominante.

Comunicólogo de vasto estudo sobre cultura e comunicação, Albino Rubim nos mostra que, diferente da Europa e dos Estados Unidos, onde a sociedade ou pela etapa da oralidade, depois ao domínio da escrita e, posteriormente, à etapa do audiovisual, o que tende a diminuir o impacto da influência da televisão na população desses países, no Brasil, amos do oral ao audiovisual sem termos cumprido a etapa do domínio da escrita. Consequência: numa sociedade de amplo analfabetismo funcional, a imagem da TV é o principal mecanismo de compreensão do mundo. O que a na “telinha” tende a ser entendido como verdade.

Não por outro motivo, o controle desse veículo de comunicação foi alvo imediato dos políticos e empresários a eles ligados, muitas das vezes sob a forma de “laranjas” (donos no papel, mas não de fato). Também, não por acaso, do segundo mandato presidencial de Getúlio Vargas (1951) – época da chegada da televisão ao país – até o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), as formas de concessão de canais de televisão sofreram alterações quase imperceptíveis em seu modelo de funcionamento.

No Brasil, seis famílias/grupos concentram a rede nacional de produção e distribuição de produtos midiáticos do veículo: Marinho (Globo), Silvio Santos (SBT), Sirotski (RBS), Saad (Bandeirantes), Igreja Universal (Record) e Marcelo de Carvalho (Rede TV).

No Maranhão, do início, com Raimundo Bacelar (1963), aos tempos atuais, a televisão é tão concentradora quanto as redes nacionais. Cinco famílias e uma única opção política, o sarneismo: Mirante/Globo – família Sarney (proprietários: Sarney Filho, deputado federal, Roseana Sarney, governadora e Fernando Sarney); Difusora/SBT – família Lobão (proprietários: Edison Lobão, ministro, Edison Lobão Filho, senador, Nice Lobão, deputada federal); TV Maranhense/Bandeirantes – família Ribeiro (proprietário: Manoel Ribeiro, deputado estadual); Cidade/Rede TV – família Vieira da Silva; TV São Luís/Record– família Zildene Falcão. A TVE/TV Brasil – do governo federal – é controlada no Maranhão pela oligarquia, como quase todos os cargos federais no Estado. O que se alastra pelo interior do estado em permissionárias e retransmissoras não foge aos núcleos locais de apoio do sistema central de poder, salvo raras exceções.

“Se não fôssemos políticos não teríamos necessidade de ter meios de comunicação”, confessa um crime à Constituição um José Sarney despudorado, em entrevista à Revista Carta Capital, de novembro de 2005.

O artigo 54 da Constituição Federal estabelece que senadores e deputados federais não podem “firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público; não podem exercer cargo, função ou emprego remunerado nestas entidades”; desde a posse, não podem “ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada”. E o artigo 55 estabelece que perderá o mandato o senador ou deputado “que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior”.

“Segundo a Transparência Brasil, 21% dos senadores e 10% dos deputados federais são concessionários de rádio e TV – sem contar aqueles que têm empresas em nome de familiares ou laranjas. Até o atual Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, já afirmou que ‘é mais fácil fazer o impeachment do presidente da República do que impedir a renovação de uma concessão de rádio ou TV’”, lembram os pesquisadores Valério Brittus e Luciano Gallas (site Observatório do Direito à Comunicação, agosto de 2008).

Algo semelhante disse a atual governadora do Maranhão, quando perguntada por que sua família não tomara antes a concessão da Rede Globo no Maranhão da família Bacelar e da TV Difusora: “Não é fácil tomar a televisão de um senador”.

Eis a lógica da oligarquia na criação da TV Mirante há 25 anos (foi fundada em 15 de março de 1987): (1) criar seu próprio sistema de TV; (2) enfraquecer política e economicamente um grupo aliado, para dele (3) tomar a concessão da maior emissora do país no Estado (em 1º de fevereiro de 1991, Magno Bacelar, sem mandato e sem dinheiro, reou a concessão da Globo em São Luís da TV Difusora para a TV Mirante – já o tinha feito o mesmo antes em Imperatriz); e utilizar esse veículo para (4) exercer o controle do debate público e (5) enriquecer à custa dos cofres públicos.

O professor Carlos Agostinho Couto, em sua tese de doutorado, calcula que, no primeiro momento em que controlou o governo do Maranhão (1995-2002), Roseana Sarney, como governadora, transferiu mais de R$ 79 milhões das contas públicas para as contas particulares do Sistema Mirante, de propriedade dos sócios, frisamos, Fernando Sarney, Sarney Filho e a própria Roseana Sarney. Em ambos os lados da mesa de negociação, a mesma família nos negócios de comunicação. Com apenas o governo do Estado, a Mirante e os Sarneys faturam o que 93% das empresas do Maranhão não conseguem obter de receita o ano todo!

