Crime no Uniceuma

Do Blog do JM Cunha Santos

Um jornalista precisa ter tanta responsabilidade pública quanto um parlamentar, um promotor ou um juiz. As coisas precisam ser ditas e feitas claramente, posto que formar opinião, esclarecer fatos, pressupõe mais do que simplesmente dizer o que se pensa.

Houve um crime no Ceuma. E é o mais grave crime que a história da Educação registrou nesse Estado, se não no país. Se imaginarmos que existem advogados que não são advogados atuando nos fóruns, dentistas que não são dentistas fazendo escavações nas bocas de inocentes, que existem médicos que não são médicos mexendo nas tripas alheias, psicólogos que não são psicólogos reinventando as cabeças dos outros, será possível construir a mais fantástica obra de ficção – que ficção não é – a partir desse crime.

Trata-se de um crime capaz de arrepiar o próprio Sidney Sheldon, de ressuscitar as rocambolescas histórias de Agatha Cristhie. A simples prisão de um suspeito chamado Guru não finaliza o que há de hediondo por trás dessa fraude. Por conta dela, inocentes podem estar indo parar na cadeia e criminosos sendo libertados na esteira da má formação de operadores do Direito que impunemente ostentam títulos roubados; por conta dela, pessoas podem estar tendo seus males agravados e até morrendo em mãos de açougueiros que compraram diplomas. E isso é tão hediondo quanto falsificar remédios de pacientes com doenças letais.

Prender Guru, no caso agente ivo de uma corrupção assassina, é apenas o início de uma operação policial. É preciso caçar e prender os falsos médicos, os falsos advogados, os falsos profissionais todos formados por essa Universidade que estão atuando no Estado e fora dele.

Percebe-se, entretanto, que uma parte da imprensa se apressa em inocentar a direção do Uniceuma de toda responsabilidade nesse crime e também está sendo criminosa. No mínimo foram negligentes, se não há parâmetros de tamanho barbarismo nas restantes universidades do país. Os Ministérios da Educação e da Justiça precisam intervir nessa história. Praticaram um crime tão hediondo que, como por geração espontânea, será a origem de outros milhares de crimes no Maranhão e no país.

O Uniceuma e a mercantilização do ensino

Do Blog do JM Cunha Santos

Outdoor questiona ensino do Uniceuma

Imaginemos a seguinte cena: uma sala de cirurgia decorada e atapetada ao melhor bom gosto, um caríssimo hospital particular de primeira linha, um médico coadjuvado por enfermeiras e residentes, aparelhos anunciando a inevitável presença de tecnologias de última geração na área da medicina. E o médico pergunta ao paciente:

– Pronto para a cirurgia, senhor?

– Depende. O Dr. não foi formado pelo Uniceuma, foi?

– Não. Não fui. Pare com isso.

– Mostre seu diploma. Tem que me provar que não é graduado nem pós-graduado pelo Uniceuma.

A pressa de alguns setores da imprensa na defesa do Uniceuma é suspeita. Mas antes de inocentar o Uniceuma é preciso refletir que o ambiente de mercantilização do ensino superior, evidente nesta Universidade, é propício a esse tipo de fraude e outros que ainda poderão ser detectados.

Todos sabem que Centros como o Uniceuma subordinam a educação ao poder econômico de seus clientes, em tal ritmo de degradação que as melhores notas do vestibular são os comprovantes de renda, d’onde se infere que no Brasil as próprias instituições universitárias privadas fraudam seus concursos.

O Uniceuma é a escola dos filhos de prefeitos, dos herdeiros da Justiça e dos herdeiros da política do Maranhão, o centro superior de ensino de play boys tupiniquins com o a dinheiro público.

Ao comentar sobre as fontes de financiamento da educação no Brasil, estudiosos refletem que as vagas no ensino superior tornaram-se politicamente necessárias à manutenção do poderio econômico das elites dominantes. Por esse caminho, a educação traslada-se à condição de mercadoria, o que leva a conclusões tão sérias quanto a do professor Milani: “É comerciante quem busca satisfazer o gosto de seus clientes; é professor quem busca contradizer e mudar o gosto de seus clientes”.

Concluíram rápido demais que a fraude no Uniceuma foi uma ação criminosa praticada por pessoas alheias ao ambiente acadêmico. Nem pensar. Ela foi praticada, paga e muito bem paga para atender aos interesses de clientes preferenciais do Uniceuma e, pelo menos por enquanto, nada garante que tenha ocorrido pela primeira vez.

A cena imaginada no início desse artigo remete à possibilidade de que existam açougueiros diplomados escarafunchando órgãos vitais dos pacientes, rábulas sem formação atuando nos tribunais, mecânicos de última hora operando altas tecnologias e sabe Deus que outros tipos de profissionais no mercado de trabalho, já que o Uniceuma, com 21 anos de atividade, abriga mais de 15 mil alunos.

Depreende-se, então, que este é o mais grave fato desabonador da educação e da formação profissional superior maranhense. Portanto, não há que se restringi-lo a um mero caso de polícia. Ninguém sabe ainda há quanto tempo essa quadrilha age no banco de dados dessa Universidade, se age somente nela ou se há reitores, pró-reitores, diretores, professores com ela envolvidos. O que se sabe é que, a despeito da lei da oferta e da procura, toda e qualquer mercadoria – mesmo que seja ela a educação – será embrulhada e vendida a quem pagar melhor.