Se não fossem políticos não teriam necessidade de ter meios de comunicação… Na verdade, se não tivessem meios de comunicação justamente por serem políticos, não enriqueceriam tão rápido pelos negócios da comunicação!

Em tempo: Mais que um instrumento, a mídia moderna é uma relação social. Nesse contexto, pode haver sim profissionais que trabalham nesse veículo mas não estão à serviço de sua lógica. Assim como, em dados momentos, para legitimar-se, essa mesma mídia excludente denuncia absurdos, como corretamente o fez em relação aos 18 salários dos deputados maranhenses. Nada surpreendente, mesmo vindo da Globo, a denúncia, ou a defesa do indefensável, por parte dos deputados roseanistas. Surpresa foi a reação dos deputados da oposição. Em vez da denúncia corajosa, “pérolas” como estas: “Há presunção de legalidade” – Rubens Júnior (PCdoB), “Defendo as prerrogativas do deputado” – Bira do Pindaré (PT), “Tem mês que chega a faltar” – Neto Evangelista (PSDB), “Muitas vezes nós tiramos do nosso próprio salário pra servir à população” – Graça Paz (do PDT castelista)… Não seria o inverso? Tiram do povo para servir ao próprio bolso? Eis porque denomino essa oposição de consentida: é fácil de ser desmoralizada pela oligarquia que, por isso, consente que seja essa a sua oposição. É a oposição dos sonhos de qualquer oligarquia!

Franklin Douglas, jornalista e professor, escreve para o Jornal Pequeno aos domingos, quinzenalmente. Email: [email protected]

TV Mirante e a “homenagem” de um vereador do PDT a morte de Jackson Lago

Do Blog do John Cutrim

Totalmente ridícula e extemporânea a homenagem de um vereador do PDT de São Luís, membro da oposição (?), feita a TV Mirante, veículo de comunicação pertencente à família Sarney. A solenidade, a título de “comemorar os 25 anos de fundação da TV Mirante” – completados no dia 15 de março deste ano – ocorreu na Câmara Municipal de São Luís em sessão solene, realizada na manhã de ontem (11).

Não se critica os funcionários do Sistema Mirante, maioria deles bons/sérios profissionais e amigos do titular deste blog, mas sim a instituição em si, pertencente a uma família oligárquica que a utiliza a favor dos seus interesses para dominar, por mais de uma década, um estado miserável o qual amarga os piores indicadores sociais.

A TV Mirante, da dupla Roseana e Fernando Sarney, todos sabem, até os mais incautos dos incautos, presta um imenso desserviço/ (des)informação a população. Por outro lado, é subserviente ao extremo a ‘politicagem’ dos seus patrões.

Quem não recorda dos ataques virulentos, sórdidos e difamatórios feito pelo Sistema Mirante – aí se inclui a Televisão – ao ex-governador falecido Jackson Lago, do mesmo partido do citado vereador e até então seu líder maior e da oposição enquanto esteve vivo? É consenso, entre as pessoas mais próximas a Lago, que a família Sarney e seus veículos de comunicação aceleram a morte de Jackson. As agressões vis, rasteiras e de cunho pessoal, feitas de forma sistemática, 24 horas por dia contra a imagem do ex-governador, durante o seu governo e na última eleição em que se candidatou, agravaram o seu quadro de saúde. Sua morte foi ocasionada pela maldade das mentiras propaladas pelos miranteanos, a mando do senador José Sarney e de sua filha. Isso o vereador parece ter esquecido (ou quis esquecer, tudo em favor de suas conveniências).

Hoje, a vítima é o prefeito João Castelo, do qual o vereador, que é presidente municipal do PDT, é aliado e defensor na Câmara. Ou seja, a homenagem do vereador a TV Mirante, foi nada menos que uma “homenagem” a morte de Jackson Lago, que deve está se revirando no túmulo, e uma ofensa à sua família, aos pedetistas e verdadeiros oposicionistas.

Foi, também, volta-se a repetir, um desserviço a população e as forças de oposição, que a por momento crítico buscando a unidade depois de o seu líder maior ter partido no ano ado. Vamos ver se a homenagem serve, ao menos, para imunizar o nobre vereador dos ataques da mídia do clã sarneysista. É justo, tamanho o sacrifício e exposição do parlamentar.